Editorial

Brasil, e agora?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

O Brasil passa a ter dois presidentes da República. Um, no exercício do cargo; a outra, afastada de suas funções. Tal quadro resulta de um longo processo que vem se arrastando desde dezembro do ano passado, quando o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou a denúncia com pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, proposta pelos advogados Hélio Bicudo (ex-PT), Miguel Reale Júnior e Janaina Pascoal, sob a chancela do PSDB.
O ato que culminou com o afastamento por até 180 dias da presidente Dilma Rousseff encerrou-se no início da manhã de ontem, quando o plenário do Senado da República admitiu o processo por 55 votos a favor e 22 contra. Foi uma longa, senão a mais longa, sessão do Senado, iniciada na manhã de quarta-feira e adentrando a madrugada de quinta-feira. Mais de 70 dos 81 senadores inscreveram-se para encaminhar a votação pró e contra o parecer do relator AntonioAnastasia (PSDB-MG), propondo o impedimento da chefe do Executivo.
Após a decisão tomada pelo plenário do Senado, os defensores do impeachment comemoraram, enquanto os parlamentares ligados ao Governo Dilma, que agora passam a atuar na oposição ao Governo Temer, prometeram trabalhar incansavelmente, não contra a nova administração, mas em defesa das mudanças conquistadas pelo governo petista ao longo dos últimos 13 anos. Essa foi uma das teses do senador Humberto Lucena (PT-PE), ao encaminhar o seu voto na tribuna do Senado.
A presidente Dilma Rousseff foi notificada da decisão do Senado por Vicentinho Alves (PR-TO), primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado,em solenidade no Palácio do Planalto, por volta das 10h30. Imediatamente após ser oficialmente informada, a presidente afastada promoveu sua última solenidade pública, acompanhada por seu ministério, além de assessores e do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Num pronunciamento de 15 minutos, ela fez um relato de sua carreira política, desde a luta contra a ditadura, passando por sua atuação no primeiro governo Lula até ser eleita a primeira mulher presidente do Brasil.
“Eu já sofri a dor invisível da tortura. A dor aflitiva da doença. E, agora, eu sofro mais uma vez a dor, igualmente inominável, da injustiça. O que mais dói, neste momento, é a injustiça. O que mais dói é perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política. Mas não esmoreço”, disse a presidente afastada. Ela também destacou que pode ter cometido erros na sua administração, “mas não cometi crime”.
O vice-presidente Michel Temer foi notificado do afastamento da presidente Dilma Rousseff por volta das 11h30 e se tornou oficialmente presidente interino enquanto durar o processo de impedimento no Senado, por um período de até 180 dias. A notificação foi entregue a Temer no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, pelo senador Vicentinho Alves (PR-TO). O senador tocantinense revelou que Temer não fez nenhum comentário após ser notificado, mas disse que ele está muito entusiasmado.
Os dois maiores obstáculos que o presidente em exercício terá de enfrentar logo de saída são as finanças do Estado, e costurar acordos que lhe garantam a maioria no Congresso, para que possa começar a governar. Este seja talvez um dos maiores entraves neste momento, dado o leque de apoio de partidos que lutaram a favor do impeachment da presidente Dilma, e cada um defende o seu quinhão no bolo governista. O próprio Temer chegou a admitir, extraoficialmente, que reduziria o ministério de 32 para 22 pastas, mas esse tema não foi concluído até ontem.
O novo governo terá de enfrentar muitos desafios na área econômica. As consequências da crise explodem nos estados e municípios e incidem no bem-estar dos cidadãos. Há um calote consentido pela Justiça em obrigações devidas por governos estaduais à União.
Fala-se também na redução de benefícios que podem ser anulados, e elevação de impostos. Enfim, ninguém que faz contas descarta a criação de tributos (como a CPMF) ou a elevação de existentes.

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