Artigo

A difícil arte de dizer não

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49

Sou do tempo em que se compreendia um simples não pelo olhar.

Minha mãe, que tinha as rédeas da casa, pois meu pai era mais complacente com as coisas. Bastava ela olhar mais firme para nós, para entendermos que aquilo não era o certo, ou para mudar de atitude rapidamente.

Ainda menino, quando aos domingos, nossa mãe nos arrumava para fazer visitas nas casas de parentes, com direito a tomar a benção na entrada e na saída, e com as advertências prévias de como se comportar diante de cada situação.

Ao chegar na casa do tio, da tia, ou do padrinho e madrinha, "nada de sair correndo, nada de falar alto, ou comer muito, pois isso é feio, e ainda vão pensar que não sei educar vocês", eram as recomendações de praxe. Não dava muito tempo após nossa chegada, para mamãe colocar em nós seus olhos de reprovação, seja por queriam subir a escada correndo, seja por que víamos um brinquedo novo, que nos fascinava. Comer, então? Aí que os olhos falavam mais ainda, a cada vez que enchíamos as mãos para pegar pedaços de bolo ou copos de Cola Jesus.

As roupas que chegavam impecáveis, logo estavam amarrotada e sujas.

Voltávamos para casa quase sempre com a orelha vermelha e a promessa de que “não vêm mais”, mas no domingo seguinte estávamos todos na casa de outro parente. Lembro de uma vez que ao voltar para casa, já no banco traseiro do Gordine de papai, ela com o braço estendido, voltado para trás, querendo me alcançar, para me dar uma “bisca”, pois tinha derrubado meu irmão menor da bicicleta para poder andar mais, e o berreiro foi de alguns decibéis dignos de furar os tímpanos. E, se tinha uma coisa que minha mãe odiava era choro de criança, ainda mais na casa dos outros.

Conto isso, pois além de ser reminiscências de infância, dessas que marcam a vida para sempre, vejo hoje a dificuldade de país e mães de dizerem "não" para os filhos, mesmos os muito pequenos, de meses.

Tenho assistido cenas, em restaurantes, supermercados, aeroportos, constrangedoras de país e mães acuados, e aturdidos por não saberem dizer não aos seus rebentos. Fiz um voo longo de Dubai para Guarulhos, em que uma criança de uns cinco anos fez tanta cena e dramas, e os país impassíveis, sem tomar uma atitude, ou mesmo um não "podes fazer isso". Só resolveu quando o menino caiu no sono, já que foram 15 horas de voo.

Recentemente vi pela TV, em um desses programas dominicais, um menino de sete anos, que foi tirado da sala de aula, e levado para a secretaria da escola pública, onde estudava, e ao chegar ali secretaria, quebrou tudo, jogando armários no chão, e a professora filmou aquelas tristes cenas com o celular, para mostrar a desobediência da criança e se resguardar de possíveis e futuras cobranças.

Não são crianças mal-educadas, mas educadas mal.

Difícil você conviver em um mundo cada vez mais mal-educado, pois as pessoas têm medo de dizer "isso está errado, isso não pode".

Aprendi a ouvi nãos pela vida toda, e não tenho nenhuma dificuldade em dizê-los.

Pior do que não saber dizer não, é corrigir pessoas depois de adultas que acham que o mundo gira em torno delas, ou que nunca sabem o quê são deveres, mas apenas direitos.

Então, lembre-se, o não é uma palavra curta que resolve muitos problemas compridos.

Está crônica é dedicada a Maria da Conceição Nunes e Silva, que se viva estivesse faria 83 anos, e partiu aos 43 anos, deixando uma saudade que não tem tamanho, e só aumenta com a passagem do tempo. Foi a pessoa que vi falar "não" sem problemas ou traumas.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo e palestrante

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