A série Bairros Independentes se encerra com destaque ao Anjo da Guarda. Situado na área Itaqui-Bacanga, ele é um dos 60 bairros desse eixo e se destaca por sua grandiosidade, tanto pela densidade demográfica quanto pelo comércio, e principalmente sua gente, que, unida, fez os poucos sítios e casas de taipa se desenvolverem ao ponto de se transformarem no que são hoje.
A área conhecida hoje como Anjo da Guarda era, antes da instalação do bairro, uma localidade chamada Itapicuraíba, que na língua tupi-guarani quer dizer “pedra miúda de pequeno igarapé”. A área, formada por sítios, recebeu outros moradores quando famílias oriundas do bairro Goiabal foram transferidas para a região.
No ano de 1968, ocorreu um grande incêndio nesse bairro. O Governo do Estado criou a
Comissão Executiva de Transferência de População (Cetrap), com a finalidade de coordenar a implantação da cidade industrial do Itaqui e realizar a transferência das famílias para o novo local de moradia. Depois disso, famílias de uma área de desapropriação no São Cristóvão também foram alocadas nesse ponto do eixo Itaqui-Bacanga.
A construção da Barragem do Bacanga facilitou o acesso entre o Centro e a região e impulsionou a ocupação desordenada. Com o crescimento demográfico, o bairro se desenvolveu e atraiu investimentos comerciais e sociais.
Tudo aqui era mato. A igreja era só uma capelinha. Nessa época, nós vivíamos num paraíso, aquilo era uma beleza" Vera Lúcia Barros de Souza, presidente do Clube de Mães do Anjo da Guarda
Desenvolvimento
Vera Lúcia Barros de Souza, presidente do Clube de Mães do Anjo da Guarda, foi umas das primeiras moradoras da região e lembra o quanto o bairro era diferente do que é hoje. “Tudo aqui era mato. A igreja era só uma capelinha. Nessa época, nós vivíamos em um paraíso. Aquilo era uma beleza. Ninguém matava ninguém e, se um vizinho brigava com outro, ele era mudado de lugar”, lembrou-se.
Ela recorda ainda que a união entre os moradores foi essencial para que o bairro se desenvolvesse e o prédio do clube de mães fosse construído. “Era uma comunidade unida que fazia vários mutirões. Todo mundo se ajudava. Se uma saía para trabalhar, o outro vigiava a casa. Tinha umas senhoras que iam pescar e traziam camarão. Eu ia para o mercado e trazia banana e farinha e os homens ajudavam a fazer os baldrames, até que o governo fez o prédio”, recordou-se.
Com esse mesmo esforço em prol da comunidade, caracterizado por mutirões e doações, foram construídas a Maternidade Nossa Senhora da Penha, que está sob cessão do Governo do Estado, e a Igreja Católica do bairro.
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Empreendimentos
Com o bairro se desenvolvendo aos poucos e o grande crescimento demográfico, lojas, agências de banco e de correio, supermercados, farmácias e outros grandes empreendimentos passaram a se instalar no local. Muitos moradores também viram no comércio na comunidade a chance de garantir uma fonte de renda.
Muitos prosperaram no comércio no bairro. Uma dessas pessoas é Maria Goreth Fernandes. “A gente tinha um depósito de bebida e vivia também do aluguel de uma casa aqui no bairro. Depois, veio a crise e perdemos o inquilino. Como eu sempre tive um apreço pela cozinha, fazia bolos, até que me perguntaram por que eu não fazia almoço”, lembrou.
A partir daí, ela começou a fazer as quentinhas e o marido entregava de bicicleta. Depois, por incentivo dos clientes – principalmente trabalhadores de grandes empresas -, o casal abriu um pequeno restaurante, que foi crescendo e se tornou um dos principais do bairro. Depois de 29 anos, hoje eles têm um restaurante e também uma casa de eventos com serviço de buffet. “Aqui dentro do bairro também tem uma demanda para eventos. Recebemos muitas festas de casamento, aniversários, confraternização e reuniões de empresa porque está mais perto dos clientes”, disse.
Carências
Apesar do desenvolvimento do bairro, as dificuldades enfrentadas atualmente pelos moradores não são poucas. O presidente da União de Moradores do Anjo da Guarda, Fabrício da Silva Caetano, mais conhecido como professor Messias, ressaltou que a comunidade tem demandas nas mais variadas áreas.
Uma delas é quanto às vagas em creches. Não existem creches públicas no local. Por isso, as mães que precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos, recorrem às creches comunitárias, que também não suficientes para suprir toda a demanda.
O transporte público também é alvo constante de reclamações. “A alternativa que ainda vale à comunidade são os carrinhos de táxi-lotação. Eles são perseguidos, mas a comunidade aceita porque nós vemos que ficam todo tempo lotados. Começou aqui, passou para a Vila Embratel e hoje está em outros bairros, como o Maiobão. Se nós tivéssemos transporte de qualidade, até quem tinha seu próprio carro pegava um ônibus. Mas não é assim. Os passageiros andam pendurados nos ônibus”, ressaltou.
BAIRRO - EM NÚMEROS*
6 bairros constituem o distrito urbano do Anjo da Guarda (Anjo da Guarda / Fumacê / Gancharia / Vila Bacanga / Vila Dom Luís / Vila Isabel)
20.288 domicílios foram contabilizados no Censo Demográfico de 2010
9.488 tinham como fonte de abastecimento a rede geral de distribuição
222 não tinham banheiro ou vaso sanitário
*Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Saiba Mais
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