Situação análoga à escravidão

Maranhense é resgatada após ser mantida em cárcere privado por 15 anos no Piauí

Janaína dos Santos, de 27 anos, é natural de Chapadinha, a 245 km de São Luís.

Imirante, com informações do g1 PI

Atualizada em 25/05/2023 às 00h53
Janaína dos Santos foi resgatada na última terça-feira (23).
Janaína dos Santos foi resgatada na última terça-feira (23). (Reprodução / TV Clube)

TERESINA - Uma maranhense, identificada como Janaína dos Santos, de 27 anos, foi resgatada pela Polícia Civil na última terça-feira (23), em uma residência no bairro Ilhotas, Zona Sul de Teresina, após ser mantida em cárcere privado e em situação análoga à escravidão por 15 anos. A servidora pública, empresária e ex-candidata a deputada federal no Piauí, Danielly Medeiros, que é madrinha de Janaína, está presa temporariamente pelos crimes.

De acordo com informações policiais, Janaína dos Santos foi submetida a trabalho análogo à escravidão desde os 12 anos, quando ela foi entregue pelos pais durante um feriado da Semana Santa para passar alguns dias em Teresina com Danielly Medeiros, que é madrinha da vítima e prima da mãe dela. Anteriormente, a jovem residia com os pais e seis irmãos mais novos no município de Chapadinha, a 245 km de São Luís.

Em relato à Polícia Civil, Janaína dos Santos disse que era agredida por Danielly Medeiros, além de ser obrigada a fazer todas as tarefas domésticas e cuidar dos dois filhos da suspeita, sem qualquer remuneração. A maranhense afirma ainda que não foi mais à escola, não aprendeu a ler e escrever, não tinha acompanhamento médico e era impedida de sair de casa.

"Nunca recebi salário, sempre vivi sem ajuda, nem pra comprar roupa, ela não me pagava um centavo. (Para comprar produtos de higiene pessoal) eu pedia ao companheiro dela, ele me dava dinheiro pra eu comprar. Eu recebia tudo usado, ela só me dava quando não prestava mais. Ontem mesmo ela falou tanto nome que doeu meu coração, e eu nunca respondia ela, ela me xingava, mas eu não xingava, não dizia nada. Eu não tinha amigos, não podia sair, a última vez que saí foi segunda-feira, mas ela tomou minha chave, me punia. Eu só saía pra comprar coisas e voltar pra casa. Eu sentia tristeza, chorava sozinha, não gostava da minha vida. Pedia a Deus que me tirasse dali. O pior dia foi na segunda-feira, quando ela ameaçou arrancar meu coração, ela quebrou um casco de cerveja, chegou bem perto de mim, e disse que ia tirar meu coração", afirmou Janaína, em entrevista ao g1 Piauí.

Janaína dos Santos conta que tentou escapar da casa de Danielly Medeiros algumas vezes, mas diz que tinha muito medo de ser morta por ela. A mãe, Maria do Socorro, que é prima e comadre de Danielly, afirma que tentou contato com a filha, mas sempre foi impedida de falar com ela e também recebia ameaças. "Eu sou pobre, não tenho advogado, fiquei com medo", explicou Maria.

O resgate de Janaína dos Santos só foi possível após iniciativa do namorado dela, o mecânico Osmar Rodrigues, de 58 anos, que buscou a família da vítima em Chapadinha para fazer a denúncia na polícia, que resgatou a maranhense na terça-feira (23).

"Eles tiveram um namoro rápido, e ele deu um celular pra ela, porque ele não conseguia falar com ela de outra forma. Quando a Danielly viu, tomou o aparelho, obrigou a vítima a ir à casa do namorado devolver. Ela (Danielly) ameaçou pra ele não procurar ela. Quando ele não teve mais contato, ele começou a buscar ajuda. Vamos buscar os direitos dela na Justiça, já que a questão criminal já está em andamento com o inquérito policial. A suspeita está presa temporariamente e logo deve ser solicitada a prisão preventiva. Vamos pedir indenização por danos morais, por todo o trauma causado, as ameaças, os anos de vida e convivência com a família que lhe foram tirados. Além dos direitos trabalhistas dos últimos cinco anos (conforme prazo de prescrição previsto em lei), como salário, férias e 13º", afirmou a advogada Eliana Leal, advogada da família de Janaína.

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