Voltamos ao tempo da barbárie?

Impunidade justifica o linchamento? Veja a discussão sobre o assunto

Para o delegado Guilherme de Souza Filho, a sociedade não pode retroagir para a lei de Talião.

Liliane Cutrim/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h41

SÃO LUÍS – Homicídios, estupros, assaltos, espancamentos, entre outras formas de violência, têm aumentado significativamente no Brasil. Segundo o Mapa da Violência de 2014, só o número de homicídios no Brasil cresceu 13,4% em 10 anos. No Maranhão, o aumento foi de 203,6%. Mas, o crescimento da criminalidade e a falta de punição aos culpados podem justificar a ação de populares que espancam supostos criminosos até a morte?

Veja a opinião da psicologia social Rosângela Guimarães Rosa, que fez uma análise sobre o assunto, durante uma entrevista ao Imirante.com em 2014.

Essa discussão ganhou destaque nos últimos dias, após a morte de Cleidenilson Pereira, 29 anos, que foi amarrado em um poste e linchado por populares, após, supostamente ter tentado assaltar um bar no bairro do São Cristóvão, em São Luís. Cleidenilson estava na companhia de um adolescente, que também foi espancado, mas não morreu.

 Foto: Biné Morais/O Estado
Foto: Biné Morais/O Estado

Além desse crime bárbaro, só nos primeiros 10 dias do mês de julho deste ano, já foram registrados, na Região Metropolitana de São Luís, três tentativas de linchamento.

Relembre os casos

Homem é linchado por populares após tentativa de assalto

Homem tenta roubar moto e quase acaba linchado em Paço do Lumiar

Suspeito de assalto sofre tentativa de linchamento

Após o Imirante.com noticiar o caso de Cleidenilson, muitas pessoas se manifestaram sobre o assunto nas redes sociais. Para uns, a ação dos populares foi justificável, já que a os cidadãos não aguentam mais sofrer com a violência. E, com frases do tipo “bandido bom, é bandido morto”, aprovaram a morte violenta. Já outros se revoltaram com a cena de violência e classificaram o crime como bárbaro.

Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook

Para o delegado Guilherme de Souza Filho da Delegacia de Homicídios, um dos responsáveis pelo caso, o linchamento é uma ação de criminosos e totalmente injustificada, pois, quem comete tal crime é assassino.

 Delegado Guilherme de Souza Filho. Foto: Liliane Cutrim/Imirante.com
Delegado Guilherme de Souza Filho. Foto: Liliane Cutrim/Imirante.com

“Aí existe uma associação criminosa. Várias pessoas se associam naquele momento para praticar um crime. Eles usam o argumento de que a polícia prende e a Justiça solta, mas isso não existe. Cada um tem o seu papel: a polícia investiga; o Ministério Público acusa; a defesa defende; e o judiciários julga e aplica a pena. É assim que funciona o Estado democrático de direito. Se não for assim, nós vamos retroagir para o Código de Hamurabi com a lei de Talião, que funcionava à base do ‘olho por olho, dente por dente’. Não se pode retroceder a esse ponto”, defende o delegado Guilherme Filho.

Aí existe uma associação criminosa. Várias pessoas se associam naquele momento para praticar um crime.
Delegado Guilherme de Souza Filho sobre casos de linchamento.

O Imirante.com já discutiu, no programa Bate-Papo, a complexidade do linchamento. Na época, a doutora em Ciências Sociais Vera Salles e o então secretário de Segurança Pública do Maranhão, delegado Marcos Afonso Júnior, discutiram sobre o que leva um cidadão a se unir para matar um suposto criminoso, além de falar sobre o sentimento de impunidade e da dificuldade da polícia em investigar casos de linchamento.

Reveja o programa

Linchamento: Brasil chegamos ao tempo da barbárie?

Investigação do caso Cleidenilson

De acordo com o delegado Guilherme de Souza Filho, o caso não é tão simples de resolver, já que existem vários autores, mas também não é algo extremamente complicado ao ponto de não identificar os criminosos.

“Não é um crime difícil de resolver e sim complexo, já que existem vários autores. E nós temos que individualizar a conduta de cada um e o intento de cada um. Em casos como esse, quando a polícia chega encontra um corpo com várias pessoas ao redor. De repente, no meio dessas pessoas, tem um ou vários assassinos. Nesse caso específico, vamos analisar as imagens de videomonitoramento, falar com vizinhos, com a vítima que sobreviveu, entre outras ações. Mas, o caso será resolvido e os culpados deverão ser punidos”, afirma o delegado.

Veja como anda a investigação do caso:

Polícia ainda não localizou nenhum dos envolvidos em linchamento

Vinte pessoas participaram do linchamento de Cleidenilson

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