Opinião

A confiança do brasileiro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Neste último final de semana de setembro, mês que foi marcado, desde o início, por ameaças, discussões, questionamentos, agressões verbais e a repercussão negativa das declarações do presidente Bolsonaro, uma pesquisa do Datafolha revela que caiu a confiança do brasileiro em relação a diversas instituições do país.

A pesquisa do instituto, feita dos dias 13 a 15 deste mês, mostra que, em relação ao levantamento anterior, realizado em julho de 2019, subiu a desconfiança da população acerca do Executivo, Legislativo e Judiciário, além de outros atores institucionais, como o Ministério Público.

A Presidência da República foi a instituição com a maior piora: tinha a desconfiança de 31% dos entrevistados em 2019 e agora está com 50%. O Datafolha, nesta rodada, ouviu presencialmente 3.667 pessoas em 190 municípios brasileiros. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

No ranking da confiança popular, novamente o primeiro lugar ficou com as Forças Armadas, com 76%. A desconfiança, porém, aumentou numericamente em relação a dois anos atrás, atingindo a taxa mais alta da série histórica iniciada em 2017. Eram 19% em 2019 e agora são 22%.

As Forças, pilar do governo, estiveram no centro de controvérsias políticas neste ano de uma maneira como não se via desde a ditadura militar. Em março, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica foram trocados simultaneamente por Bolsonaro.

Vale lembrar que recentemente o presidente também avançou em retórica com tons golpista, despertando temores de que tentará provocar confusão, com a adesão de militares, na campanha eleitoral do próximo ano. Um símbolo dessa incerteza foi o desfile de blindados feito na Esplanada dos Ministérios em 10 de agosto, mesmo dia da votação na Câmara de proposta sobre o voto impresso bandeira bolsonarista.

Já se sabe que uma das caraterísticas do presidente é desconsiderar as suas próprias declarações. Dois dias após um discurso golpista no 7 de Setembro, no qual fez um desafio explícito ao STF (Supremo Tribunal Federal), o Bolsonaro (sem partido) divulgou uma carta aberta na qual recua e declara respeito às instituições brasileiras e diz que "suas palavras decorrem do calor do momento”.

No momento em que se encontra isolado politicamente e em baixa nas pesquisas sobre a avaliação de seu governo e a corrida eleitoral de 2022, o presidente disse à revista Veja que não existe nenhuma chance de tentar um golpe no país, ou seja, partindo dele a chance de um golpe é zero. E diz que por parte da oposição existem 100 pedidos de impeachment dentro do Congresso.

Ao contrário do que o presidente diz agora, pesquisa do Datafolha revela que a retórica golpista de Bolsonaro pode se tornar realidade e existe a chance de o presidente tentar um golpe de Estado. A agenda antidemocrática de seus apoiadores é percebida assim pela maioria, assim como ações dos três Poderes são vistas como ameaças.

O apoio à democracia, por sua vez, segue sólido: 70% dos ouvidos pelo Datafolha dizem crer que o sistema é o melhor para o país, o segundo maior nível da série histórica iniciada em 1989. Já o contingente que admite a ditadura como opção está no menor patamar, 9%.

Na recente entrevista à Veja, ao falar sobre as eleições de 2022, disse que não irá "melar" a disputa e até elogiou decisões recentes do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. (TSE).

O tom da entrevista de Bolsonaro reflete um presidente tentando dar sinais de moderação desde os atos do 7 de Setembro, o que nem aliados acreditam que irá durar muito tempo.

A mudança de tom do presidente após repetidos xingamentos a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) desagradou grupos bolsonaristas, foi elogiada pelos presidentes do Senado e da Câmara, mas vista com ceticismo pelos magistrados. À Veja, Bolsonaro disse que 'extrapolou' no 7 de Setembro e que esperavam que ele fosse chutar o pau da barraca. “Extrapolei em algumas coisas que falei, mas tudo bem".


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