Dalmir Neto - Cordelista

A busca de sonhos em folhas de cordel

Estudante confecciona livretos à mão e venda nas ruas para conseguir dinheiro para acompanhar aulas online

Ana Coaracy / Editora de Cidades

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Depois que celular quebrou, as prioridades mudaram e cordéis vão garantir novo aparelho; os outros sonhos, com perseverança, se realizarão mais tarde
Depois que celular quebrou, as prioridades mudaram e cordéis vão garantir novo aparelho; os outros sonhos, com perseverança, se realizarão mais tarde

Barreirinhas - Se você passar na praça da Igreja de Nossa senhora da Conceição, no centro de Barreirinhas, no finzinho da tarde, certamente encontrará Dalmir Neto e poderá se encantar com sua inteligência e boa conversa.

Dalmir é um jovem de 17 anos, óculos redondos e sorriso constante, que gosta de literatura, de conversar e sonhar. Ele encontrou nos cordéis sua inspiração e hoje os escreve, e oferece à venda por R$ 5,00, nas praças da cidade.

Depois de contar um pouco da sua história, ele declama sua poesia e se diverte com as rimas e gracejos do texto.

De boa conversa, o garoto conta que "pegou gosto" por escrever aos 10 anos, quando foi participar de uma Olimpíada de Literatura na escola.

Seu exemplo e incentivo foi o irmão que, dois anos antes, então com 10 anos, conseguiu uma medalha de bronze na etapa nacional da Olimpíada de Literatura, em Fortaleza, no Ceará. Hoje, este irmão faz faculdade de Biologia.

"Quando meu irmão participou da olimpíada e passou para a fase nacional, viajou de avião, conheceu outro estado, e isso, para uma criança, é muito. Eu também queria e, dois anos depois, foi a minha vez de tentar. Não consegui ganhar a olimpíada, mas aprendi a gostar de literatura", explicou o estudante.

A partir daí, Dalmir Neto não parou mais de ler e, principalmente, escrever. Seus cordéis são meticulosamente escritos, com rima criativa, expressando seus pensamentos e gerando reflexão. Além do texto, ele tem o cuidado de fazer as ilustrações. Tudo é feito a mão e depois reproduzido em cópias, como os tradicionais cordéis. Os livretos são montados e, finalmente, comercializados por ele.

Livretos são confeccionados por Dalmir Neto
Livretos são confeccionados por Dalmir Neto

Prioridades
A ideia de escrever e vender seus livrinhos de poesia em cordel, partiu da vontade de comprar uma flauta. Autodidata, o jovem aprendeu a tocar o instrumento sozinho, com uma flauta que ele mesmo confeccionou, usando um pedaço de cano.

É ela que ele usa até hoje, e deve continuar usando, porque sua prioridade precisou mudar quando o telefone celular quebrou. Agora, o dinheiro arrecadado com a venda dos cordéis está sendo guardado para comprar um novo aparelho, mas ele não se intimida e parece não ter pressa, mas muita perseverança e satisfação pelo que vem fazendo. "Fica mais fácil assistir as aulas online e estudar", comentou.

Por causa da pandemia, as aulas do IFMA, onde estuda, tiveram de ser adaptadas. São oferecidas online ou por meio de material impresso. Sem seu celular, Dalmir tem usado o aparelho do irmão ou da mãe emprestados, porém, nem sempre estão disponíveis, então o rapaz resolveu dar seu jeito.

E é com sua boa conversa e muita vontade de conseguir seus objetivos que anda pela cidade oferecendo seus escritos aos turistas. No final de seus textos, Dalmir Neto deixa seus contatos em rede social (@dalmir_neto) para trocar ideais e fazer amizade.

Morador do povoado Laçador, que, segundo ele, já é praticamente um bairro de Barreirinhas, Dalmir Neto tem planos. Quando terminar a escola, sonha em fazer faculdade de Letras, o que não é muito de se estranhar, já que mostra total apreço e cuidado com a língua e a literatura.

E ele segue pelas praças e ruas de Barreirinhas oferecendo seu trabalho, deixando viva a literatura de cordel e a esperança na juventude, enquanto sonha com um futuro melhor.

Textos expressam seus pensamentos e trazem reflexões
Textos expressam seus pensamentos e trazem reflexões

SAIBA MAIS

A Literatura de Cordel é uma manifestação literária tradicional da cultura popular brasileira, mais precisamente do interior nordestino.

Os locais onde ela tem grande destaque são os estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte e Ceará. Por esse motivo, o cordel nordestino é um dos mais destacados no país.

No Brasil, a literatura de Cordel adquiriu força no século XX, sobretudo entre 1930 e 1960. Muitos escritores foram influenciados por este estilo, dos quais se destacam: João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.

  • Principais características da literatura de cordel
  • Tradição literária regional;
  • Oposta à literatura tradicional;
  • Gênero literário em versos;
  • Temas populares e da cultura popular brasileira;
  • Linguagem popular, oral, regional e informal

Esse tipo de manifestação tem como principais características a oralidade e a presença de elementos da cultura brasileira. Sua principal função social é de informar, ao mesmo tempo que diverte os leitores.

Oposta à literatura tradicional (impressa nos livros), a literatura de cordel é uma tradição literária regional. Sua forma mais habitual de apresentação são os “folhetos”, pequenos livros com capas de xilogravura que ficam pendurados em barbantes ou cordas, e daí surge seu nome.

Fonte: todamateria.com.br

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