Dia Nacional do Ciclista

75 acidentes e um óbito de ciclistas foram registrados em São Luís neste ano

Na data em que se comemora o Dia Nacional do Ciclista, risco no trânsito e a falta de vias apropriadas ainda é uma realidade dos usuários do transporte alternativo

Bárbara Lauria / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
(Ciclistas em São Luís )

São Luís – Nesta quinta-feira, 19, se comemora o Dia Nacional do Ciclista, data em homenagem a Pedro Davison, jovem de 25 anos, morto após um atropelamento no Eixo Sul, em Brasília, em 2006. Pedro foi vítima de um motorista embriagado que dirigia com sua CNH vencida e em alta velocidade. 15 anos após o início da homenagem, a realidade de hostilidade no trânsito contra o ciclista ainda continua intensa, e é um risco par os usuários do meio transporte.

Em 2020, na cidade de São Luís, de acordo com a Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SMTT), durante o período mais rígido de restrições em razão da pandemia de Covid, foram registrados 116 acidentes e 01 óbito de ciclistas. Já em 2021, até agosto deste ano, com a flexibilização das restrições sanitárias, já foram registrados 75 acidentes com 01 óbito.

Estudos da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) apontam que 13.718 ciclistas morreram nos últimos 10 anos no Brasil e, dessas mortes, 60% foram motivadas por atropelamento. Ainda, aos cofres públicos, acidentes para tratar de ciclista traumatizados em colisão com motocicletas, automóveis, ônibus, caminhões e outros veículos de transporte, geraram um custo de 15 milhões por ano ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Thiago Kalebe, estudante, passou a andar de bicicleta em novembro de 2020 como uma forma de tratar sua ansiedade durante o período de isolamento. Ele conta, que por morar no Centro de São Luís, costumava a fazer o percurso pela ponte José Sarney até o Espigão, na Península, com frequência, mas, com o receio de acidentes de trânsito, o estudante começou a diminuir suas voltas de bicicleta.

“Os motoristas tendem a ser imprudentes e a não respeitar o ciclista. Já passei por várias situações nas quais quase fui atropelado, até mesmo de propósito. Uma vez eu estava andando pela avenida Camboa e um cara jogou o carro pra cima de mim. Então reduzi a frequência de voltas com esse receio”, conta o estudante, que ressalta a importância de vias adequadas para este tipo de mobilidade.

“Eu moro no centro, então amo ir daqui até o Espigão ou até a praia de São Marcos, passando pela Lagoa da Jansen. Porém, ao mesmo tempo tenho certo receio em fazer esse percurso por ter que passar pela ponte do São Francisco. A estrutura da ponte não passa muita segurança. Os dois lugares que considero que precisam de mais atenção, principalmente, Beira Mar e a ponte José Sarney, pois ambos são estreitos, com alta passagem de automóveis e não possuem uma ciclovia”.

Em nota a O Estado, a SMTT informou existem 36 km de ciclovias na capital, nos seguintes locais: Avenida São Luís Rei de França, Avenida Litorânea, área da Lagoa, Reserva do Itapiracó, Via Expressa, bairros Cohab e Península.

A secretaria ainda destacou que desenvolve ações destinadas ao apoio de ciclistas, tanto em eventos isolados, quanto em parceria com outros órgãos e secretarias. Além dessas ações, a pasta já está elaborando um projeto de implantação de novas ciclovias em outros pontos da cidade, conforme mapeamento já feito pela engenharia do órgão.

Por fim, a SMTT ressaltou que vai continuar ofertando aos grupos de pedal da cidade apoio à prática esportiva, garantindo a estrutura do espaço para passeio, demarcados e sinalizados, bem como o acompanhamento dos agentes de trânsito do órgão durante todo o percurso.

Ciclovias em São Luís

De acordo com a Prefeitura de São Luís, além dos 36km já existentes de ciclovia na capital, está sendo pensado como medidas a requalificação das ciclovias existentes; estabelecimento de conexão entre ciclovias, de forma a possibilitar um deslocamento seguro dos usuários. Além disso, o prefeito Eduardo Braide determinou expandir essa delimitação de faixas exclusivas para ciclistas para outras vias da capital.

Atualmente, de acordo com a SMTT, está em conclusão o projeto de implantação de ciclovias e ciclofaixas com objetivo de incentivar a mobilidade ativa.

Melhorias

De acordo com o especialista em prevenção de acidentes, Daniel Schnaider, algumas tecnologias e ações podem ajudar a fazer da bicicleta um meio de locomoção ideal e seguro. São elas:

- Tecnologia

“ Como os dados mostram, o maior vilão da bicicleta tem sido os veículos e seus motoristas, afinal os ciclistas não têm uma redoma que os protegem. Por isso, as ações devem ser voltadas aos carros também, e para isso, existe a IoT. Com dispositivos acoplados nos automóveis, como câmeras, nunca mais cenários como o do ciclista David, que teve seu braço arrancado na Avenida Paulista e o motorista fugiu, aconteceriam impunes. Dias de perícia para concluir o caso. Com o uso das câmeras, é possível entregar às autoridades exatamente o que aconteceu e verificar se aquele automóvel se envolveu em um acidente. E caso o motorista que cometeu o crime não possua a tecnologia, outros ao redor poderiam ter para filmar tudo.

É assim que acontece em acidentes com veículos que possuem a tecnologia. As câmeras voltadas para o exterior e interior são capazes de entregar imagens de minutos antes do acidente para que se saiba exatamente o que ocorreu.

Ainda, pode gerar alertas de aproximação de pessoas ou mesmo mudança de faixa, evitando que o condutor invada o espaço dos ciclistas. Com certeza, isso proporcionará segurança nas vias para quem está trabalhando ou apenas passeando com suas bicicletas”, conta o especialista.

- Malha de ciclovia

“Precisamos repensar na forma com que elas são construídas; não basta abrir um espaço, pintar e aprovar. As ciclofaixas devem ser projetadas pensando em segurança. Deve ser um espaço destinado aos ciclistas, com distancia suficiente que os assegurem, caso quedas aconteçam, e com sinalização apropriada, intercalando com pedestres e motoristas. Também com o uso de tecnologias é possível compreender o padrão daqueles que utilizam as vias para manter o convívio de mobilidade otimizado”, explica.

- Educação

“Reforçar a educação quanto a existência dessa parte da população nas aulas nos Centros de Formação dos Condutores (CFC) e ainda reforçar políticas públicas, através de campanhas, para que os ciclistas entendam a dinâmica do trânsito e não coloquem suas próprias vidas em risco”, destaca o especialista.

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