Dia dos Pais

A força do amor que dá leveza e mais sentido ainda à paternidade

Pais de pessoas com deficiência mostram como encaram o desafio diário de proteger e cuidar de seus filhos; responsabilidade, atenção, respeito e amor pelos presentes de Deus

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Para Crisanto Geraldo, cuidar de Moisés não é trabalho, é amor
Para Crisanto Geraldo, cuidar de Moisés não é trabalho, é amor

São Luís - Três homens com histórias de vida distintas, idades e profissões diferentes, mas que em comum têm o orgulho de serem pais de uma pessoa com deficiência. O que para muitos poderia seria motivo até de desespero, para eles não foi. Esses filhos e filhas que dependem deles para tudo, considerados presentes de Deus. Esses pais se desdobram no ofício da paternidade, mas o fazem com a leveza que só o amor consegue dar. Mais que pais, eles são super heróis anônimos, que se desdobram para doar a seus filhos não apenas seu tempo, mas muitos cuidados, atenção e acima de tudo amor a essas pessoas tão especiais.

Crisanto Geraldo Ferreira Oliveira tem 60 anos e três filhos: Bento (40 anos), Isaura (35) e Moisés (23). Os dois mais velhos são independentes e casados, e deram um neto e uma neta para ele e esposa Ionete. Mas é Moisés o caçula, para quem esse pai mais se dedica desde que nasceu e foi diagnosticado com autismo, além de uma deficiência mental.

O amor a Moisés é tanto, que o pai, que já trabalhou como vigilante, precisou abdicar de um emprego formal para poder se dedicar 100% ao filho, que depende dele para tudo. Do banho à comida, o rapaz, que não fala, precisa - e conta sempre - com esse paizão, da hora que acorda, até quando vai dormir.

“Cuidar dele não é um peso, é um ato de amor. Eu gosto de ajudar o meu filho e por ele faria tudo. Claro que, quando ele demorou a andar, bem novinho, levamos um choque ao saber do problema mental que ele tinha. Foi triste, no início, mas aceitamos de coração e desde então vivo para ajudar o Moisés. E a cada conquista dele, para mim, é uma grande vitória. Moisés é meu xodó e muito amado por toda a nossa família. Um menino calmo e amoroso. Quando se tem amor por um filho, tudo vale a pena”, diz ele, com amor e orgulho.

Assistido pela Apae de São Luís desde criança, antes da pandemia a rotina de Moisés era frequentar a sede da entidade de segunda à sexta-feira, das 9h às 10h30 diariamente. Seu Geraldo acordava cedo, banhava e alimentava o filho e saía de casa para pegar o ônibus com Moisés. Eles levavam em média 1h30 para ir de onde moram, em Paço do Lumiar, até a sede da Apae, no Outeiro da Cruz. E o mesmo tempo no trajeto de volta para a casa. Cansativo sim, mas segundo Geraldo valia cada minuto, pois Moisés é bem acolhido por professores e profissionais da Apae que o ajudam a viver e a se desenvolver.

“Foi com a ajuda dos profissionais da Apae que Moisés aprendeu a mastigar direito a comida e a andar melhor. E eu sempre do lado dele, vendo a cada dia esses pequenos gestos que ele aprende, e que para mim são enormes vitórias”, diz emocionado.

Devido à pandemia, as aulas presenciais foram substituídas pela forma remota, mas Geraldo e Moisés sonham com a hora em que poderão voltar a frequentar a Apae todos os dias.

O aposentado José Luiz da Silva se sente abençoado com a filha caçula Alenilce, que tem 39 anos
O aposentado José Luiz da Silva se sente abençoado com a filha caçula Alenilce, que tem 39 anos

Abençoado
O aposentado José Luiz da Silva, de 70 anos, também se sente abençoado com a filha caçula, Alenilce da Silva e Silva, atualmente com 39 anos, e que tem síndrome de Down.

Para ele, que também é pai de Alenildes da Silva e Silva, advogada de 43 anos, o exercício da paternidade é um presente de Deus. “É triste saber que há muitos casais que até se separam quando se deparam com a chegada de um filho com deficiência. No meu caso e da minha esposa Arionildes aconteceu o contrário, a chegada da nossa Leninha só uniu mais a nossa família. Eu e minha esposa fazemos tudo por ela, e a irmã também sempre a tratou muito bem. Digo que ser pai dessas duas filhas é como ganhar na loteria para mim”. Fala emocionado o pai, que vive para ajudar a sua filha a enfrentar os desafios do cotidiano, um dia de cada vez.

Para José Luiz a receita para ser um bom pai é simples. “Basta estar e ser presente de verdade. Estar junto dos filhos na saúde e na doença, dividir todos os momentos do cotidiano e ajudar no que puder para dar segurança e felicidade. É assim que vivo, me dedicando ao máximo para minhas filhas”, diz esse paizão cujo maior presente no Dia dos Pais é simplesmente ter saúde para passar a data, mais uma vez, ao lado das duas filhas e da esposa.

“Deus me escolheu para ser pai da Leninha e tento viver esse presente ao máximo”, diz José Luiz com amor e sabedoria.

José de Ribamar não esconde que Adryene é o xodó da família
José de Ribamar não esconde que Adryene é o xodó da família

Missão consciente
A missão de criar uma filha com deficiência também foi abraçada com devoção por José de Ribamar Asevedo Ataíde, 71 anos, ex-trabalhador da construção civil e hoje aposentado.

Na verdade, a missão foi uma escolha bem consciente dele e da esposa, Ângela. O casal, morador do Jardim Tropical, em São José de Ribamar, tinha quatro filhos naturais – Adriano, Adriana, Alessandro e Alexandre –, quando decidiram adotar a caçula, Adryene, com três dias de nascida. A mãe não tinha condições de criar a menina e optou por doá-la ao casal, que a recebeu bebê como se fosse sangue deles.

Logo eles descobriram que a menina tinha um problema mental, pois a mãe era usuária de drogas e teve uma gravidez e parto conturbados. Mas para a família, a descoberta da deficiência de Adryene resultou em mais amor e proteção por parte do casal e dos irmãos, para com a garota.

“Me sinto abençoado por Deus por ter essa filha. Cuidar de uma pessoa com deficiência é um exercício diário que nos melhora como seres humanos. Eu me sinto um pai e um homem melhor por isso. Sempre priorizei os meus filhos, nunca deixei faltar nada em casa, e trabalhava com vontade, para que minha família nunca passasse necessidade. Graças a Deus consegui dar a todos uma vida decente”, diz com orgulho esse pai, que agora vive na sua aposentadoria uma nova missão.

Antes, quando ele trabalhava fora, era a mulher quem cuidava da casa e dos filhos. Mas agora que pode ajudar também, é com seu Ribamar que Adryene mais conta para as tarefas diárias. Ela está com 20 anos e é aluna da Apae de São Luís. Como as aulas presenciais estão suspensas devido a pandemia, é o pai a ponte entre a menina e a escola.

Há meses, ele vai quinzenalmente até a sede da Apae de São Luís levar as tarefas já feitas pela filha e pegar os próximos deveres, para que ela siga se devolvendo em casa. É que, apesar das aulas presenciais não estarem acontecendo, a Escola Eney Santana consegue interagir remotamente com os alunos, através de chamadas de vídeos e entrega de atividades.

“Adryene virou meu xodó. Ela me pede quase tudo em casa, ‘Pai, estou com fome’, ‘Pai, quero isso ou aquilo’. E eu ajudo feliz da vida e aprendo muito com ela também. Aos 12 anos ela se encantou pela Igreja Evangélica e quis se batizar. E acabou me levando junto para os cultos. Eu digo mesmo que essa filha é um presente de Deus para nossa família. E ela é muito amada por todos nós e devolve isso sendo carinhosa com todos. Digo mais, minha filha Adryene, além de bela, é carismática, todos que a conhecem gostam dela”, diz esse pai coruja.

Para José de Ribamar os cinco filhos são preciosos, assim como os seis netos que completam essa família grande e amorosa. “Sou pai por vocação. Não me imagino vivendo sem os meus filhos, por eles faço qualquer sacrifício. E tanto pela Adryene que não sabe se defender, quanto por todos os outros colegas dela, alunos da Apae, tenho o maior prazer em ajudar. Me sinto meio pai de todos eles. Ser pai é distribuir amor e cuidado” ensina esse super herói cujo maior poder é usar a força do seu amor para proteger e zelar por seus filhos, até o último dia de sua vida.

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