Artigo

Parabéns, mãe Terra!

Gilmar Silvério da Silva *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Em 1972, autoridades, cientistas e intelectuais lançaram o livro “limits to Growth”. Nele manifestou-se a preocupação com o futuro do planeta Terra e da humanidade destacando a finitude dos recursos naturais. No outro lado do Atlântico, pressões populares e democráticas, lideradas pelo senador americano Gaylord Nelson, engendraram novas leis, criadas para proteger o meio ambiente, além da importante agência ambiental americana, a EPA. Ainda em 1972, ocorreu a pioneira conferência internacional sobre ambiente, a Conferência de Estocolmo. Esta conferência foi um marco para o direito ambiental, pois reconhecia o direito do homem a um ambiente equilibrado e saudável. Após duas décadas, no Rio de Janeiro, ocorreu a Eco-92. Estes são alguns eventos que demonstram o nascimento e a consolidação da consciência ambiental no planeta. Hoje é raro não se deparar com reportagens e debates nas diferentes mídias abordando a preservação das florestas, a qualidade das águas, o aquecimento global. A relevância ambiental tomou tal envergadura que integra a agendo dos governos e influencia a dinâmica da economia e do comércio global. Destes movimentos pioneiros, surgiram o conceito de sustentabilidade, ou seja, a adoção de modelos de desenvolvimento que garantam às gerações futuras o acesso aos bens naturais que hoje desfrutamos.

Hoje, a população mundial é de 7,8 bilhões. A humanidade consumiu mais recursos naturais nos últimos 50 anos do que todas as gerações anteriores. Não é razão para o desespero, mas é uma alerta grave, incômodo e essencial sobre as consequências do estilo de vida do homem neste planeta. O cientista Paul Crutzen propôs a criação de uma nova era geológica, o Antropoceno, em sucessão à presente, o Holoceno, tal o gigantesco impacto do homem sobre os ecossistemas.

Por certo, o enorme crescimento populacional nos ajuda a entender os grandes impactos ambientais da atualidade, mas não é suficiente. Os modelos econômicos, sociais, culturais e tecnológicos compõem o mosaico complexo que formam a sociedade com seus valores e hábitos. Em função disto, a crise ambiental pode ser considerada a mais importante crise enfrentada pela humanidade. Guerras, fomes, epidemias, com exceção do potencial destrutivo da guerra nuclear, não são capazes de colocar em risco a espécie humana, apesar da imensurável dor que inflige sobre o homem. A crise ambiental compromete a natureza e a civilização, a matriz que sustenta a vida humana. A água potável, as mudanças climáticas, a fauna e a flora têm seus limites, e quando sua capacidade de resiliência for ultrapassada, nos depararemos com os cenários distópicos tão bem ilustrado pelos filmes de ficção científica, se já não o vivemos, dado que a degradação ambiental está associada à transmissão de doenças infeciosas de animais para humanos como ocorre atualmente.

A Assembleia Geral da ONU criou a Dia Internacional da Mãe Terra, comemorado anualmente no dia 22 de abril, ocasião para conscientizar a humanidade da sua responsabilidade para com o planeta. Este desafio, para ser enfrentado, não deve ser ideologizado. É um compromisso de Estado, exige uma abordagem continua e a longo prazo. Tem um aspecto transnacional, pois a natureza não respeita divisões geopolíticas: a atmosfera não pertence a uma nação e muitos rios cortam vários países. Logo, o conceito de soberania deve dialogar com a direito internacional - o papel da diplomacia é crescente. Essa consciência ambiental é inescapável.

O cidadão, o empresariado, as organizações, os entes federativos, a comunidade acadêmica e a entidades representativas e religiosos devem estabelecer um amplo diálogo e fazer a seguinte pergunta - nós estamos realmente cuidando da Terra? Está em jogo o futuro da humanidade. Remeter à ciência e à tecnologia a solução da crise, por mais fantásticas que sejam, é um caminho arriscado, pois não são uma panaceia. Não se pode terceirizar a crise. É fundamental uma abordagem integradora, universal e fraternal para ressignificar a relação do homem com a natureza. Parabéns, Dia Internacional da Mãe Terra!

* Professor titular do Campus Monte Castelo - IFMA

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