De tempos em tempos somos apresentados a um personagem exótico, tosco, ignóbil, boçal na política nacional. Uma vez mais o Rio, outrora estado progressista nos costumes e na cultura, envia para Brasília um personagem exótico, em uma lista que já teve o índio Mário Juruna, Agnaldo Timóteo, ambos do socialismo de Brizola, inofensivos e folclóricos; “pastora” Flordelys, ainda com mandato, acusada de ter mandado assassinar o marido. Flordelys dá expediente no parlamento com uma reluzente tornozeleira eletrônica sob as longas vestes. Além de Jair Bolsonaro, que teve sete mandatos, de 1991 a 2018, sempre no chamado baixo clero.

O troglodita preso na semana passada por desafiar e insultar os ministros da mais alta corte de justiça do país, é tudo menos um cidadão ciente de suas obrigações como legítimo representante do eleitor do Rio de Janeiro. Youtuber, que se elegeu como um contestador das regras estabelecidas pelo jogo democrático, o fortão com mandato achava que poderia falar tudo que lhe vinha na telha, para alimentar seus radicais seguidores/eleitores. Pensava que a imunidade parlamentar o livraria da cadeia.

Com o advento e popularização das redes sociais, cada um tem um megafone nas mãos, com um celular podemos falar tudo sem pensar nas consequências. Segundo o pensador italiano Umberto Eco, “as redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião de imbecis" que antes falavam apenas "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade".

Em 19 minutos de vídeo publicado no dia 16/02, o deputado marombado impõe um teste à democracia brasileira, cometeu uma série de crimes previstos na Lei de Segurança Nacional e no Código Penal, segundo decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal - STF, Alexandre de Moraes, que determinou a prisão em flagrante do parlamentar.

Disse o troglodita: “Lá em 64, na verdade em 35, quando eles perceberam a manobra comunista, de vagabundos da sua estirpe, 64 foi dado então um contragolpe militar, é que teve lá os 17 atos institucionais, o AI-5 que é o mais duro de todos, como vocês insistem em dizer, aquele que cassou três ministros da Suprema Corte, você lembra? Cassou senadores, deputados federais, estaduais. Foi uma depuração, um recadinho muito claro: se fizerem, a gente volta”.

"É claro que vocês vão me perseguir pelo resto da minha carreira política, mas eu também vou perseguir vocês. Não tenho medo de vagabundo, de traficante, de assassino, vou ter medo de 11 que não servem pra ‘porra’ nenhuma para esse país? Não, não vou ter". A ordem de Moraes foi tomada no âmbito do inquérito das fake news, do qual é o ministro-relator. A investigação foi aberta em março de 2019 pelo então presidente da corte, Dias Toffoli, para investigar ataques contra os ministros.

Já a denúncia apresentada contra o parlamentar no dia 17/02 pela Procuradoria-Geral da República foi feita dentro da investigação sobre manifestações antidemocráticas, aberta em 2020.

Por unanimidade o STF, e por ampla maioria dos deputados, ele continua preso.

Em um país em que se fecham livrarias e abre-se academias de ginástica, o fortão mostrou que desenvolveu bíceps, tríceps e trapézio, esquecendo de desenvolver os neurônios. Para quem jurou respeitar a Constituição, deveria saber que liberdade de expressão não rima com a boçalidade de seu radical discurso do ódio.

Na ficha corrida antes de eleger-se deputado, ele colecionou 26 dias de prisão, 54 de detenção, 14 repreensões, duas advertências.

Ao chegar ao IML: mascando chiclete, se recusou a usar máscara e desafiou a servidora de plantão, mostrou toda a sua boçalidade, e, isso explica em parte porque o Rio chegou àquele nível de degradação.

“Restaure-se a moralidade ou locupletemos-nos todos”, urgentemente.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes

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