Raphael Teixeira Gomes, o "Garçom da Água"

Lição de força de vontade na pandemia

Ele vende água em semáforos vestido de garçom e diz que quer vencer na vida com dignidade para realizar seus sonhos, que inclui a compra da casa própria

Evandro Junior/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Raphael Teixeira Gomes orgulha-se de ser microempreendedor
Raphael Teixeira Gomes orgulha-se de ser microempreendedor (Garçom)

São Luís - Ele tem 25 anos, mora com a noiva e três filhos, frutos de um antigo relacionamento dela e que educa como se fossem do mesmo sangue. Raphael Teixeira Gomes, o “Garçom da Água”, orgulha-se de ser microempreendedor e, diariamente, dar uma lição de persistência, força de vontade e disposição em meio à pandemia do novo coronavírus. Quem passa pela Avenida dos Africanos, próximo à Alvorada Motos, testemunha o trabalho dele, que comercializa água vestido de garçom e usando máscara. Antes, vendia em frente à Fundação Bradesco e, agora, permanece em um sinal antes da entrada para o bairro Coroado, próximo à antiga barreira eletrônica.

O maranhense estabeleceu uma meta diária: comercializar 80 garrafas de água e apenas ir embora quando a alcançar. Com o dinheiro, faz a reposição de estoque, paga aluguel da casa onde mora com a noiva, honra as contas e usa para as despesas com alimentação, luz e internet. “Graças a Deus, por meio desse trabalho digno e honesto, consigo me sustentar e crescer na vida, em busca dos meus sonhos e objetivos”, diz.

Discriminação
A vida para o “Garçom da Água” nunca foi fácil. Há seis anos, ele foi julgado e condenado por alguns delitos. Passou quatro anos recolhido no sistema prisional. Deixou a penitenciária no mesmo dia de seu aniversário, decidido a mudar de vida. “Por diversas vezes, tentei arrumar emprego antes de vender água, mas, infelizmente, não conseguia por conta da discriminação. Foi quando, ao acompanhar o trabalho de Rick Winchester, vendedor de água que virou palestrante, tive a ideia de fazer a mesma coisa em São Luís.

“Passando credibilidade para o cliente e uma boa imagem para o negócio. Graças a Deus, deu certo e estou aqui até hoje apostando nesse meu negócio para crescer na vida”, relata.

Raphael nunca tinha trabalhado como garçom. Até conseguir um emprego em uma pizzaria. No entanto, preferiu apostar no seu próprio negócio e, também, por estar desgastado fisicamente. No semáforo, os condutores de veículos ficam encantados com o fado de terem um atendimento diferenciado e inusitado. “Eu atendo de forma educada e gentil. Nunca me esqueço de desejar bom dia e das mensagens de motivação para todos os motoristas de ônibus, vans, também”, relata.

Raphael faz parte do projeto “Expedição 45”, do Instituto Gonçalves Dias, do qual é um exemplo de ressocialização. Ele chegou a receber um certificado e conta, ainda, com o apoio da empresa PSIU e de outra especializada em consultoria contábil. O “Garçom da Água” dorme e acorda com um sonho. Ele quer ter sua própria casa e busca poder desenvolver um negócio onde possa empregar jovens egressos do sistema prisional maranhense, para que eles possam ter a oportunidade de uma nova vida.

O microempreendedor começa a trabalhar às 9h e fica até por volta de meia-noite. Por diversas vezes, foi vítima de discriminação. “Tanto pelo meu passado, quanto pelo fato de vender água no semáforo. Uma vez me perguntaram se eu não tinha vergonha de vender água daquele jeito. É muito triste saber que o amor das pessoas pelas outras acabou e que hoje em dia é muito comum ver cenas de discriminação por várias coisas", diz.

E finaliza, com um ensinamento: "Passado não justifica presente. Não podemos ser julgados pelo que fomos um dia. Até mesmo porque ninguém pode julgar ninguém. Se quisermos falar a respeito de alguém, devemos falar pelas suas atitudes no presente, porque o futuro é a conveniência do presente”.

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