Obra impactante

Quase 2 décadas da revitalização da Lagoa da Jansen e seus impactos

Local é, ao mesmo tempo, espaço atrativo para passeios de famílias e visitantes e um polo de problemas relacionados a saneamento básico e outros

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Vista da Lagoa da Jansen, espaço que sofreu várias intervenções nos últimos anos
Vista da Lagoa da Jansen, espaço que sofreu várias intervenções nos últimos anos

SÃO LUÍS - Com uma área total de cerca de seis mil metros quadrados e formação antrópica, ou seja, estimulada pela intervenção humana, a Laguna da Jansen – ou Lagoa da Jansen como é mais conhecida – passou por transformações naturais e, principalmente, por intervenções físicas em especial nas últimas cinco décadas. Um dos projetos mais impactantes foi a revitalização da unidade de preservação, com a inclusão de pistas para a prática de ciclismo, para caminhadas, além de construção de áreas para práticas de outros esportes e para realização de shows e eventos culturais.

De acordo com o trabalho científico intitulado “Política e Gestão Ambiental em Áreas Protegidas em São Luís: O Parque Ecológico da Lagoa da Jansen”, de Washington Luis Campos Rio Branco, com base em documentos da Secretaria de Estado da Infraestrutura (Sinfra), o projeto de revitalização da Laguna foi inaugurado no dia 30 de dezembro de 2001 com uma área de 1 milhão e 300 mil metros quadrados, com espelho d´água de 206 mil metros quadrados da área total, com pista de cooper e ciclovia com 6 quilômetros de extensão e área totalmente urbanizada de 491 mil metros quadrados.

Atualmente, o local é – ao mesmo tempo – um espaço atrativo para passeios de famílias e desportistas e polo de concentração de problemas relacionados, em especial, a saneamento básico. Mesmo com as tentativas da gestão atual do Governo do Maranhão de recuperação de parte da estrutura física, o entorno da Laguna da Jansen ainda registra desigualdades sociais e baixa exploração de seu potencial no segmento turístico.

Entender o contexto histórico da Laguna da Jansen no processo de formação da cidade é marcar seus benefícios e desvantagens para a organização da região da Ilha de São Luís do “outro lado” da Ponte José Sarney – cuja construção iniciou no fim da década de 1960 e com entrega registrada em 1970 como o canal que ligou o Centro “velho” à parte nova da cidade.

Neste período, o que se via na área da Laguna da Jansen era um bioma caracterizado por alta concentração de manguezais. Com o tempo, o cenário urbano foi se alterando, a ponto de possibilitarem o surgimento de bairros periféricos no entorno da formação ambiental.

Lagoa da Jansen é atrativo para visitantes registrarem paisagens
Lagoa da Jansen é atrativo para visitantes registrarem paisagens

O impacto da expansão da cidade pelo entorno da Laguna

De acordo com o artigo científico intitulado “Configuração Socioambiental da Laguna da Jansen: São Luís do Maranhão”, de Ricardo Henrique de Sousa, a Laguna da Jansen está situada na região Noroeste da Ilha do Maranhão, mais precisamente no município de São Luís, em sua zona urbana, distante 4 km de forma aproximada do Centro Histórico da cidade.

A noroeste, a Laguna limita-se com a Ponta do Farol; já ao Sul, está no limite do bairro do São Francisco. Ao leste, com os conjuntos habitacionais Renascença I e II e a oeste, com a praia da Ponta d ´Areia.

A formação geográfica desta ponta da natureza fincada em plena área urbana trouxe um forte impacto para a região. Um dos marcos para o desenvolvimento da cidade no entorno da área ambiental foi a construção das avenidas Colares Moreira, no fim da década de 1960 e João Nunes (atual Ana Jansen), a partir de 1970. O trecho da avenida João Nunes, por exemplo, foi implantado sobre o igarapé Ana Jansen, acima do nível da lâmina d´água.

Com a formação de uma espécie de barragem, a água se concentrou em uma área menor que a anterior, o que gerou a formação da laguna. Antes das avenidas, era possível avistar o que se chamava de Igarapé da Jansen, que se comunicava diretamente com o oceano Atlântico, na Baía de São Marcos.

O Igarapé da Jansen, de acordo com moradores mais antigos, se conectava ao Igarapé do Jaracati onde era possível chegar ao portinho da Camboa do Mato. Neste local, ainda segundo o trabalho científico intitulado “Política e Gestão Ambiental em Áreas Protegidas em São Luís: O Parque Ecológico da Lagoa da Jansen” era comercializado o pescado e a lenha do mangue.

Apesar do benefício para a malha viária e formação de determinados bairros da cidade, em especial a Ilhinha, o Renascença e o São Francisco, geógrafos apontam a interrupção dos cursos naturais de drenagem de igarapés na região, o que teria impossibilitado o crescimento de grande parte do bioma registrado no entorno da laguna.

Segundo dados extraídos de trabalhos elaborados por gestões anteriores do Governo do Maranhão, a Laguna da Jansen foi transformada em Unidade de Conservação em 1988, por meio de Decreto-Lei nº4.878 expedido em 23 de junho. O objetivo da medida era preservar às áreas de mangue fixadas no entorno do conjunto ambiental.

Mesmo com a iniciativa, a proteção natural teve como consequência a ocupação desordenada de áreas de mangues do bairro da Ilhinha.

A partir das décadas de 1980 e 1990, em especial, imóveis foram sendo construídos sem controle no entorno da área ambiental. Além da modificação na paisagem, a laguna passou a ter o fluxo de água controlado. A troca de água da Laguna da Jansen, com o processo de revitalização do início da década de 2000, passou a ocorrer de forma prioritária nas marés de sizígia, quando o “nível da maré ultrapassa o nível das galerias que interligam a laguna do mar” e, em períodos chuvosos, quando a concentração de água doce na laguna corre para o mar no mesmo fluxo usado pelo mar anteriormente.

Projeto de urbanização da Laguna: um marco para São Luís

Após a criação da Laguna da Jansen e da espontânea e desordenada ocupação habitacional em alguns trechos do entorno da área de proteção, fez-se necessário o poder público pensar em forma de aproveitamento voltado ao lazer e ao entretenimento em que, ao mesmo tempo, os aspectos voltados para a proteção do ecossistema ali existentes fossem mantidos.

Um dos projetos mais marcantes de aproveitamento do potencial da laguna começou a ser concebido ainda durante a gestão do então governador do Maranhão, Edison Lobão. Em 1991, foi desenvolvido o Plano de Recuperação Ambiental do Parque Ecológico da Lagoa da Jansen. Com o Plano, houve a necessidade de elaboração de um relatório preliminar voltado para a recuperação ambiental e sanitária da Laguna da Jansen.

Ainda de acordo com o trabalho científico intitulado “Política e Gestão Ambiental em Áreas Protegidas em São Luís: O Parque Ecológico da Lagoa da Jansen”, o Estado seria autorizado a aplicar medidas para a despoluição da lagoa (ou laguna) propriamente dita, enquanto a gestão municipal se encarregaria de transferir os moradores das palafitas para outro local. No entanto, várias famílias teriam se recusado a sair do local de moradia nos arredores da Laguna da Jansen.

No primeiro mandato da então governadora Roseana Sarney, entre 1995 e 1998, o projeto permaneceu sem execução, sob a alegação de falta de recursos. No entanto, a partir do mandato seguinte da gestora, os serviços ganharam expansão e novos contornos. A partir do parecer técnico da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra), à época, foi possível a execução dos trabalhos. Um dos serviços marcantes da revitalização foi a construção da Arena Domingos Leal (de beach soccer), primeira arena fixa do país. A Concha Acústica também marca a revitalização da Laguna.

Até hoje, as obras de revitalização da Laguna são consideradas marcantes, pois além de valorizar uma das nossas referências naturais, alterou os preços no mercado imobiliário e estimulou o surgimento de empreendimentos no entorno da área ambiental.

Saiba Mais

Relembre
Em 2012, a gestão da Área de Proteção Ambiental da Lagoa da Jansen passou para a responsabilidade da Sema, conforme Decreto Estadual n° 28.690, de 14 de novembro. O decreto promoveu a reclassificação do Parque Ecológico da Lagoa para a categoria de “Unidade de Conservação de Uso Sustentável do tipo Área de Proteção Ambietal”.

Com isso, a pasta do Meio Ambiente passou a gerenciar o espaço, ficando responsável pela “gestão, administração e fiscalização e promovendo as articulações intersetoriais necessárias para a gestão integrada”.

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