Artigo

Waldemiro Viana e Milson Coutinho

José Ewerton Neto, Autor de O entrevistador de lendas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Estava dia 4, pela manhã, no velório do confrade Waldemiro Viana para me despedir de corpo presente, em oração e afeto, do amigo escritor que partia em definitivo, quando recebi outra triste notícia, o também confrade e amigo Milson Coutinho acabara de falecer.

Num ambiente de Pandemia onde os cuidados protetivos não são suficientes para servir de escudo contra o extravasamento da sensação de impotência e fragilidade humana, imagine a repetição dessa pungente sensação com novo impacto de melancolia e saudade. Permaneci no centro da cidade até chegar o momento de repetir, mais tarde, a mesma jornada de despedida, desta vez rumo à Academia Maranhense de Letras, onde Milson Coutinho, outro amigo e confrade, estava sendo velado.

Waldemiro Viana.

As qualidades pessoais de Waldemiro Viana de companheirismo, afabilidade e alegria já foram tão decantadas por confrades, amigos e parentes nas redes sociais, blogs e jornais que não cabe aqui repeti-las. A essas acresço ainda mais uma: a ironia. Waldemiro Viana era um formidável irônico do bem. Aquele tipo de ironia desconcertante no trato das pessoas que faz desanuviar semblantes carregados e emoldurar as faces compenetradas de sorrisos e gargalhadas, mesmo nas ocasiões mais solenes, permitindo que todos escapem brevemente da seriedade protocolar.

Essa ironia, dom de poucos, Waldemiro Viana carreou para seus romances explicando-se assim a sedução que sua escrita exercia nos espíritos mais propensos à liberdade - e não apenas de sua livre interpretação no trato ficcional dos personagens e dos fatos. Assim, até nas situações mais angustiantes de A Tara e a Toga, um romance policial de ficção histórica baseado no icônico e rumoroso caso do desembargador Pontes Visgueiro, Waldemiro adicionava a sua verve peculiar, que permitiu aos leitores, mesmo nos momentos cruciais da história, rir das desgraças humanas. Em outro livro A vez da caça (atenção para a curiosa escolha dos títulos segundo essa tônica), idem quando nas situações mais inusitadas e imprevistas, o cinismo e a falta de escrúpulos desses anti-heróis fazia com que torcêssemos por eles, como amigos a quem se perdoa o cinismo em nome de espírito aventureiro, como tantos leitores torceram por Tom Jones, do escritor inglês Henry Fielding, a reboque de uma narrativa, como as de Waldemiro, eivadas de deliciosa ironia.

Milson Coutinho.

Milson Coutinho também era da estirpe dos que fazem amizades sinceras e perenes com muita facilidade, a par dos cargos de comando que exerceu, onde nem sempre é possível agradar a gregos e troianos.

Literariamente Milson Coutinho enveredou por um gênero de elaboração árdua e complexa, que é o da Pesquisa Histórica, tornando-se na AML e na intelectualidade maranhense um dos expoentes dessa corrente dedicada a esse trabalho de reavivar, documentalmente ou com alguma liberdade de interpretação, memórias e fatos que precisam ser preservados.

Isso exige dedicação, agudeza e desprendimento e, sobretudo, generosidade, pois é um presente concebido, principalmente, para as gerações posteriores, ocorrendo muitas vezes que estas sim é que reconhecerão mais largamente o presente que lhes foi doado. Fico imaginando que ao autor dessa epopeia fundamental para os maranhenses A revolta de Bequimão só faltou brindar-nos, com aquela que seria outra obra preciosa: a sua autobiografia, sobre a sua trajetória tão rica e tão aplaudida por todos.

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