Artigo

Fernando Silva

Lino Raposo Moreira, PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Dois grandes e queridos amigos acabam de falecer, Fernando Silva e Manuel Dias, com uma diferença de uma semana entre uma e outra morte. Por uma dessas aparentes coincidências que sempre me pareceram premeditadas por forças universais e eternas, a mãe de cada um deles foi professora de minha mãe; em Cajapió, dona Maria Teresa, mãe de Manuel; em São Luís, mais tarde, dona Doris, mãe de Fernando. Eu conheci esses dois amigos anos antes de conhecer tanto dona Maria Teresa quanto dona Doris. Hoje quero falar sobre Fernando e, na próxima semana, sobre Manuel.

Fernando era um homem daquele tipo incapaz, como se dizia antigamente, de levar desaforo do almoço para o jantar. Se tinha alguma coisa a dizer, dizia logo. Ao mesmo tempo, porém – dou testemunho de minha própria experiência – era afetuoso com os amigos e capaz de gestos de gentileza que poderiam surpreender apenas quem não o conhecesse de perto. Seus amigos, por sinal, eram seus amigos de verdade. Não os tinha como ornamento ou como item especial de seu vasto currículo como empresário e homem público. Tinha-os como... amigos verdadeiros, daqueles de fazer bem a você e com quem você fica horas conversando, trocando ideias, refletindo sobre os rumos da nossa sociedade. Quando eu lhe perguntava quem era aquela figura desconhecida para mim, numa foto antiga, ele brincava: “Tá achando que sou velho?”

Tinha um gosto especial por carros antigos, dos quais possuía uma coleção de exemplares raros de fins dos anos quarenta e início dos anos cinquenta. Quantas vezes vi chegar à garagem de sua residência do Olho D’água esses veículos! Aos meus olhos, eles pareciam além de qualquer possibilidade de recuperação minimamente decente. Daí a alguns meses eu via um milagre acontecer. Os detalhes aparentemente mais insignificantes tanto da parte mecânica dos veículos em recuperação quanto dos tons perfeitos de sua cor original não escapavam a sua atenção. Se ele, por caso, não encontrava no Brasil uma minúscula peça original necessária à restauração exata, mandava buscá-la nos Estados Unidos. Seus modelos originais eram originais até o último e minúsculo parafuso.

Eu admirava e admiro no meu amigo o profundo amor pelos pais, a quem ele fazia constantes e carinhosas referências. Esse afeto o levou a escrever um livro “Centenário de Doris e Adelino Silva”, narrativa da vinda de seu Adelino, de Portugal para o Brasil, o encontro com dona Doris e a constituição de uma família que vem dando contribuição inestimável ao crescimento da nossa terra. Bons pais geram bons filhos e cidadãos.

Tendo um forte apego sentimental com Portugal, por ser filho de cidadão português, Fernando foi vice-cônsul daquele país no Maranhão entre 1983 e 1985.

Quando um amigo se vai, vai também com ele um pedaço nossas vidas. São histórias compartilhadas, que passam a ter apenas uma metade - nunca mais vou poder dizer: “vou perguntar a Fernando”, pois eu sabia ter ele uma memória fantástica; detalhes de uma passagem curiosa sobre um amigo comum, agora com apenas uma testemunha; tantos e tantos pequenos fatos, capazes de fazer a verdadeira vida, pois esta não é feita de fatos grandiosos acompanhados de fanfarras, mas de pequenos fatos. Viver sem amizades é viver pela metade.

Inteira é a saudade de Madalena, sua esposa, e de seus filhos Victor e Fernando Júnior, e dos demais filhos e irmãos e, particularmente, deste amigo pesaroso.

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