"Temos que pensar no que é essencial à vida das pessoas", afirma Carlos Lula
Secretário Estadual de Saúde falou a O Estado sobre a capacidade de atendimentos e sobre o lockdown, que pode reduzir a curva da Covid-19 no estado
A última semana foi cenário de incertezas para a população quanto a disponibilidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede estadual na ilha e São Luís. Por cerca de 48 horas, todos os leitos estavam ocupados. Neste prazo, o governo mostrou novos 50 leitos.
Sobre a saturação do sistema estadual de saúde e os investimentos estão sendo feitos com prazos – que são longos – o secretário estadual de Saúde, Carlos Lula, falou a O Estado.
Segundo o gestor, cerca de 1 mil leitos devem ser criados em maio, mês previsto pelos especialistas como o pico da Covid-19 no Maranhão.
O secretário demostrar ter esperança que o lockdown reduzirá a curva crescente de contaminação deixando assim, o sistema de saúde mais equilibrado para atender os doentes do vírus.
No mundo todo, a questão da subnotificação é um fato. Aqui no MA, cerca de 1% da população foi testada. Diante dos poucos testes, qual a estimativa de contaminado e mortes existem no Estado dadas pelos técnicos?
A subnotificação é um problema no mundo inteiro. Não é só no Maranhão ou só no Brasil. Diante de uma pandemia é difícil a gente ter dados precisos em relação ao número de pessoas contaminadas e ao número de óbitos totais. De nossa parte, o que nós temos tentando, é diminuir esta incerteza. É preciso fazer testes para saber como anda a disseminação da doença. Então, adotamos a transparência como norteador de nossas ações e, por isso, a gente tem testado muitos óbitos. Se formos olharmos, a gente tem divulgado no dia os óbitos confirmados naquela data e temos óbitos que estavam para testagem. Com isso, se eu divulgo 20 óbitos, teremos quatro ou cinco do dia e os demais já foram a óbito sem o resultado do teste. A gente não quer chegar a uma solução de outros estados que têm 120 enterros por dia e divulgar 10 ou 15 óbitos que aconteceram [por covid-19]. A gente quer aproximar o máximo possível de casos confirmados de Covid para que tenhamos uma noção do caminho da doença.
Como está a disponibilização de testes no Maranhão? Os municípios estão recebendo? Qual a frequência de compra dos testes?
Em relação a testagem, a tendência é que a gente aumente. Fizemos compras de testes, vai fazer distribuição aos municípios e o governo federal fez a mesma coisa. A gente acredita, que diante dos 10 milhões dos testes, o Maranhão terá direito a 150 mil e nas próxima semanas a gente deve aumentar o número de testagem na população. Mas é importante salientar quer todos os municípios do Maranhão receberam verba do governo federal – até mais que o Estado – e eles podem comprar testes. O Estado recebeu R$ 27 milhões. Só São Luís, recebeu R$ 25 milhões, por exemplo. O que a gente fez, foi disponibilizar de maneira integral todos os textos recebido do governo federal disponibilizou para os municípios por meio de nossas regionais. De outra parte, o estado centraliza de CPR no Laboratório Central, aqui em São Luís, e testes rápidos, que além dos que foram recebidos pelo governo federal, foi feita a aquisição para testar profissionais de saúde e da segurança pública.
Sobre atendimentos nos hospitais de São Luís, por mais de um dia, os leitos de UTI ficaram 100% ocupados. A SES registrou casos de mortes por falta de leitos de UTI quando o sistema chegou ao limite?
Não. Não aconteceu. Para quem não conhece o SUS, se assusta quando a taxa de ocupação de leitos chega a 100% dos leitos de UTI. A gente já trabalha com esta ocupação máxima. Pode-se perguntar para qualquer hospital público que tenha leito de Unidade de Terapia Intensiva, que nenhum dele trabalha com carga de 100% dos leitos de UTI porque não dá tempo. No nosso caso [com a covid-19] não chegamos a ficar 48 horas com 100% de taxa de leitos de UTI. Mas é importante entender que mesmo nas unidades de pronto atendimento, nós temos as alas vermelhas que são dotadas de respiradores, portanto, os pacientes que ali estão, ficam praticamente em um ambiente que é igual a unidade de terapia intensiva, mas não pode ser chamada disto. É uma ala vermelha equipada de respiradores e, por tanto, dá o suporte ao paciente enquanto abre a vaga para a Unidade de Terapia Intensiva. De nossa parte, não houve óbito por falta de UTI, mas com certeza é algo que nos traz preocupação porque trabalhar com a taxa de 100% de ocupação de leitos de UTI é muito grave e não podemos permitir. E isto é por uma razão: diferente do período normal em que tem um rodízio normal de pacientes, no caso da Covid-19, os pacientes passam muito tempo no leito. De duas a três semanas no leito.
Em cerca de 48 horas, foram disponibilizados mais de 50 leitos de UTI. Mas mesmo assim, a taxa de ocupação fica próxima a 80%. Há previsão de quantos mais leitos de UTI? E qual a capacidade máxima do sistema de saúde estadual?
Temos feito o máximo que está ao nosso alcance. Incluindo aí aluguel de equipamentos de hospitais privados, fazendo a requisição de hospitais privados e, no futuro, há possibilidade de transformar leitos da ala amarela, que é de enfermaria, em leitos vermelhos. Mas vale destacar que a criação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva não é um procedimento simples e não temos como alongar isto ao infinito. É possível a gente criar mais alguns leitos, mas isto demanda tempo profissional, maquinário que não é somente um respirador, uma série de insumos que se somam a este respirador para ser uma UTI com o mínimo de cuidado com o profissional e o paciente. Precisamos de um profissional treinado. Não temos como chegar a mais mil leitos de UTI. Nem do estado e nem o setor privados..
Voltando a capacidade de atendimento, se o pico será em maio, qual será a capacidade máxima do sistema de saúde para atendimento considerando que há tempo para implantação?
Temos condições de criar mais leitos e iremos criar. Está prevista a criação, nos próximos dias, do hospital São José, que foi alugado. Temos ainda o Hospital Raimundo Lima, que é anexo ao hospital Nina [Rodrigues] que terá mais 52 leitos, o hospital de Campanha e a ideia de termos ainda uma triagem nas proximidades do hospital Carlos Macieira. Serão mais de uma centena de leitos e parte destes leitos serão de UTI, mas vale lembrar que não podemos cuidar só de São Luís. Temos ainda o interior do estado para cuidar. Só que existe sim um limite. Um limite físico para que possamos continuar criando leitos de UTI e, por isso, precisamos da consciência da sociedade que respeita as regras de isolamento social, porque se assim não ocorrendo, acabaremos perdendo esta luta. E sobre o pico, as projeções é para maio, mas são somente projeções. Nossa estimativa é de que haja mais mil leitos não próximas semanas, mas o mais importante é a população não adoecer toda ao mesmo tempo. Temos uma conta simples: considerando 15% que precisam de leito hospitalares e eu tiver 10,5 mil pessoas doentes, vamos precisar de 1,5 mil leitos.
O lockdown foi uma decisão judicial, mas o governo já vinha estudando a possibilidade. Pelos dados do estado, em 10 dias, qual é a expectativa de redução da curva?
Os efeitos do lockdown não são vistos imediatamente. Eles são vistos, a rigor, pelo menos duas semanas após a sua decretação. A gente está traçando cenários e, nos próximos dias, a equipe técnica deve nos fornecer cenários de perspectivas aumento de casos com lockdown e sem. E em ambos os cenários, a gente vai buscar o crescimento real e somente depois é que teremos como avaliar se deu certo ou não. Vale lembrar que não é suficiente somente a decisão judicial, ela terá pouca serventia se não dermos execução prática a ela. Precisamos que as pessoas fiquem de fato em casa. Todos os dias, recebemos solicitações de advogados de empresas e até de condomínios se colocando como essenciais para o funcionamento da sociedade. Infelizmente, nós temos que pensar somente no que é essencial a vida das pessoas, que é basicamente alimentação e segurança. Temos que pensar nisso para o lockdown não fracassar. O que percebemos, que nas últimas semanas, a população da grande ilha deve evidente resistência as regras de isolamento.
Os técnicos da saúde, que baseiam o governo em suas decisões, já haviam recomendado o lockdown? Os 10 dias são suficientes?
Não é que houvesse uma recomendação. Mas de parte do próprio governador, ele já havia indagado sobre a utilização ou não da eficácia dele e, houve, por assim dizer, unanimidade. Parte disseram que já era hora e outros opinarão que não. O lockdown tem uma hora certa para ser aplicado. Disto dependerá a eficiência. Se 10 dias são necessários? Somente o tempo dirá. Vamos olhar a curva nestes dias, saber se houve redução do percentual de casos confirmados por dia.
Quando o hospital de campanha estará pronto? Serão quantos leitos?
O hospital de campanha começou a ser montado neste dia 1º de maio. A previsão é que em 15 dias a parte física esteja concluída e, em um ou dois dias, conseguiremos montar para receber pacientes. Por lá, teremos 200 leitos de enfermaria e entre estes, contaremos com leitos de estabilização.
O senador Roberto Rocha disse que o governo do estado negou 10 respiradores para instalação de UTIs no Hospital Universitário. Quais os motivos para não disponibilizar? Todos os respiradores estão já com destino certo?
Nunca houve um pedido formal do Hospital Universitário para que nós doássemos 10 respiradores de UTI a eles. Temos semanalmente reunião com eles, e nunca houve. O que destacamos é todo o esforço que eles têm feito junto conosco. Mas não faz sentido este tipo de doação de um ente que tem menos poder econômico ao ente que tem maior. Lógico que há a parceria e, se for necessário o empréstimo, faremos. Mas não faz sentido o governo do Maranhão doar respirador para o Governo Federal. Infelizmente, dos 20 leitos que chegaram do governo federal no Maranhão, nenhum veio com respirador, o que não faz sentido para funcionar como leito de UTI. Os respiradores, por hora, vão ficar na nossa própria rede para leitos para covid e destinados, em parte, ao interior.
Mas não faz sentido este tipo de doação de um ente que tem menos poder econômico ao ente que tem maior. Lógico que há a parceria e, se for necessário o empréstimo, faremos. Mas não faz sentido o governo do Maranhão doar respirador para o Governo FederaCarlos Lula, Secretário Estadual de Saúde
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