Cuidados

Pandemia: Os perigos da automedicação durante um surto epidemiológico

A presidente do CRFMA conversou com O Estado para tirar algumas dúvidas sobre a automedicação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
(Medicamentos)

Por conta da pandemia, profissionais da área de saúde temem o aumento da automedicação. Segundo a farmacêutica Gizelli Santos, a automedicação já é algo cultural do brasileiro, e no momento, o consumo de remédios sem o aconselhamento de um profissional tem aumentado, o que pode causar vários danos para a saúde do paciente.

Para tirar algumas dúvidas, o jornal O Estado conversou com Gizelli, que é presidente do Conselho Regional de Farmácia do Maranhão (CRFMA).

O Estado: Qual o principal perigo da automedicação?

Gizelli: Sempre que ocorre a automedicação, existem riscos potenciais de reações adversas que são um importante problema para a área de saúde, pois podem acarretar sofrimento e/ou piora da qualidade de vida, perda da confiança no tratamento, necessidade de exames diagnósticos e tratamentos adicionais e dificuldades no manejo de diferentes condições clínicas, além de aumento de custos, número de hospitalização, tempo de permanência no hospital e eventualmente mortalidade. Ainda, seu aparecimento pode representar a necessidade de se usar mais medicamentos, não só para o tratamento de reação adversa em si, mas como consequência de diagnósticos equivocados.

O uso inadequado de substâncias e até mesmo drogas consideradas “simples” pela população, como os medicamentos de venda livre, tais como analgésicos, podem causar: reações de hipersensibilidade; resistência bacteriana; estímulo para a produção de anticorpos sem a devida necessidade; dependência do medicamento sem a precisão real; hemorragias digestivas e etc. Além disso, o alívio momentâneo dos sintomas pode mascarar a doença real, podendo agravar mais ainda o quadro do paciente.

Outro resultado indesejável pode ser uma hemorragia cerebral, devido à combinação de um anticoagulante com um simples analgésico. O uso indevido de substâncias consideradas “banais” pela população, pode ser algo perigoso, por isso consulte sempre um farmacêutico e tire suas dúvidas.

O Estado: O que é indicado que as pessoas façam em caso de mal-estar, dores ou outros tipos de problemas em que não é considerado necessário a ida à hospitais?

Gizelli: Nesse momento de pandemia isso tem acontecido muito. A população tem consumido muitos medicamentos por conta própria, e a gente sempre lembra que nesse consumo você pode estar mascarando doenças mais graves. Por isso o ideal é procurar um farmacêutico, ter certeza que a pessoa que está te atendendo na farmácia é realmente o farmacêutico, e conversar com ele sobre o que você está sentindo para que ele possa te orientar, e inclusive lhe encaminhar para uma unidade de saúde caso você precise.

O Estado: Qual a principal função do farmacêutico?

Gizelli: Ele é um profissional de saúde que está na linha de frente, um dos primeiros profissionais de saúde que a gente tem acesso. Então nós estamos aí para cuidar do paciente, para cuidar da sua saúde, de vários aspectos sanitários. Nós temos 135 área de atuação, então trabalhamos desde o atendimento presencial em farmácias e drogarias, manipulação, produção de medicamentos, indústrias farmacêuticas, cosméticos até indústrias alimentícias, pelo controle de qualidade. Então o farmacêutico está presente em toda sua vida em vários aspectos te protegendo, cuidando, verificando controle de vários produtos, para proteger a saúde da população.

O Estado: Como os estabelecimentos farmacêuticos podem se preparar para prevenção da doença no ambiente de trabalho e quais cuidados esses profissionais precisam ter?

Gizelli: Todos os estabelecimentos tiveram agora que mudar suas rotinas, e estabelecimentos farmacêuticos também passaram por isso. Existem várias notas da ANVISA e de vários outros órgãos e associações que estabelecem várias normas que esses estabelecimentos podem e devem cumprir para que se protejam e proteja também a população.

No próprio site do CRFMA existe um guia de boas práticas que determinam o tipo de material de limpeza que deve ser utilizado, o uso de EPI’s (Equipamento de proteção individual) por funcionários, que a farmácia tenha um fluxo adequado de entrada e saída do local, as pessoas precisam estar a 1metro de distância das bancadas, oferecer álcool em gel para as pessoas antes de entrarem na farmácia, disponibilizar máscaras para funcionários e solicitar que apenas entrem com máscaras, para evitar a contaminação no ambiente de trabalho.

O Estado: m caso da possibilidade de testes rápidos para a covid-19 em farmácias, quais são os riscos e em que auxiliaria a população?

Gizelli: Ontem a Anvisa liberou os testes rápidos em casos excepcionais em farmácias. Existe no momento uma divisão, há aqueles que concordam e os que descordam.

Os que concordam, defendem porque nós temos inúmeras farmácias espalhadas no Brasil todo, o que facilitaria o deslocamento até o local, também por sermos um dos primeiros estabelecimentos que a pessoa procura para o tratamento.

Os que não defendem se preocupa com o controle de qualidade em que serão realizados o teste. É preciso de um ambiente adequado, que o próprio farmacêutico esteja presente para fazer o exame, pois ele é o profissional mais qualificado para tal coisa dentro das farmácias; se terá realmente controle de qualidade, coleta adequada, tempo expositivo correto para fazer a coleta do paciente, ser bem explicado, porque se não poderão ter vários falso-negativos.

A ANVISA publicou nota com orientações que as farmácias devem seguir, mas não sabemos se elas realmente irão ou se teremos como acompanhar cada uma. Por isso, indico que as pessoas vão apenas em farmácias com certificado de regularidade do conselho de farmácia e sempre procure se ela tem o farmacêutico para ser atendido por ele.

No Brasil existem inúmeras farmácias ilegais, que não possuem certificado para a venda de remédios.

O Estado: O paciente que tiver sintomas leves e tiver que ficar em casa, quais são as indicações em relação a medicamentos?

Gizelli: O paciente que tiver sintomas leves e ficar em casa, em relação a medicamentos a gente não pode fazer a prescrição de medicamentos dessa forma. É necessário ver seus sintomas, se realmente pode tomar um medicamento e se não terá que ser encaminhado para uma Unidade de Saúde.

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