Artigo

Parem de politizar

Anna Graziella Santana Neiva Costa

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

O COVID 19 desconstruiu alguns paradigmas e reforçou outros! Um deles é que questões atinentes a infecções virais e pandemias se resolvem com ciência, não com proselitismo partidário e muito menos ignorância. Artigo do professor da Universidade de Nova York, Jay Bavel, no Washington Post, aborda a seriedade da pandemia e a razão pela qual autoridades científicas pareciam falar com moucos.

Com milhares de mortos por todo o mundo, quando a vida é (ou deveria ser) a pauta, persistem as condutas de achar na polarização política e no desconhecimento da autonomia dos sistemas, a maneira de debater um fato sem precedentes na nossa história recente. Conclusão fácil: há algo de muito equivocado nas profundezas do egoísmo humano!

Professor Bavel constatou que nos Estados Unidos as mortes pelo coronavírus guardam relação com a dicotomia política Republicanos x Democratas. As posições antagônicas entre os dois partidos sempre foi a tônica no universo americano.

O proselitismo partidário, no Brasil, acredita ser a arma letal no combate do coronavírus. A discussão partidária desfocada do único subsistema alto a resolver algo - a ciência - alimenta parcela da população exposta às graves consequências de um vírus que destrói estruturas governamentais e, consigo, desarranja do pacto federativo ao sistema de saúde pública.

Vale destacar aos agressores da democracia: o coronavírus é tão empoderado que isolou líderes populistas.

Steven Levitsky, coautor de “Como as Democracias Morrem”, afirma que o desprezo pela ciência e pelos especialistas caiu por terra com o avanço da pandemia, levando líderes políticos como Trump, nos EUA, Bolsonaro, Obrador, no México, a correrem risco de isolamento e perder ainda mais popularidade em decorrência da crise econômica que se avizinha.

Em regra, líderes populistas transformam opositores em inimigos ferozes dificultando o estabelecimento de cooperação mútua entre os poderes, entre o Presidente, governadores e prefeitos, players essenciais na condução dos trabalhos nesse momento.

Em tempos de pandemia temperança, lucidez, solidariedade. O estímulo ao confronto partidário e a preleção colérica contribuem para o aumento de mortes e para a segregação de líderes autoritários.

Enfraquecer o pacto federativo no exato momento em que estudiosos apontam para necessidade de um modelo de gestão ou de legislação mundial globalizada não salva vidas. O vírus não reconhece fronteiras e nem ideologias. Marx morreria! Adam Smith também! Porém, os ignorantes morrem primeiro, e matam muitos!

Ferrajoli, jurista italiano, alerta para o fato de problemas globais não fazerem parte das agendas nacionais. O autor de Constitucionalismo além do Estado defendeu às vésperas da constatação do primeiro contágio na Itália, uma Constituição da Terra. Ferrajoli destaca que a pandemia torna a falta de instituições globais adequadas ainda mais visíveis e urgentes.

Enquanto sociólogos e filósofos mundo afora debatem a estrutura mundial, o Supremo Tribunal Federal já conta com mais de 400 ações ajuizadas cujo motivação é o coronavírus.

O ativismo era uma realidade brasileira. Considerando a definição de Émile Durkheim, poderia ser um fato social. Ao meu sentir, a beligerância instalada na sociedade brasileira reflete nossa flagrante incapacidade de deixar de lado as diferenças e pensar no melhor para as estruturas democráticas e para o povo brasileiro.

Diz o escritor e poeta argentino Jorge Luís Borges: se todos os caminhos levam à morte. Perca-se!

Advogada, Pós-Graduada em Direito Constitucional e em Ciência Jurídico-Políticas; MBA em Direito Tributário; Pós-Graduanda em Direito Eleitoral e membro da Comissão Especial Eleitoral do Conselho Federal da OAB; Mestranda em Ciências Jurídico-Políticas. E-mail: annagraziellasnc@hotmail.com

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.