Artigo

A liberdade no Carnaval

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

O Carnaval é o melhor tempo de alegria e de prazer no calendário anual. É a festa mais nacional do Brasil, e a liberdade é o principal sentimento humano no reinado de Momo. Liberdade, nesse período de alegria, significa principalmente o direito de agir e de ser conforme dita o livre arbítrio do indivíduo. Cada um se apresenta e se manifesta de acordo com os seus sentimentos e sua liberdade é posta em prática não como quer a filosofia, mas a independência do ser humano, prosperando sua vontade de folião.

Através da liberdade, o homem demonstra sua inteligência, sua moral e ética, fazendo-se conhecer como um ser cultural que é. Foi através dessa conquista que o homem venceu todos os grilhões que lhe foram impostos, alcançando espaços e vencendo dificuldades, pois o homem nasceu para ser livre vencendo as forças estranhas que ameaçam sua liberdade. Ninguém trata tão bem esse assunto como Santo Agostinho em sua obra De Libero Arbítrio. Para ele, o livre arbítrio vem a ser a possibilidade de escolher entre o bem e o mal. A liberdade existe quando se faz uso do livre arbítrio. Na liberdade entra o elemento fundamental que é a verdade, o que no livre arbítrio é, antes de tudo, uma faculdade.

Existe uma íntima relação entre liberdade e carnaval. Enquanto a liberdade demonstra uma ausência de submissão, o carnaval define-se como um conceito que designa ímpetos de alegria e prazer, mesmo que algumas pessoas extravasam seus sentimentos. Apesar disso, o ser humano é frágil e vulnerável por natureza perante às intempéries da vida cotidiana. Gostamos de encontrar o carnaval e nele sermos pessoas livres.

Essa concepção de liberdade pode nos levar a alterar radicalmente nosso equilíbrio, fazendo-nos esquecer valores que nos pareciam os melhores. O ritmo carnavalesco segue em diferente trajetória à qual ou nos adaptamos ou seremos arcaicos e ultrapassados.

A vida humana tem suas contradições, quase sempre, independentes da vontade do homem, da prática do seu livre arbítrio. Ao mesmo tempo em que o homem luta pela necessidade de ser livre, depara-se com as dificuldades de sê-lo. Se não atinge sua liberdade plena, deixa de atingir até sua liberdade satisfatória. O homem é livre, apesar de preso. Seus pensamentos são sempre livres, embora a liberdade continue a ser um sonho, mesmo que seja um sonho impossível, como diz a música de Chico Buarque e Ruy Guerra.

A vida do homem tem várias exigências transitórias, aquelas que ocorrem em momentos diferentes, às vezes sem retorno, todavia, a liberdade é uma exigência permanente, adaptando-se aos tempos, aos fatos e ao ritmo da vida. Ninguém, num processo natural da vida, morre como nasceu, pois somos, enquanto vivemos, fabricantes de experiências. O tempo nos levou a fazer opções - ficamos com o passado, onde não há ruptura com a liberdade de nossos antepassados; vivemos no presente, sujeitos às vicissitudes da sociedade superindustrial ou marchamos rumo ao sol, caso de liberdade sem responsabilidade, vivendo a vida de um futuro incerto.

Sabemos que a liberdade de decisão e a atração pelo novo levam o jovem à uma nova paixão rumo ao desconhecido. São jovens que se deixam levar por um novo ritmo acelerado de vida. Não há dúvidas de que a sociedade superindustrial liberará o homem de conexões e princípios do passado, sobretudo no âmbito familiar e na convivência social.

Com a chegada do carnaval, vem-nos a alegria de viver livre. Vamos pular, dançar e gritar. O Carnaval não é uma ilusão, é uma realidade, mesmo com a fantasia. No entanto não podemos esquecer que sempre haverá um dia seguinte em que avaliamos nosso carnaval e nossa liberdade e que no próximo carnaval seremos diferentes. Das cinzas nascerá um novo Carnaval e uma nova liberdade.

Aldy Mello

Ex-reitor da UFMA e do CEUMA, fundador da ALL e membro efetivo do IHGM

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