Artigo

Meu amigo celular

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

Ao despertar num sábado, dia bonito para aflorar as relações entre amigos, percebi um vazio imenso que me incomodou, ao verificar a ausência de opções antes rotineiras, que era visitar pessoas ou recebê-las em nossas casas. Sábado era um dia sagrado para essas relações interpessoais, onde as famílias se confraternizavam trocando afagos, favores e cumpriam suas obrigações sociais de forma presencial e coloquial. Velhos tempos consumidos pelos meios de comunicação de massa, que encurtaram distâncias e transformaram o mundo numa aldeia tecnológica onde o carro chefe chama-se celular.

Esse amigão desenvolvido para preencher todos os espaços, ficou tão vulgarizado que não respeita idade, nem sexo, muito menos credo, ele é apenas um aparelho socialmente correto e democraticamente perfeito. Confesso minha paixão e ódio por esse devastador de amizades e facilitador de conversas, onde vários tipos de funções ajudam na comunicação de todo tipo de pessoa seja ela cega, muda, surda. Assim ele entrou em nossas vidas provocando uma revolução mundial de forma irreversível sem possibilidade de caducidade, mas sim de perenidade, sendo, portanto, um transformador de comportamento além de indutor de desenvolvimento.

Muitas vezes chego no interior do Estado com aquela sabedoria de quem mora na capital e fico surpreendido com a minha ignorância em relação ao povo interiorano, que me presta informações mundiais fresquinhas e fora do meu conhecimento. Redes sociais, grupos de amigos, tudo isso provoca um mundo de informações jogado na cabeça de todos numa avalanche de notícias espantosa, transformando as pessoas em meros instrumentos condutores e receptores de informações.

O gestor público não tem mais razão de falhar em suas ações administrativas, visto que tem em mãos todas as informações necessárias para o bom desempenho das suas funções, bastando para isso usar um pouquinho da tecnologia que transporta no bolso através do famigerado celular. Entendo agora a estratégia do presidente Bolsonaro que levou de roldão raposas velhas e partidos gigantescos da política brasileira, ele usou e abusou do aparelhinho sem vergonha, invadindo a privacidade dos lares, espalhando notícias, criticando velhos hábitos como por exemplo a compra de votos, enfim foi uma eleição transformadora dos antigos costumes, trazendo o povo para uma nova realidade, o que significa dizer que o Brasil não aceita mais retrocesso.

O Maranhão caminha trôpego na busca de um lugar ao sol, com mais de cinquenta por cento de miseráveis, ou seja, aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo precariamente, que não teriam perspectiva sem a modernização dos meios de comunicação. Assim sendo, a pobreza encontrou um meio de protestar e desabafar ao se utilizar do pequeno instrumento e parceiro inseparável chamado celular, o que parece ser um milagre de Deus que fala, escuta, grava e interfere na vida das pessoas. Precisávamos desse milagre que veio para combater todos os males do mundo e promover o diálogo entre os povos gerando expectativas, paz, conciliação, críticas e autocriticas, além de opções múltiplas na forma de viver e se comportar.

Esse é o remédio que faltava no laboratório humano, capaz de construir um mundo bem melhor, mesmo que muitas vezes também provoque saudades de um amigo tão perto e tão distante, que fisicamente nunca mais nos vimos e abraçamos.

Valdemir Verde

Ex-prefeito de Humberto de Campos, atual vereador e aposentado do Banco do Brasil


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