Avaliação

Pobreza na Argentina chega a 40,8%, diz estudo de universidade

Macri, que assumiu Presidência com promessa de ''pobreza zero'', deixará poder com os piores indicadores desde a crise de 2001

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Uma mulher com uma menina em Villa Fiorito, Buenos Aires, Argentina
Uma mulher com uma menina em Villa Fiorito, Buenos Aires, Argentina (Reuters)

BUENOS AIRES - Mauricio Macri, que assumiu o governo com a promessa de “pobreza zero” e pediu para que o seu governo fosse avaliado pelo número de pobres que deixaria, encerrará sua Presidência com mais de 40% dos argentinos abaixo da linha da pobreza, segundo a Universidade Católica Argentina (UCA).

O Observatório da Dívida Social da UCA informou que até o terceiro trimestre do ano, os últimos dados calculados para 2019, a pobreza afetava 40,8% da população. Em 2018, o número foi de 33,6%, subindo mais de sete pontos em um ano. Esses são os valores mais altos desde a crise de 2001 e mais de 10 pontos acima dos deixados por Cristina Kirchner.

A pesquisa da UCA sobre a pobreza é a mais tradicional da Argentina, e desta vez foi coordenada por Agustín Salvia. Ela indicou que 59,5% das crianças e adolescentes entre 0 e 17 anos vivem abaixo da linha da pobreza. Os sem-teto atingiram 8,9% no mesmo período estudado. Um ano antes, esse indicador era de 6,1%, segundo a instituição. Os especialistas da UCA também calcularam que 14,8% de crianças e adolescentes vivem em lares carentes.

"No terceiro trimestre de 2018, os sem-teto registraram um forte aumento em relação aos anos de 2018 e 2017, atingindo os maiores valores da década. A pobreza afeta com maior intensidade os segmentos sociais da classe trabalhadora marginal e as famílias dos subúrbios de Buenos Aires", informou o documento da universidade, que é muito próxima ao Papa Francisco.

Segundo a UCA, há na Argentina 16 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. A pesquisa diz também que 3,6 milhões de argentinos vivem em condições de indigência.

A equipe liderada por Salvia estimou também que existem sete milhões de crianças pobres em todo o país, e que 2,8 milhões de crianças entraram nessa condição no último ano.

Os dados oficiais de pobreza do primeiro semestre divulgados pelo Indec mostram uma pobreza de 35,4%. Os próximos dados oficiais serão publicados apenas em 31 de março de 2020. Até a semana passada, o Ministério das Finanças não esperava que o índice atingisse 40%.

"A deterioração das capacidades econômicas foi mantida no ano passado, mostrando um aumento nas taxas de indigência e pobreza das famílias e da população entre o terceiro trimestre de 2018 e o mesmo período de 2019", disseram os analistas da UCA

“Os resultados obtidos mostram uma forte reversão da recuperação observada nas condições econômicas das famílias durante o ano de 2017”, analisou a equipe liderada por Salvia. “Desvalorizações repetidas, inflação crescente, estagnação, aumento do desemprego e medidas de ajuste acordadas com o FMI explicam a deterioração”, diz o documento.

“Nesse contexto, a evolução da renda proveniente do trabalho e de outras atividades das famílias de baixa renda média caiu abaixo da inflação experimentada pelos preços dos bens e serviços básicos de consumo, o que explica o acentuado aumento da pobreza”, resume o documento divulgado pela UCA no mesmo dia em que o presidente Mauricio Macri falará sobre sua herança aos argentinos em cadeia nacional.

"A deterioração do poder de compra ocorreu em particular nos domicílios pertencentes aos estratos mais baixos da distribuição de renda. Há uma maior deterioração do trabalho devido à perda ou deterioração do emprego, além da impossibilidade de compensar isso com empregos alternativos. Isso explica o aumento da taxa de indigência e o aumento da pobreza. Todos estes fatores tiveram efeitos regressivos em termos de desigualdade econômica ", concluiu o estudo.

"Embora esses números doam, temos que olhá-los de frente, como temos feito todos esses anos", disse Macri meses atrás, antes do Indec divulgar dados de pobreza no primeiro semestre, enfatizando que “há dados confiáveis”, o que não acontecia durante o kirchnerismo, que interrompeu as medições.

Plano de Fernández

Em meados do mês passado, Alberto Fernández lançou um plano contra a fome em Puerto Madero, em Buenos Aires, com a participação de várias organizações da sociedade civil. Na ocasião, o presidente-eleito da Argentina disse que seu plano "não será o plano de um governo, mas de toda a sociedade. Este será o épico de todos os argentinos".

"Um garoto mal alimentado no início de sua vida é um garoto que terá pior desempenho no futuro. Estamos em um momento em que o conhecimento enriquece as sociedades e precisamos ter argentinos que possam assumir o compromisso do futuro", disse Fernández. "Temos que mudar a estrutura argentina, se continuarmos fazendo o mesmo, teremos os mesmos resultados".

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