Bate-papo

Trajetória de Héctor Babenco exaltada no Maranhão na Tela

Atriz e diretora Bárbara Paz apresenta nesta segunda, no Kinoplex, documentário vencedor do Festival de Veneza deste ano

Carla Melo / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Bárbara Paz em momento com o cineasta Héctor Babenco
Bárbara Paz em momento com o cineasta Héctor Babenco (Bárbara e Héctor)

São Luís - A diretora e atriz Bárbara Paz estará em São Luís nesta segunda-feira, às 19h, no Kinoplex (Golden Shoping - Calhau), para acompanhar a exibição de seu filme “Babenco – alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou” que ocorre dentro da programação do Festival Maranhão na Tela. O evento começa neste domingo e se estende até o dia 7 de dezembro, com exibições de filmes no Kinoplex e programação também na Escadaria do Giz (Praia Grande) e Grand São Luís Hotel (Praça Dom Pedro II). Após a exibição, Bárbara Paz participa de um bate-papo com a plateia. A entrada para as sessões são gratuitas e os ingressos devem ser retirados no próprio cinema.

O longa foi vencedor do prêmio de melhor documentário do Festival de Veneza deste ano e homenageia o diretor Hector Babenco, que faleceu em 2016. São deles filmes como “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia” (1977) e “Pixote, a lei do mais fraco” (1980), ambos baseados em livros do jornalista e roteirista maranhense José Louzeiro. O filme traz depoimentos de William Dafoe, Selton Mello, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, entre outros. Em entrevista exclusiva ao Alternativo, Bárbara Paz fala sobre a produção, a relação com Babenco e sua carreira.

Seu documentário relata os últimos momentos do Héctor Babenco, com quem você tinha uma relação de amor em diversos aspectos. Como foi a decisão de fazer o filme e quais sentimentos este trabalho desperta em você?

O filme foi uma decisão conjunta. Ele queria muito deixar registrado seus pensamentos, impressões sobre o cinema, sobre o viver e sobre partir. O filme começou com a ideia de ser sobre memória, mas acabou sendo sobre despedida também. Mas acima de tudo, é um filme sobre amor ao cinema, à vida. É forte, porque é um filme de um grande artista, grande cineasta e, sobretudo, de um grande pensador que soube viver bem fazendo o que mais amava.

“Babenco – alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou” foi premiado no 76º Festival de Veneza. Fale um pouco sobre a importância dos festivais para o cinema de um modo geral e, em particular, para o seu filme.

O prêmio para mim foi como um presente de credibilidade, de reconhecimento, acho que é um aval que devo continuar nesse caminho. É meu primeiro filme, primeiro longa, foi um voto de confiança, assim como ele me deu. Receber esse prêmio grandioso, um leão de ouro, é muito importante para o cineasta. Agora é seguir nessa estrada, continuar contando histórias, fazendo mais filmes.

Como é sua relação com a crítica especializada e qual peso você dá para a opinião do público?

No início eu achava que o filme só ia interessar para mim, porque é uma história muito pessoal, então, tinha medo que não interessasse ao outro, olha que loucura! Interessou tanto não só àqueles que conheciam a obra dele, como também àqueles que não conheciam. Ele aconteceu como um filme independente dos filmes dele. Um filme sobre um grande homem que era um grande cineasta, então, a importância do público e da crítica é fundamental para saber que o filme chegou com a mensagem que você quis passar, que as pessoas entenderam. Isso é gratificante, é o que a gente espera e quer quando faz, principalmente um documentário com uma história tão difícil de contar, montar um quebra-cabeça sobre a vida de alguém.

O filme é sua estreia como diretora. O que o público pode esperar a partir disso? Podes adiantar seus planos?

Agora quero continuar contando histórias, quero ter a possibilidade de poder fazer mais filmes e vou seguindo esse caminho, mas também seguindo com minha carreira de atriz, não vou deixar de atuar. Mas vou seguir com a direção, que é o que eu sempre quis, com esse aval que alcancei recebendo esse prêmio e, enfim, recebendo tantas respostas positivas a respeito do filme e da direção. É um voto de confiança para eu continuar.

Seu documentário será exibido no Maranhão na Tela, um festival fora do eixo Rio/São Paulo. Para você qual a relevância destes eventos e como fazer para que a circulação artística seja mais eficiente no Brasil?

Sair do eixo Rio/São Paulo é fundamental. O filme tem de ser mostrado no Brasil inteiro e a gente tem que dar acesso ao público de conhecer novas formas de fazer cinema, descobrir outras possibilidades de captar. Temos de alimentar os festivais trazendo o cinema brasileiro e estou muito feliz de trazer o meu filme para o Maranhão.

A história também deu origem a um livro, “Mr. Babenco”, organizado por você. Em sua opinião as duas obras se completam?

O livro nasceu junto com o filme, são duas obras complementares e digo sempre que o livro é uma longa conversa, minha e dele. Traz não só os pensamentos, mas os poemas que ele guardava ao longo da vida, desde a adolescência e tudo o que escreveu em 50 anos. O primeiro desejo dele era ser poeta, então esse livro traz o Héctor inteiro: a infância, a juventude, a saída da Argentina pro Brasil e depois pra Europa. Conta a trajetória dele no cinema, os filmes e também da doença. Então é começo, meio e fim.

O diretor Hector Babenco dirigiu “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia” e “Pixote, a lei do mais fraco”, ambos baseados em livros do jornalista e roteirista maranhense José Louzeiro. Para você qual a importância destes filmes para cinematografia brasileira?

Os filmes do Héctor, em especial os que trazem histórias do Brasil como “Pixote”, “Lúcio Flávio” e “Carandiru” são de uma importância fundamental pro país. Ele retratou um Brasil de uma realidade crua de um país que existiu e existe. Ele teve coragem de falar, de fazer filmes, mesmo com tantas negativas, críticas e medo. Ele foi ameaçado de morte por “Lúcio Flávio”, em “Pixote” ele foi hostilizado até conquistar todos os prêmios fora do Brasil, aí sim deram valor ao “Pixote” que é considerado um dos maiores filmes do mundo. O Brasil tem de lembrar sempre com uma memória gigante desse homem que passou por essa vida e deixou uma grande marca, uma grande história para o nosso país.

Saiba Mais

Sobre o Maranhão na Tela

A 12ª edição do Festival Maranhão na Tela será aberto com a exibição de “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, do cearense Karim Ainouz, representante nacional no Oscar 2019, o longa passa neste domingo, às 19h, na Sala KinoEvolution, no Golden Shopping Calhau. O filme ganhou o prêmio principal da mostra paralela “Un Certain Regard” (Um certo olhar), a segunda mais importante do Festival de Cannes. Outro destaque da programação é o filme “Pacarrete”, que ganhou Los Angeles e Gramado, com a atriz Marcélia Cartaxo no papel principal. Pelo segundo ano consecutivo, o evento contará com a participação de filmes e diretores das regiões Norte e Meio Norte. O Maranhão na Tela terá longas de quatro cineastas da região Nordeste, homenagem às atrizes Marcélia Cartaxo e Áurea Maranhão, mostras competitivas e informativa, além de curtas nacionais e internacionais do festival Animart!. O festival terá, ainda, debates e depoimentos, painéis, rodada de negócios e laboratórios de formatação de projetos, no Ambiente de Mercado, o MNT Lab, no Casarão Tech (Praia Grande), além de retrospectiva com curtas clássicos de anos anteriores e competitiva de videoclipes.

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