Especial

Vitória da estratégia com uma pitada de milagre: os 405 anos da batalha de Guaxenduba

Registrado onde hoje fica a cidade de Icatu, duelo entre franceses e portugueses foi marcado pela compensação feita pelos lusos derrotando os favoritos

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

A história da Ilha do Maranhão é, basicamente, contada pela vinda da comitiva do Senhor de La Ravardière (Daniel de La Touche) às terras até então povoadas pelos indígenas e aqui descobriram um novo território. Após o fato, na primeira metade do século XVII – mais especificamente em 1612 –, outros países começaram a ver no que seria futuramente a capital maranhense uma oportunidade de expansão de seus horizontes. Uma destas populações – os portugueses - por aqui se estabeleceram e, após fincarem a presença em um dos pontos de São Luís, viraram ameaças.

Foi aí que ocorreu uma das batalhas mais épicas dos registros antigos da cidade. Com seis horas de duração, a famosa batalha de Guaxenduba que, na historiografia oficial aconteceu no dia 19 de novembro de 1612 (iniciada às 10h e finalizada próximo das 16h), onde atual­mente estão os limites da cidade de Icatu é destes fatos que envolvem interesses comerciais, estratégia de guerra e religiosidade. A batalha completará, neste mês, 405 anos.

O Estado, nas últimas semanas, se debruçou em contar aspectos pouco conhecidos deste fato bélico e sangrento, que terminou com a vitória surpreendente das forças lusas. Especialistas e estudiosos do tema deram suas versões e a conclusão deles é a mesma: trata-se de uma das maiores batalhas registradas no estado.

Para entender o que aconteceu no confronto, é necessário saber o que o precedeu. De acordo com estudos pioneiros do professor José Almeida, autor da obra: “Icatu: Terra de Guaxenduba”. O exemplar – fruto de pesquisa do docente executada durante duas décadas – faz menção a mais de 70 autores e define a “célebre” batalha como única.

O começo: franceses aqui estavam
Entre a descoberta das terras ludovicenses e o início da batalha de Guaxenduba, passaram-se dois anos. Nes­te período, enquanto os franceses aqui estavam, os portugueses organizaram uma comitiva para o Maranhão. Localizadas em Pernambuco, as tropas lusas – comandadas por Jerônimo de Albuquerque – vieram para a capital ma­ranhense com o objetivo de expulsar os franceses.

Segundo José Almeida, primeiramente os portugueses se estabeleceram na foz do rio Periá, onde estabeleceram um forte (batizado de Santa Maria, em referência ao símbolo católico fincado nestas terras). Aqui, celebraram uma missa que, de acordo com a pesquisa, foi a primeira de São Luís.

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No dia 28 de outubro de 1614, dois dias após a chegada dos portugueses, os franceses tomaram a iniciativa da luta contra os agora rivais portugueses. Eles embarcaram no Forte de Itapary (onde é atualmente a cidade de São José de Ribamar).
Ao atravessarem a Baía de São José, as forças de Daniel de La Touche (400 homens reforçados por 3.000 índios em 56 canoas) chegaram até a praia de Santa Maria, em Icatu, onde os portugueses estavam em minoria (eram apenas 100 no total, acompanhados por outros 180 indígenas).

Um “inferno na praia”
Uma verdadeira carnificina! Este foi o cenário observado pós-batalha na faixa de areia famosa da orla maranhense. As técnicas dos portugueses de enfrentamento de guerras, aliadas à coragem dos silvícolas tupinambás, equilibraram um jogo que, em tese, era favorável somente aos franceses.

Anos mais tarde ao conflito, o português Diogo de Campos Moreno – em sua obra “Jornada do Maranhão” feita a pedido da família real, escreve que a batalha foi “um verdadeiro inferno na praia”. O fator “surpresa” montado pelas forças portuguesas surpreendeu os franceses e se tornou o fator essencial para os lusitanos.

O historiador e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Euges Lima, aponta – com base em relatos antigos – que os franceses e portugueses estabeleceram uma baixa de 150 combatentes. Nove dos 200 prisioneiros nas embarcações também foram mortos.

Segundo pesquisadores da época, dentre os mortos do lado francês, estava o comandante das forças armadas, De Pizieux, e outros oficiais da alta patente. De acordo com relatórios, do lado português – apesar da sangria e do cenário catastrófico pós-conflito – o número de mortos foi bem inferior (10 pessoas). Outras 18 pessoas foram feridas.

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