Eleição contestada

Morales acusa opositores de discriminar voto indígena

Presidente da Bolívia diz que foi eleito democraticamente; manifestantes bloqueiam ruas em La Paz em protesto contra a reeleição do dirigente, em meio a denúncias de fraude e questionamentos internacionais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Evo Morales fala a apoiadores em Cochabamba: resultados contestados
Evo Morales fala a apoiadores em Cochabamba: resultados contestados (Reuters)

LA PAZ — Depois que a Organização dos Estados Americanos ( OEA ), a União Europeia, os Estados Unidos e três países da região, incluindo o Brasil, questionaram sua reeleição no primeiro turno, anunciada oficialmente na noite de quinta-feira, o presidente boliviano, Evo Morales , acusou, na sexta-feira, 25, “alguns setores” de discriminar o voto indígena. Nas ruas, manifestantes aumentaram a carga nos protestos que começaram ainda no domingo, um dia após a votação, interditando vias em La Paz em protesto contra a reeleição.

Os votos rurais, geralmente os últimos a serem computados, são majoritariamente a favor do governista Movimento ao Socialismo ( MAS ), uma tendência que se repete desde 2005, quando Morales, de origem aimará, foi eleito pela primeira vez, em primeiro turno, com 54% dos votos.

“Infelizmente em nossa história havia o costume de excluir e ignorar os direitos do movimento indígena originário do campo. Hoje a história se repete com alguns setores que querem repetir essa discriminação com o voto do campo que nos deu a vitória”, escreveu no Twitter. “É a quarta eleição que ganhamos democraticamente. Nos impusemos com mais de meio milhão de votos. Estou muito agradecido ao movimento indígena; nunca me abandonaram”, acrescentou.

Voto popular

A oposição reagiu. O candidato derrotado Carlos Mesa, da Comunidade Cidadã, Carlos Mesa, acusou na sexta-feira,25, o governo por estar menosprezando o voto popular.

"O governo está desprezando as gigantescas mobilizações em todos os departamentos (estados) do país (e) uma paralisação indefinida que é cumprida rigorosamente", disse em entrevista ao canal Unitel.

O questionamento do resultado começou no domingo, quando o primeiro boletim da chamada "contagem rápida", que não é a oficial, indicou, com cerca de 85% das urnas apuradas, que haveria um segundo turno entre Morales e o ex-presidente Carlos Mesa, seu principal adversário. Já na segunda, no entanto, a mesma contagem começou a indicar que o atual presidente se encaminhava para a vitória em primeiro turno.

Chanceler nega fraude

Apenas na quinta-feira, 24, quatro dias após a votação, o Tribunal Supremo Eleitoral confirmou a reeleição do presidente, com mais de 99% das urnas apuradas, segundo a contagem oficial. Morales obteve 47,07% dos votos, contra 36,51% do oposicionista e ex-presidente Carlos Mesa, uma diferença de 10,56 pontos percentuais.

"Tem que haver um segundo turno. O árbitro eleitoral lamentavelmente não é confiável", disse na sexta-feira,25, o parlamentar opositor Marco Antonio Fuentes ao se referir à interrupção súbita da apuração preliminar no domingo, que gerou as dúvidas sobre o resultado.

Pelas regras eleitorais bolivianas, a votação se decide no primeiro turno se um candidato obtiver 50% dos votos mais um ou se obtiver mais de 40% e a diferença em relação ao segundo colocado for de mais de 10 pontos percentuais.

Horas antes do anúncio oficial, durante uma sessão extraordinária na sede da OEA, em Washington, o chanceler Diego Pary negou a existência de fraude na eleição , e disse que o governo está à disposição para que a organização audite todos os votos.

A esta altura, a organização já havia pedido a realização de um segundo turno, ainda que o resultado oficial confirmasse a vitória de Morales no primeiro. A OEA foi seguida pela União Europeia , que também defendeu a ideia “para restabelecer a confiança e assegurar o respeito pleno à escolha democrática do povo boliviano”, além de Brasil , Argentina , Colômbia e EUA .

"A OEA, como observadora do processo eleitoral, e a comunidade internacional devem respeitar a Constituição boliviana. Não quero pensar que a missão da OEA já esteja participando de um golpe de Estado. Existe um golpe de Estado (orquestrado) interna e externamente. A OEA como um todo deveria avaliar a si mesma, e também a missão que enviou", afirmou Morales, na quarta-feira,23.

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