Asilo político

Morales chega ao México após complexa negociação de voo

Brasil, Equador e Peru concederam autorização para que aeronave cruzasse seus espaços aéreos; após impasses com Lima, voo fez escala no Paraguai; Morales foi recebido no Aeroporto Internacional da Cidade do México

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Presidente Evo Morales desembarca na Cidade do México, após receber asilo
Presidente Evo Morales desembarca na Cidade do México, após receber asilo (Reuters)

CIDADE DO MÉXICO - Após uma complexa negociação diplomática, a aeronave da Força Aérea Mexicana que carregava Evo Morales finalmente pousou na Cidade do México. O presidente e seu vice, Álvaro García Linera , receberam asilo do governo de Andrés Manuel López Obrador após renunciarem no último domingo, em meio a pressões da oposição radical e de militares.

Morales foi recebido no Aeroporto Internacional da Cidade do México pelo chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, e voltou a afirmar que foi vítima de um golpe de Estado "cívico, político e policial".

"Enquanto eu tiver vida, continuarei na política. Enquanto eu tiver vida, continuarei lutando. Estamos seguros que todos os povos do mundo têm o direito de se libertar", disse Morales, acompanhado de seu vice e da ex-ministra da saúde, Gabriela Montaño. "O mais importante é estar com vida, isso nos permite lutar ao lado do povo boliviano".

Ao desembarcar, ele disse ainda que se é culpado de algum crime, é de ser indígena e anti-imperialista e que está "muito agradecido" porque o governo mexicano "salvou sua vida". Segundo o presidente demissionário, no sábado, um dia antes de sua renúncia, um integrante de sua equipe de segurança o informou sobre mensagens e ligações para que o entregassem em troca de US$ 50 mil dólares.

'Périplo'

O avião que levou Evo para o México — um Gulfstream 550 da Força Aérea Mexicana — pousou na capital por volta das 14h desta terça-feira (hora de Brasília), cerca de nove horas após decolar de Assunção, no Paraguai, onde fez escala. A aeronave havia partido da Bolívia às 23h de segunda-feira, pousando na capital paraguaia por volta de 1h35m da manhã de terça.

Em entrevista coletiva ontem, 12, o chanceler mexicano relatou a complexa negociação diplomática necessária para que Morales conseguisse chegar ao México — algo classificado por ele como um "périplo por diferentes espaços aéreos e decisões políticas" da América Latina.

O Gulfstream chegou na segunda-feira,11, a Lima, onde precisou esperar autorização do comando da Força Aérea da Bolívia para ingressar em seu território e buscar Morales na cidade de Chimoré. Com o aval concedido, o avião decolou do aeroporto peruano, mas teve sua entrada no espaço aéreo boliviano negada. Ele precisou retornar ao Peru até que os diplomatas mexicanos negociassem uma nova autorização, concedida horas depois.

O plano inicial, segundo Ebrard, era que o avião fizesse o mesmo trajeto de volta: reabastecer em Lima e seguir viagem para o México. No entanto, por via de seu chanceler, o governo peruano negou permissão para que a aeronave voltasse a pousar em seu território, citando "razões políticas".

Com o impasse, o presidente demissionário precisou prolongar sua espera no aeroporto de Chimoré. Segundo o chanceler mexicano, isto gerou uma enorme tensão porque manifestantes pró-Morales ocupavam os arredores do aeroporto, enquanto integrantes das Forças Armadas estavam em seu interior.

Plano B

O plano B da diplomacia mexicana foi entrar em contato com a Chancelaria paraguaia. Segundo Ebrard, Assunção permitiu que o avião pousasse para reabastecer e permanecesse em seu território pelo tempo necessário porque "entendiam as circunstâncias em que estávamos" e porque isso poderia "se converter em uma trágedia". O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández , também participou da negociação, falando diretamente com o presidente Mario Abdo Benítez .

Para isso, a diplomacia boliviana voltou a entrar em contato com o governo do Peru, que permitiu o sobrevoo em seu espaço aéreo, e com o Equador, que deu autorização para que a aeronave fosse reabastecida em seu território. Para isso, no entanto, seria necessário que o avião cruzasse novamente o território boliviano — algo que foi negado.

Buscando outra solução, o embaixador brasileiro em La Paz e o embaixador mexicano em Brasília entraram em contato com o Itamaraty , que permitiu à aeronave atravessar o território brasileiro. O Ministério de Relações Exteriores disse que a autorização foi concedida imediatamente. Durante a entrevista, Ebrard agradeceu a atitude do governo brasileiro.

A rota prevista era que o avião sobrevoasse o território peruano e, de lá, cruzasse o espaço aéreo do Equador até o México. Com a aeronave no ar, no entanto, o governo equatoriano revogou sua autorização de sobrevoo, obrigando que o país fosse contornado e atrasando ainda mais seu pouso na Cidade do México.

Vácuo de poder

A renúncia de Morales deixou um vácuo de poder na Bolívia. As autoridades da cadeia sucessória, começando pelo vice-presidente Álvaro García Linera e pelos presidentes e vice-presidentes da Câmara e do Senado, todos integrantes do MAS (Movimento ao Socialismo) de Morales, também abandonaram seus cargos, levantando questionamentos sobre quem assumirá o poder.

A sucessão de Morales foi reivindicada pela segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, parlamentar da oposição. Ela reivindicou o cargo no domingo, e na segunda-feira,11, viajou do departamento (estado de Beni) para El Alto, cidade vizinha a La Paz, de onde foi levada em um helicóptero da Força Aérea para uma academia militar.

A Assembleia Legislativa boliviana se reunirá em sessão extraordinária na tarde de hoje, 13, para discutir a renúncia de Morales e sua questão sucessória.

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