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ONU vai enviar missão de direitos humanos ao Chile

Michelle Bachelet, ex-presidente chilena, recebeu pedido do governo chileno para mandar uma equipe. Santiago e outras cidades terão novo toque de recolher; o Chile enfrentou um novo dia de manifestações ontem, 24, depois dos dias de tumultos sociais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Soldado aponta arma perto de barricada em chamas em Valparaíso
Soldado aponta arma perto de barricada em chamas em Valparaíso (Reuters)

SANTIAGO - A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, anunciou que enviará uma missão ao Chile para acompanhar a situação em meio aos protestos e distúrbios que ocorrem por todo o país. Com a medida, a representante da ONU segue a solicitação feita a ela por parlamentares da oposição e pelo presidente Sebastián Piñera.

"Depois de monitorar a crise desde o início, decidi enviar uma missão de verificação para examinar as queixas de violações dos direitos humanos no Chile. Parlamentares e governo manifestaram interesse em receber uma missão", disse a ex-presidente chilena em comunicado.

A confirmação de Bachelet veio minutos depois que o ministro das Relações Exteriores, Teodoro Ribera, informou que Sebastián Piñera a contatou para pedir que enviasse pessoal. "O presidente também ratificou seu interesse em proporcionar o maior acesso a essas pessoas. O presidente também chamará pessoalmente o Alto Comissário para ratificar sua disposição de facilitar o acesso dessas pessoas onde desejarem", afirmou o ministro.

Mais manifestações

O Chile enfrentou um novo dia de manifestações ontem, 24, depois dos dias de tumultos sociais que totalizam 18 mortes e que não parecem ceder, em um país onde muitos querem voltar à vida normal, enquanto outros optam por continuar nas ruas em busca de uma mudança profunda no sistema econômico. Nesta noite, 24, a região metropolitana de Santiago e diversas outras regiões passarão mais uma vez por toque de recolher.

A Central Única de Trabalhadores (CUT) e cerca de 20 organizações sociais convocaram um segundo dia de paralisação ontem, mas, pela manhã, muitos habitantes foram trabalhar no centro de Santiago, e o comércio abriu timidamente suas portas.

"O que o presidente Piñera fez até agora é polarizar e estressar o país. Hoje temos jovens nas ruas com um rifle nas mãos contra seus compatriotas", criticou Barbara Figueroa, presidente da CUT, o sindicato mais poderoso do Chile.

Durante a noite, no quinto dia de toque de recolher, os tumultos se acalmaram no centro de capital, embora na periferia a situação permanecesse tensa, com saques e incêndios que não param. O país está em estado de emergência e com milhares de pessoas e militares nas ruas.

Plano anunciado

Ontem, 24, o presidente Sebastián Piñera anunciou um plano para acabar com o toque de recolher aplicado por cinco dias consecutivos em várias regiões do país desde que uma crise social teve início na semana passada.

"Estamos trabalhando em um plano para normalizar a vida do nosso país (...) para poder terminar com o toque de recolher e, com sorte, também poderemos suspender o estado de emergência", disse o presidente em uma mensagem à imprensa.

O plano começou a ser aplicado a partir de quarta-feira em Santiago, onde o toque de recolher foi reduzido para seis horas, das 22h às 16h.

Estado de emergência

O estado de emergência foi decretado no sábado, após um violento dia de protestos na sexta-feira pelo aumento de quase 4 centavos no bilhete do metrô. Depois, a pauta dos manifestantes incluiu outras demandas sociais, com saques em supermercados e empresas, além de queima de várias estações de metrô.

Até agora, chega a 18 o número de mortos pelas manifestações, entre eles cinco agentes do Estado, em meio a crescentes denúncias de abuso policial e militar.

Um relatório mais recente do Instituto Nacional de Direitos Humanos (NHRI) também relata que 535 pessoas ficaram feridas -- 239 delas por armas de fogo -- e 2.410 foram detidas.

[Manifestante vestido de palhaço em frente a barricada montada em Valparaíso, no Chile, nesta quinta-feira (24) — Foto: Rodrigo Garrido/Reuters]
[Manifestante vestido de palhaço em frente a barricada montada em Valparaíso, no Chile, nesta quinta-feira (24) — Foto: Rodrigo Garrido/Reuters]

Manifestante vestido de palhaço em frente a barricada montada em Valparaíso, no Chile, nesta quinta-feira (24) — Foto: Rodrigo Garrido/Reuters

Com os militares vigiando as estações das três linhas do metrô que funcionam parcialmente, muitos dos sete milhões de habitantes de Santiago tentaram retornar à normalidade sete dias após o início da crise.

No dia anterior, quatro hotéis foram saqueados e moradores usando coletes amarelos realizaram rondas de vigilância em comunidades periféricas para evitar roubos e saques.

Crise que não cede

[Manifestantes agitam bandeiras em Valparaíso, no Chile, nesta quinta-feira (24) — Foto: Rodrigo Garrido/Reuters]
[Manifestantes agitam bandeiras em Valparaíso, no Chile, nesta quinta-feira (24) — Foto: Rodrigo Garrido/Reuters]

Manifestantes agitam bandeiras em Valparaíso, no Chile, nesta quinta-feira (24) — Foto: Rodrigo Garrido/Reuters

As manifestações se tornaram um movimento muito maior, heterogêneo e sem liderança identificável, o que coloca outras demandas sobre a mesa, principalmente um aumento nas aposentadorias muito baixas no sistema de capitalização, que permanece como uma herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973- 1990).

"Esta já é a reivindicação de um país inteiro. Estamos cansados", gritou um manifestante no meio de uma multidão que fez um panelaço nas ruas de Santiago.

O anúncio de uma série de medidas por parte do presidente Piñera na terça-feira parece não ter tido o efeito desejado.

O governo prometeu uma melhoria nas pensões dos mais pobres, a suspensão de um aumento de 9,2% nas contas de luz, um aumento no salário mínimo, mais impostos para aqueles com renda mais alta e uma diminuição nos gastos parlamentares e altos salários públicos.

"Esperávamos que esse momento de conflito social aumentasse a sensibilidade, mas são as mesmas propostas de meses atrás", lamentou Izkia Siches, presidente da Faculdade de Medicina, também presente nas mobilizações.

Na terça-feira, Piñera pediu "perdão" e reconheceu sua "falta de visão" para antecipar a crise, dois dias depois de afirmar que o país estava "em guerra".

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