Pelo dia do mestre da educação

Educar e interagir: ser professor ainda é uma bênção

No dia 15, é lembrada a data referente a uma das funções nobres da arte do ensino; orgulho e reconhecimento contrastam com coação e desrespeito ao mestre

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

[e-s001]O preparo de todo o ser humano para a vida é no ambiente familiar, com a preparação do caráter da criança. Para se somar a esse processo, a figura do professor é de suma importância, já que a partir da relação educador/aluno haverá a consumação do cidadão. Ser professor não é somente ensinar o porquê das operações aritméticas ou como se dá o ciclo pluviométrico, e sim se preocupar com o futuro como homem ou mulher daquele estudante. Na próxima terça-feira (15), é comemorado o dia dedicado ao professor.

Em São Luís, são vários os exemplos de profissionais que dedicaram suas vidas única e exclusivamente na construção intelectual e humana de todo um corpo estudantil. Verdadeiros mestres, que há décadas ainda se debruçam sobre boletins e produção de aulas para o dia seguinte. No entanto, apesar das sensíveis vantagens, que superam quaisquer obstáculos relativos aos aspectos financeiros (como a desvalorização da categoria), os professores são vítimas do mundo moderno, que não mais respeita “os mais velhos” ou os sábios.

Entender as razões desta desvalorização salarial e de cargos é, primordialmente, traçar um perfil deste profissional que está nas unidades de ensino das redes pública e particular. Dados do levantamento feito pelo Interdisciplinaridade e Evidências no De­bate Educacional (Iede), com base nos dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2015 aponta que apenas 3,3% dos estudantes brasileiros querem ser professores. Quando se trata daqueles que querem ser docentes em escolas, na educação básica, o índice cai para 2,4%.

A falta de interesse pela carreira docente se dá pela preocupação com a defasagem remuneratória. Profissionais do ramo estão cientes de que é necessário o poder público investir mais no setor educacional no estado. “Quando questiono em sala de aula quem quer ser professor, praticamente ninguém levanta a mão. Isso é um sinal claro de que se prioriza outros serviços pelo salário e uma das carreiras mais nobres da humanidade está prejudicada”, disse Hilton Franco, que leciona há 23 anos em escolas e cursinhos da Grande Ilha.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cada dez profissionais do magistério, oito são mulheres no Maranhão. Em geral, o perfil deste (a) profissional está incluso na faixa etária entre 25 e 40 anos e com maioria atrelada a apenas um estabelecimento do gênero educacional. Em sua maioria, o professor no estado é ligado à rede pública municipal.



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Censo
O último Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) apontou que o Maranhão registra aproximadamente 104 mil professores. No entanto, este número deve ser superior, segundo o próprio MEC. A pasta federal somou os educadores que estão em creches e nos níveis de pré-escola, ensinos médios, fundamental e médio e ainda no ensino profissional. Destes professores, quase 75% está concentrada nos ensinos infantil e fundamental.

A alta concentração nos níveis infantil e fundamental é justificada, pois, de acordo com os educadores, é a partir da formação nestas séries que se dá o suporte do futuro universitário. Com um “bê-a-bá” bem feito, o jovem pode alicerçar para assimilar conhecimentos mais complexos. Para isso, um bom professor é imprescindível.

[e-s001]O “fera” das capitais mundiais
Pouca gente na faixa etária superior aos 30 anos pode falar que não passou por uma sala de aula administrada pelo filho de Paraibano (cidade maranhense distante 540 quilômetros da capital maranhense). A disciplina de Geografia tem como uma de suas referências a sabedoria de Hilton Franco, que ministra os conhecimentos locais e mundiais na área desde 1996.
Formado pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema), ao passar na 12ª colocação, o docente logo alcançou voos maiores e passou no primeiro concurso em 2000. Em 2005, nova aprovação em certame. Antes, o início da carreira na Cidade Operária. “Depois de lá, consegui consolidar passos ainda maiores na carreira”, afirmou.

Amante da história de países, Hilton Franco se dedicou desde novo a “decorar” as capitais do mundo. “Como sempre gostei de fazer isso, a afinidade pela Geografia tornou-se inevitável”, afirmou. O gosto se dá também por causa de dona Jesus, professora antiga do Colégio Bandeirantes, em Paraibano.

Até hoje, Hilton Franco recebe o reconhecimento dos antigos alunos dos tempos de ensino médio ou de cursinhos. Atuais promotores de Justiça relembram, com carinho, do mestre Franco. “Nunca sofri nenhum tipo de situação constrangedora ou coação. Sou ainda do tempo de dar apelidos carinhosos aos alunos. Se fizer isso hoje, vou ser acusado de fazer bullying [risos]. Não vai ser legal”, disse.

Segundo o professor, atualmente é inevitável o desafio de prender a atenção do aluno em sala de aula. “Com as tecnologias e certa perda pelo respeito à figura do professor, é cada vez mais instigante pensar em coisas novas para que a pessoa se interesse pelo que você está falando. O conteúdo somente em si, muitas vezes, não é mais suficiente”, frisou. l

PERFIL DO MESTRE

Maranhão

79,3% mulheres
20,6% homens
31,79% entre 25 e 32 anos
26,9% entre 33 e 40 anos
9,8% até 24 anos
9% mais de 50 anos
86,9% lecionam apenas em um estabelecimento
27,6% ensinam em dois ou três períodos
60,6% possuem uma ou duas turmas
66,94% dos professores são da rede municipal

Fonte: Ministério da Educação (MEC)

São Luís
16 anos em média por turma no Ensino Infantil
24,4 alunos por turma no Ensino Fundamental
30,8% alunos por turma no Ensino Médio

Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)


Casos de agressão a professores no Brasil
Agressão verbal (44%)
Discriminação (9%)
Bullying (8%)
Furto/roubo (6%)
Agressão física (5%)

Fonte: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

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