Artigo

Tempos tóxicos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

Abro os jornais, leitura obrigatória de todas as manhãs, e me deparo com manchetes escabrosas, e olhe que só leio jornais ditos sérios, nada de sensacionalismo barato, ou mundo cão.

Em um diz: “Um afixado em um poste em uma avenida de São Paulo, apresentava uma pediatra como a “melhor opção de diversão” sexual da região. Além do telefone particular, havia ainda no panfleto a foto da médica. “Médica & Puta!! Dou mais a b...que like”, dizia o cartaz, que trazia ainda o número do CRM da médica.

A referida médica ficou sabendo dos ataques por uma amiga que recolheu o material quando saía de um plantão. Não era, porém, o fim do problema.

A médica procurou a polícia e ficou sabendo que o autor dos panfletos era seu ex-marido com quem tem uma filha. Conduzido ao distrito policial, confessou ter espalhado os cartazes, em um momento de raiva, mas estava arrependido, e que o fez pois havia sido humilhado pela antiga amada. Do Amor à exposição pública.

Em outra matéria, uma jovem blogueira carioca, Alinne Araújo, 24 anos, com casamento marcado, cerimônia paga, igreja, padre, convidados, dj, cerimonial; foi abandonada pelo noivo, um dia antes do casamento, e resolveu casar consigo mesmo, o que é chamado de sologamia. Recorri ao Google para saber o significado de sologamia, e vi relatos de uma italiana, Laura Mesi que realizou sua cerimônia de casamento com um vestido branco, um bolo de três andares, 70 convidados e nenhum noivo. Você acha que isso é coisa de estrangeiras excêntricas? Não, em maio deste ano, a empresária mineira Jussara Couto, 38 anos, realizou cerimônia de matrimônio para casar consigo mesma. Será falta de homem no mercado? Vá entender.

Alinne, a blogueira carioca, resolveu casar com ela mesma, e dois dias depois, cometeu suicídio, atirando-se do nono andar do prédio em que morava no Rio. Há relatos que sofria de depressão, como se a tristeza, a humilhação, a rejeição não fossem suficientes para que ela quisesse de alguma forma se livrar de toda aquela dor, e tinha 24 mil seguidores, grande parte de pessoas depressivas ou ansiosas.

A jovem que tinha a internet como meio de vida, alimentava as redes e era alimentada por elas, foi achincalhada, xingada, agredida, insultada na internet, por que quis manter a festa planejada, desejada, paga. Na vã esperança de transformar um momento de dor em um recomeço, uma oportunidade para virar a página, tentando seguir em frente, “para construir uma nova vida”, como ela mesmo postou antes de dar cabo da própria vida.

No território livre das redes sociais, foi julgada e condenada, sem piedade, onde a agressividade das pessoas está cada vez mais intolerável; li as postagens na página da jovem carioca: triste e deprimente.

Com consequências trágicas, Alinne, estava fragilizada e sofrendo uma dor insuportável por causa de uma rejeição, e não suportou tamanha dor. Quando tudo que precisava era de colo, acolhimento, foi tratada como oportunista, xingada de biscoiteira, como são chamadas as pessoas nas redes sociais que postam conteúdo atrás de likes.

No Ceará, José Hilson de Paiva, 70 anos, médico e prefeito de Uruburetama, (PCdoB) foi afastado do cargo, após denúncias de que nas consultas e exames médicos abusava sexualmente das pacientes que ali estavam para sanar ou amenizar suas dores.

Esses são apenas três exemplos pinçados entre muitos outros.

Como não sou dos que pensam que o mundo está próximo do fim, mas passando por grandes transformações, e, ainda pretendo passar um bom tempo por aqui, com a palavra os estudiosos do comportamento humano para explicar que tempos tóxicos são esses que estamos vivendo e vivenciando, de difícil compreensão e muita confusão.

Nem o Cristo escapa; no Peru uma grande imagem de Cristo, réplica do Cristo Redentor, RJ, está sendo chamado de Cristo da corrupção, presente da Construtora Odebrecht, agora ameaçado de expulsão do país.

O mundo está se tornando psicologicamente inviável.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo e palestrante

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