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Chefe do Executivo de Hong Kong diz que lei de extradição está ''morta''

Carrie Lam se recusou mais uma vez a cancelar definitivamente o projeto; manifestantes voltam a dizer que continuarão a protestar enquanto suas demandas não forem atendidas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
A chefe do Executivo do território, Carrie Lam, em entrevista coletiva ontem, 9
A chefe do Executivo do território, Carrie Lam, em entrevista coletiva ontem, 9 (AFP)

HONG KONG - Dois dias após novos protestos tomarem conta das ruas de Hong Kong , a chefe do Executivo do território, Carrie Lam , disse que a polêmica lei de extradição que permitiria entregar suspeitos à China "está morta". Ela, contudo, se recusou mais uma vez a cancelar definitivamente o projeto, exigência dos manifestantes, que voltaram a anunciar a permanência nas ruas até que suas demandas sejam atendidas.

Lam anunciara a suspensão do projeto em 15 de junho, três dias após os conflitos mais violentos entre polícia e manifestantes, que deixaram mais de 70 pessoas feridas. Na ocasião, a chefe do Executivo assegurou que a lei de extradição não voltaria a ser discutida durante o seu governo. Seus opositores, contudo, continuaram a temer que a medida pudesse ser ressuscitada e utilizada para fins políticos, colocando em xeque as liberdades administrativas, políticas e judiciais — modelo conhecido como "um país, dois sistemas" — que foram garantidas ao território em 1997, quando foi devolvido a Pequim pelos britânicos.

Ontem, 9, Lam, favorável aos interesses chineses, reconheceu durante uma entrevista coletiva que o trabalho de seu governo com o projeto de lei tem sido "um completo fracasso":

"Continuam a existir dúvidas sobre a sinceridade do governo e preocupações acerca de que o governo vai reiniciar a tramitação do projeto no Legislativo. Assim, reitero: este plano não existe e o projeto de lei está morto".

Protestos

Desde 9 de junho, os cidadãos de Hong Kong se manifestaram contra a medida em quatro grandes protestos — dois deles, segundo os organizadores, com mais de um milhão de participantes — que ganharam novas demandas para além do cancelamento do projeto de lei. Agora, as exigências dos manifestantes também incluem uma investigação independente sobre os abusos policiais na dispersão das manifestações, a libertação dos detidos durante os atos e a demissão de Lam . Os críticos também pedem que os protestos não sejam designados como "motins", termo legal que poderia determinar penas de prisão de até dez anos, e uma reforma política que garanta o sufrágio universal.

Pela Lei Básica, a semiconstituição que governa o território desde 1997, o chefe do Executivo do território é escolhido por um colégio eleitoral de 1.200 membros — cerca de 0,03% da população da cidade — de maioria favorável à Pequim. As demandas democráticas, entretanto, vão contra a política linha-dura de Xi Jinping, acusado de tentar limitar as liberdades do território.

"Pequim não vai permitir que isso (o sufrágio universal) aconteça", disse Steve Tsang, diretor do Instituto da China na Universidade de Londres e autor do livro "Uma História Moderna de Hong Kong", à Bloomberg. " Aqueles que estão defendendo essas demandas deveriam se informar sobre a história dos protestos em Pequim na primavera de 1989. Eles estão colocando Hong Kong em posição bastante perigosa por uma demanda que é completamente surrealista".

Lam também não deu sinais de que pretende ceder e abrir mão de seu cargo e afirmou que fará apenas uma investigação interna sobre a violência policial, garantindo que "publicará o resultado do relatório para que todos possam saber o que ocorreu no último mês". A chefe do Executivo disse ainda que a libertação dos detidos dependerá dos tribunais.

Palavras 'enganatórias'

Os manifestantes classificaram as declarações de Lam nesta segunda-feira como "enganações" e prometeram continuar a protestar até que sejam atendidos por completo.

Um dos principais líderes dos protestos, o estudante Joshua Wong , reiterou a exigência de que a lei seja "formalmente retirada" e acusou Lam de jogar com as palavras para "mentir para os cidadãos de Hong Kong".

Em linha semelhante, Figo Chan Ho-wun, outro organizador dos protestos, declarou: "Eu faço um apelo para que Carrie Lam não use palavras para nos enganar. Caso isso aconteça, a Frente Civil de Direitos Humanos planejará nossa próxima ação.

Participante da Frente Civil, Bonnie Leung, ressaltou que as manifestações continuarão até que o governo os atenda."O que nós queremos é a retirada por completo da lei. Lam está brincando com as palavras", afirmou Chan Wai Lam William, presidente da união dos estudantes da Universidade Chinesa em Hong Kong.

Líderes de partidos pró-Pequim já começaram a questionar a capacidade do governo de Lam em lidar com as manifestações.

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