Artigo

Ibraim Mohana

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

José Sarney, aluno do Liceu Maranhense, costumava, nos recreios, ler seus trabalhos intelectuais para o colega Ibraim Mohana (irmão do saudoso padre João Mohana). Eis desde cedo a faceta intelectual de Ibraim, membro de uma estirpe familiar que contou com Olga Mohana, Kalil Mohana e Alberto Mohana. Os Mohanas sempre se distinguiram por sua contribuição cultural para o Maranhão e o Brasil.

Fui surpreendido pelo falecimento do amigo (de 70 anos de convívio fraternal) Ibraim.

Leitor ávido dos clássicos, católico honrado (freqüentava a Igreja do Carmo), formado em Ciências Jurídicas, prefaciador de vários trabalhos intelectuais, continuador das atividades comerciais da Casa Mohana, preleitor e primeiro analista dos escritos do padre João Mohana, a quem dava preciosas sugestões. Versado em latim, Tomás de Aquino (Devo-lhe a sugestão para ler o Aquinate), Aurélio Agostinho (deu-me uma preciosíssima análise do Pai Nosso feita por Agostinho), Marco Aurélio, Epicuro, Platão e Aristóteles etc., com ele tinha acesso a valiosos textos altamente expressivos e culturais.

Na Casa Mohana reuniam-se conhecidos, amigos, admiradores, entre estes o dr. Henrique Augusto, Nauro Machado, Arlete Nogueira, dr. Olavo Correia Lima, Carlos Gaspar, professor Antonio Monteiro, e outros mais. Costumava-se dizer que a Casa Mohana era um consulado intelectual.

Possuidor de uma dialética escorreita, Ibraim não deixava passar um tópico sem suas preciosas análises, acompanhadas sempre por sua fineza de trato e modos atenciosos para com os interlocutores. Multiplicava-se em tratar os clientes, conversar com os visitantes, atender turistas que passavam e admiravam o belo sobradão com azulejos atraentes, receber o encanador que ia a serviço, conversar com o carteiro... e tudo isto ao mesmo tempo!

Viajado (conheceu o Brasil quase todo), morou com a família em São Paulo, mas era oriundo da Baixada Maranhense, amando até com exagero sua Viana dos campos, do criviri, do Canto do Galo, da Casa Amarela (objeto de belo trabalho de Carlos Gaspar), etc.

Contava-me episódios pitorescos, a exemplo de quando no Rio de Janeiro subiu os 300 degraus da escadaria da Penha e lá consolou e confortou um casal de noivos, que foram admoestados pelo celebrante porque a nubente estava com o trajo nupcial um pouco aberto no colo.

Mantinha estreito contato com os frades do Carmo, a exemplo de Frei Rogério (este peritíssimo em grego e latim).

Formávamos uma trindade afeiçoada, ele, o professor Antônio (ex-coordenador da ação franciscana leiga no Maranhão) e eu. Por meu intermédio mandava preciosos textos (denominados por ele material) ao amigo.

Sempre procurava compreender os meandros do psiquismo humano, a exemplo de uma reclamação de Olga (sua irmã), quanto a um barulho musical na rua. Disse na ocasião: “Mana, eles gostam assim; eles se sentem alegres em folgar e gaudear”. Admirava os discursos evangélicos das igrejas reformadas, e ultimamente elogiava um programa da Igreja Adventista do Sétimo Dia (programa em que o pastor dessa igreja respondia às perguntas dos ouvintes).

Muitas vezes me respondia com belas e pertinentes frases em latim (a exemplo de Ruinae Ferient Impavidum; também em grego, Ego Eimi Hé Hodós, Hé Aletheia kai Hó Bios).

Ultimamente se mantinha recluso em virtude de pertinaz enfermidade que o limitava em seus périplos (aliás, a cidade está perigosíssima para os idosos, e para todos), contava com a ajuda da irmã Julieta Mohana, afora os sobrinhos, Candinha, Delfim e outros mais. Contudo não deixava as atividades intelectuais, pois lia bastante, redigia mensagens ao professor Monteiro (eu era o portador sponte mea), nas quais vazava sua inteligência e erudição.

Dele se pode dizer: Inveni Portum, Satis Me Lusisti, Munde.

Que o Divino Senhor o recolha em Seu regaço eterno!


Ramiro Azevedo

Jornalista - DRT-52


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