Jamal Khashoggi

ONU encontra ''provas confiáveis'' do envolvimento do príncipe no assassinato de jornalista

Documento de relatora especial responsabiliza Arábia Saudita por morte de Jamal Khashoggi e pede que Mohammed bin Salman seja investigado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Manifestante carrega uma vela em homenagem ao jornalista assassinado
Manifestante carrega uma vela em homenagem ao jornalista assassinado (Reuters)

GENEBRA — Um relatório das Nações Unidas divulgado ontem, 19, afirma ter encontrado "provas confiáveis" do envolvimento do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salmanno assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi em Istambul, em outubro do ano passado, e pede que essa participação seja investigada.

"É a conclusão da relatora especial que Khashoggi foi vítima de uma execução deliberada e premeditada, um assassinato extrajudicial pelo qual o Estado da Arábia Saudita é responsável sob a lei internacional dos direitos humanos", escreveu Agnes Callamard, relatora especial da ONU para execuções extrajudiciais. "Há provas confiáveis que determinam a necessidade de mais investigações sobre a possível responsabilidade individual de altos funcionários do governo saudita, incluindo o príncipe herdeiro", afirmou ela.

A representante das Nações Unidas, que foi à Turquia no início deste ano com uma equipe de especialistas jurídicos e forenses, fez um apelo para que a comunidade internacional aplique sanções contra o príncipe herdeiro e seus bens até e caso ele consiga provar que não tem responsabilidade pelo ocorrido. A Arábia Saudita é uma das principais aliadas dos Estados Unidos no Oriente Médio e compradora de armas tanto dos EUA quanto de potências europeias, como o Reino Unido e a França.

Khashoggi , um crítico do príncipe herdeiro e colunista do jornal Washington Post que havia se exilado nos Estados Unidos, foi visto pela última vez no dia 2 de outubro de 2018 no consulado saudita em Istambul, onde pretendia resolver trâmites burocráticos para se casar com sua noiva turca. No prédio, o jornalista teria sido morto por um grupo de 15 agentes sauditas. Seu corpo teria sido desmembrado e retirado do local. Os restos mortais nunca foram encontrados.

Diálogo

Segundo o relatório da ONU, novos áudios apontam um diálogo no consulado entre Maher Mutreb, oficial da Inteligência saudita que trabalhava como assessor sênior de Bin Salman, e Salah al-Tubaigy, médico legista do Ministério do Interior saudita. Os dois discutiriam o esquartejamento do corpo de Khashoggi, tarefa que caberia a Tubaigy.

Desde o início, há suspeitas do envolvimento de Bin Salman, nomeado herdeiro pelo rei Salman al-Saud e que comanda na prática a monarquia do Golfo Pérsico. "Evidências apontam que um grupo de 15 pessoas participou da execução de Khashoggi, requerendo uma significante coordenação governamental, recursos e finanças", diz o relatório. "Todos os especialistas consultados acreditam ser inconcebível que uma operação desse tamanho pudesse ter sido implementada sem que o príncipe herdeiro tivesse, no mínimo, conhecimento de que algum tipo de missão criminal direcionada a Khashoggi estava sendo orquestrada."

Em resposta ao relatório de cem páginas, elaborado após cinco meses de investigação, o número dois da diplomacia saudita tuitou nesta quarta-feira que as acusações da relatora contra o príncipe herdeiro são "infundadas".

"Não há nada novo. O informe repete aquilo que já foi dito e divulgado pela mídia", disse o vice-chanceler Adel al Jubeir. "O informe contém contradições e acusações infundadas que colocam em xeque sua credibilidade."

No início do ano, depois de negar o assassinato em diversas ocasiões, a Arábia Saudita argumentou que o crime decorreu de "uma operação que saiu do controle". O relatório da ONU, no entanto, citando gravações feitas no consulado no dia do assassinato, aponta que a ausência de surpresa com a morte de Khashoggi ou qualquer tentativa aparente de ressuscitar o jornalista evidenciam a premeditação do crime. Em um trecho citado, o oficial de Inteligência Mutreb pergunta ao médico legista se "o cordeiro para o sacrifício" chegou, dois minutos antes da chegada de Khashoggi.

Suspeitos

A Justiça saudita, que não opera de forma independente da família real, iniciou neste ano o julgamento de 11 suspeitos, sob sigilo. O procurador-geral do país pediu a pena de morte para cinco réus. Callamard, contudo, alega que os procedimentos deveriam ser suspensos por não seguirem padrões internacionais, e afirma que a Arábia Saudita deveria colaborar com a ONU para decidir o formato e o local de um novo julgamento e investigações mais aprofundadas.

Segundo a relatora, as investigações conduzidas por Riad não foram realizadas com boa-fé e apresentam indícios de obstrução de Justiça. O documento cita evidências que teriam sido omitidas de policiais turcos, como a limpeza da suposta cena do crime.

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