Leila Naiva, presidente de honra do Boi de Axixá, contabiliza mais de 40 anos de dedicação a uma das mais contagiantes manifestações folclóricas do Maranhão. E tudo faz com amor e em nome de um legado deixado por seu pai, o compositor Francisco Naiva, falecido em 2013, aos 81 anos, e pelo tio, Donato Alves, falecido dois meses depois. Foram eles que fizeram do batalhão uma das estrelas mais brilhantes da composição junina maranhense. Depois que eles partiram, ela tomou para si a responsabilidade de dar continuidade ao projeto. Missão cumprida com maestria e desenvoltura.

Ela é a voz e a força que não deixam o legado do pai e do tio se esvair com o tempo. Firme e ciente de seu papel na cultura maranhense, toca um trabalho que dá orgulho ao estado. Tudo fazendo jus a um boi que é uma sinfonia em forma de toadas. Nos terreiro, Axixá se apresenta majestoso, brilhante, cadenciado, ao som das composições que são verdadeiros hinos do bumba meu boi do Maranhão. Às toadas antigas acrescentam-se novos repertórios, que incrementam ainda mais o cancioneiro do grupo.

Na semana passada, as lágrimas derramadas por Leila durante o ritual de batismo dos brincantes e do couro de boi, na Casa do Maranhão, no Centro Histórico de São Luís, foram uma prova física do esforço que ela empreende para manter a tradição, apesar de todas as dificuldades. “É um trabalho árduo, mas que vale a pena”, disse, emocionada, enquanto abria a solenidade de homenagens a parceiros, profissionais da imprensa e empresas que contribuíram para a trajetória de sucesso do Boi de Axixá.

Saudades do meu pai e de tio Donato, além da gratidão por todos aqueles que sempre nos acompanham, incentivam, ajudam de todas as formas, para que o Boi de Axixá esteja sempre bonito nos arraiais. Isso não tem preço. É imensurável”

Mulher de fibra, que está sempre no cordão, seja como vaqueira, tocando a brincadeira ou coordenando as equipes para adentrar os terreiros, a presidente tem um papel importante na trajetória do boi, que este ano festeja o Jubileu de Diamante, ou seja, 60 anos de história. É ela, por exemplo, quem cuida da indumentária, das apresentações, da parte administrativa e de toda a logística no período junino, contando, também, com o braço direito dos brincantes e dos dois filhos, Sérgio e Luciano, que também dançam como vaqueiros.

“Celebrar 60 anos tem um misto de sentimentos. Saudades do meu pai e de tio Donato, além da gratidão por todos aqueles que sempre nos acompanham, incentivam, ajudam de todas as formas, para que o Boi de Axixá esteja sempre bonito nos arraiais. Isso não tem preço. É imensurável”, diz.

Meio índia e vaqueira

Por 28 anos, Leila Naiva figurou como índia. Depois, assumiu o posto de ama do grupo folclórico. Mas para a temporada dos 60 anos, inovou em sua indumentária. “As pessoas ficaram me incentivando que este ano eu deveria dançar como índia. Mas eu disse que não daria mais. Até porque temos belas índias que bem representam a essência de Axixá. No entanto, de tanto falarem, resolvi ir para os arraiais meio índia, meio vaqueira. Afinal, não é todo dia que celebramos 60 anos. Ainda mais um batalhão tão amado e respeitado como o nosso”, confidencia.

Não é só de passado que vive o Boi de Axixá. No auge dos seus 60 anos, o grupo comandado por Leila Naiva já está de olho nas temporadas seguintes. “É um trabalho árduo, cansativo. Mas, acima de tudo, recompensador. Sonhamos com essa comemoração dos 60 anos e conseguimos mostrar um boi lindo, novo, mas sem perder a sua marca registrada: a alegria e cadência que os maranhenses tanto adoram. Meu pai dizia que quem é do nosso grupo nunca esmorece. E é assim que vamos continuar: firmes e fortes em nome da nossa cultura, do nosso povo que merece ter um boi vivo, autêntico e verdadeiramente maranhense”, finaliza.

Sonhamos com essa comemoração dos 60 anos e conseguimos mostrar um boi lindo, novo, mas sem perder a sua marca registrada: a alegria e cadência que os maranhenses tanto adoram. Meu pai dizia que quem é do nosso grupo nunca esmorece. E é assim que vamos continuar: firmes e fortes, em nome da nossa cultura”

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