Em meio a tensões

Visita de Xi Jinping reforça laços entre China e Rússia

Comércio entre os dois países aumentou 25% em 2018; Estados Unidos boicotam o principal fórum de negócios russo, do qual o chinês participou; Xi foi recebido como convidado de honra na capital russa

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Os presidentes  Xi Jinping ( China) e Vladimir Putin ( Rússia)  em visita ao zoológico de Moscou
Os presidentes Xi Jinping ( China) e Vladimir Putin ( Rússia) em visita ao zoológico de Moscou (Reuters)

Legenda/Reuters
Os presidentes Xi Jinping ( China) e Vladimir Putin ( Rússia) em visita ao zoológico de Moscou

MOSCOU - O presidente chinês Xi Jinping faz uma visita de Estado de três dias à Rússia , a fim de fortalecer o relacionamento entre Moscou e Pequim , enquanto a relação de ambos com Washington está cada vez pior.

O Kremlin divulgou indicadores que apontam um aumento de quase 25% do comércio entre a China e a Rússia no ano passado, chegando a US$ 108 bilhões. O número finalmente rompe a barreira dos US$ 100 bilhões, marco que as nações tentavam atingir há anos, mesmo que impulsionado pela alta dos preços do petróleo.

Xi foi recebido como convidado de honra na capital russa, onde participou do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, maior evento anual promovido na Rússia para atrair investidores. Segundo funcionários do governo russo, a delegação de mil pessoas que Xi levou para o evento é um sinal da relação promissora entre as duas nações, enquanto os Estados Unidos promovem um boicote oficial ao Fórum.

Maksim S. Oreshkin, responsável pela pasta de Desenvolvimento Econômico da Rússia, disse em uma entrevista que a posição de Xi, em meio à guerra comercial que os americanos travam com a China, foi sua primeira aparição pública significativa após o aumento das tarifas americanas a produtos chineses.

As relações comerciais entre Moscou e a China estão fortalecidas, comentou o ministro.

"Nós vemos grandes volumes recorde de trocas comerciais com a China; observamos dinâmicas positivas, projetos em conjunto e por aí seguimos", disse Oreskhin.

EUA são inimigo comum

O embaixador americano na Rússia, Jon M. Huntsman Jr., está boicotando o evento em São Petersburgo devido à detenção de Michael Calvey, um investidor americano em Moscou que foi preso em fevereiro. Calvey estava envolvido em uma disputa de negócios com um banqueiro russo que, em um ato não tanto incomum para os padrões moscovitas, convenceu um aliado nos serviços de segurança a intervir.

Um outro americano, o turista Paul Whelan, está detido desde o final de dezembro sob acusações de espionagem consideradas vagas por Washington.

As relações conturbadas não se limitam aos dois presos — o escritório de Oreshkin, por exemplo, negou-se a dar entrevista para um repórter americano, afirmando que apenas cidadãos russos eram bem-vindos.

O relacionamento entre a Rússia e a China melhorou significativamente desde 2014, quando Vladimir Putin declarou que iria dar prioridade à Ásia após a imposição de sanções econômicas ocidentais e de outros esforços para isolar seu país — medidas, à época, em resposta à anexação da Crimeia e ao apoio aos separatistas russos na Ucrânia.

Além dos laços comerciais, Moscou e Pequim demonstram apoio mútuo em uma série de assuntos de política externa, incluindo a crise na Venezuela, as negociações sobre o programa nuclear norte-coreano e o acordo nuclear com o Irã.

Xi, que mencionou à imprensa russa que esta foi sua sétima visita ao país, disse que as duas nações estão expandindo gradualmente sua cooperação em energia, transporte, aviação, agricultura e no espaço, entre outros setores.

"A cooperação econômica e comercial, ponto-chave de nossa relação, são cruciais para o desenvolvimento comum e para a revitalização da China e da Rússia", afirmou o líder chinês.

Cerca de 70% das exportações russas para a China envolvem o setor energético, enquanto as exportações chinesas são majoritariamente máquinas, em especial equipamentos para a prospecção de petróleo, negados à Rússia pelas sanções ocidentais.

Ambos os lados compartilham um interesse mútuo no Ártico — a Rússia espera que a demanda e os investimentos chineses substituam o Ocidente em uma parceria para explorar gás e petróleo na região.

Expectativa

O Kremlin tem expectativa que o aquecimento global permita a abertura de uma rota marítima competitiva para a Ásia pelo Ártico, com a China sendo um mercado preferencial.

" A China traz dinheiro e demanda e a Rússia garante a segurança e seu posicionamento no Ártico", disse Alexander Gabuev, diretor do Centro Carnegie em Moscou.

A amizade com o Kremlin fornece à China uma vizinhança estável e a expansão dos laços militares. Ambos países participaram recentemente de exercícios militares conjuntos em solo e no mar.

Além disso, devido às tensões com seus vizinhos no Mar do Sul da China, o país asiático é um mercado em potencial para armamentos russos, em especial para o sistema de defesa S-400 e para os jatos de guerra SU-35.

O Kremlin admitiu que a Nova Rota da Seda poderá enfraquecer seu controle histórico sobre a Ásia Central, já que Moscou não pode competir economicamente com os chineses. A Rússia, contudo, espera que Pequim continue a aceitar o forte papel que desempenha na segurança da região, parte da antiga União Soviética. Ambos países também compartilham o objetivo comum de excluir os Estados Unidos da Ásia Central.

Oficialmente, a visita de Xi marcou o aniversário de 70 anos das relações diplomáticas entre os dois países, data comemorada com um espetáculo especial no balé de Bolshoi.

A Rússia, entretanto, ficou satisfeita com o comparacimento de Xi ao evento em São Petersburgo com uma delegação tão grande, em meio ao acirramento das tensões com os americanos.

"Dessa forma os russos conseguem esnobar Estados Unidos: "Nós temos a China" , disse Gabuev.

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