Primeira-ministra

Impasse do Brexit derruba Theresa May no Reino Unido

Pressionada pelo próprio Partido Conservador, primeira-ministra anuncia que deixará o comando da legenda em 7 de junho; ela manterá chefia do governo até escolha de novo dirigente partidário; a possibilidade de um segundo referendo foi rejeitada

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
A primeira-ministra britânica Theresa May se emociona e chora depois de anunciar sua renúncia
A primeira-ministra britânica Theresa May se emociona e chora depois de anunciar sua renúncia (AFP)

LONDRES - Depois de meses de impasse provocado por sua dificuldade de aprovar no Parlamento um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), a primeira-ministra britânica, Theresa May , anunciou na sexta-feira,24, que renunciará à liderança do seu Partido Conservador no dia 7 de junho, abrindo caminho para a escolha de um novo chefe da legenda que deverá assumir também o cargo de premier e ficará encarregado de conduzir o processo de rompimento com o bloco europeu.

A decisão acontece depois que a última cartada de May, a possibilidade de um segundo referendo sobre o Brexit, foi rejeitada pelos conservadores , que desde o início do processo estão divididos entre defensores radicais da saída da UE e proponentes de um rompimento negociado com o bloco. O favorito para substitui-la no comando do Partido Conservador é o ex-chanceler Boris Johnson, um dos principais defensores do Brexit .

"Tentei três vezes, não fui capaz", ela afirmou, em referência a suas tentativas de fazer o Parlamento aprovar o acordo de saída negociado com União Europeia, em pronunciamento gravado em frente à residência oficial dos primeiros-ministros britânicos,o número 10 da Downing Street.

"Acreditei que era correto perseverar, inclusive quando as possibilidades de fracassar pareciam elevadas, mas agora me parece claro que, para o interesse do país, é melhor que um novo primeiro-ministro lidere este esforço", acrescentou.

Sua voz falhou e seus olhos ficaram marejados quando ela terminou sua breve declaração proclamando seu "amor" por seu país, antes de virar as costas para as câmeras e voltar para casa.

O líder do opositor Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, pediu novas eleições logo depois do anúncio de May. Escrevendo no Twitter, Corbyn disse que "Theresa May está certa ao renunciar". "Ela agora aceitou o que o país sabe há meses: ela não pode governar, assim como seu partido dividido e desintegrado também não pode", acrescentou. "Quem quer que se torne o novo líder conservador deve deixar as pessoas decidirem o futuro do nosso país, por meio de eleições gerais imediatas".

Na terça-feira, 21, Theresa May havia apresentado um plano de "última chance" para tentar recuperar o controle do processo de Brexit. A tentativa foi em vão: o texto foi mais uma vez alvo de críticas, tanto da parte da oposição trabalhista quanto dos eurocéticos do seu partido, resultando assim na renúncia, na quarta-feira, de sua ministra das Relações com o Parlamento, Andrea Leadsom.

O projeto de lei, que Theresa May pretendia votar na semana de 3 de junho, não foi incluído no programa legislativo anunciado ontem pelo governo aos deputados.

O plano previa uma série de compromissos, incluindo a possibilidade de o Parlamento aprovar um segundo referendo sobre o Brexit e a continuidade da união aduaneira com a UE, numa tentativa de obter o apoio da maioria dos parlamentares, incluindo os da oposição trabalhista.

Como ficou claro desde que os britânicos aprovaram o Brexit por uma pequena margem, em um referendo em 2016, a tarefa de desfazer mais de 40 anos de laços com a UE não era fácil, ressalta Simon Usherwood, cientista político da Universidade de Surrey, entrevistado pela AFP.

"Qualquer pessoa em sua posição teria encontrado grandes dificuldades", disse ele. "A História não guardará uma imagem favorável dela".

May ainda estará no cargo durante a visita do de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que realizará uma visita de Estado ao Reino Unido de 3 a 5 de junho.

O mandato de Theresa May, cheio de adversidades, críticas e até mesmo conspiração dentro de seu próprio partido, entrará para a História como um dos mais curtos na Grã-Bretanha desde a Segunda Guerra Mundial.

A trajetória de May

Theresa May assumiu a chefia do governo britânico em julho de 2016, pouco depois do referendo que aprovou a saída da UE, sucedendo David Cameron.

Mas esta filha de pastor de 62 anos, ex-ministra do Interior, não conseguiu convencer uma classe política profundamente dividida sobre a saída da UE — que convocou o referendo em uma tentativa de aplacar as fortes divergências dentro do Partido Conservador sobre a permanência na UE, à qual o Reino Unido aderiu nos anos 1970.

O acordo de divórcio, que ela negociou amargamente com Bruxelas, foi rejeitado três vezes pelos deputados, forçando-a a pedir à UE o adiamento do Brexit, originalmente previsto para 29 de março deste ano, até 31 de outubro.

Com isso, o Reino Unido foi obrigado a participar das eleições para o Parlamento Europeu que se realizam nesta semana. O resultado da votação anuncia-se calamitoso para os conservadores, que deverão amargar um humilhante quinto lugar (7%), 30 pontos atrás do Partido do Brexit do eurofóbico Nigel Farage, segundo pesquisa YouGov.

Boris Johnson é o favorito

Mesmo antes da renúncia de Theresa May, políticos conservadores já se movimentavam nos bastidores e mesmo em público para estarem prontos para a corrida para a liderança do partido. A escolha deve começar no dia 10 de junho, e ela acontece em fases. A primeira é dentro do Parlamento. Os candidatos precisam ser nomeados por dois outros membros da Casa.

O cenário mais provável é que haja mais de dois candidatos. Nesse caso, os parlamentares votam entre eles até que haja só dois nomes. A escolha final então é feita por todos os filiados ao Partido Conservador –são cerca de 120 mil, de acordo com o jornal "The New York Times."

Os políticos mais adeptos do Brexit vão querer emplacar um nome deles, e o ex-ministro de Relações Exteriores, Boris Johnson, é o favorito. Outros nomes desse campo: Dominic Raab, ex-secretário para o Brexit (que é casado com uma brasileira) e Andrea Leadsim, que era a líder da Casa dos Comuns até quarta,22. Outro que pode postular o cargo é Jeremy Hunt, o atual ministro de Relações Exteriores.

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Os principais nomes

O jornal inglês "The Guardian" fez um ranking com os políticos que têm mais chances:

- Boris Johnson: o ex-ministro de Relações Exteriores e ex-prefeito de Londres é o preferido de 39% dos filiados do Partido Conservador, de acordo com pesquisa do jornal inglês "The Times".
- Dominic Raab: esse é o ex-secretário do Brexit, e tem 13% da preferência dos conservadores, segundo o levantamento do "The Times". Raab é casado com uma brasileira, Erika Rey.
- Jeremy Hunt: é o atual ministro das Relações Exteriores.
- Michael Gove: atual secretário do meio ambiente.
- Andrea Leadsom: foi a última líder da Câmara dos Comuns, ela renunciou na quarta,22.

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