Derocy Dias Reis, professor e deficiente visual

Um vitorioso à luz do conhecimento

Ele é um exemplo: perdeu a visão cedo, se dedicou aos estudos, passou em sete concursos e hoje é professor no Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP)

Evandro Jr. / O Estado do Maranhão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

SÃO LUÍS - Ele perdeu a visão muito cedo, mas nem por isso desistiu de seus sonhos. Hoje, é um profissional realizado, graças a muita força de vontade e interesse pelos estudos. Ele migrou aos 13 anos, sozinho, para a capital, formou-se em Geografia, passou em sete concursos e, agora, profissionalmente realizado, é professor em tempo integral. Uma trajetória que, de certa maneira, soaria normal, se não estivéssemos nos referindo a um deficiente visual, que desde os 11 anos enxerga o mundo de uma maneira diferente.

Derocy Dias Reis, 30 anos, é, sem dúvida, um exemplo de força de vontade. Ele perdeu a visão muito cedo (nasceu com um problema genético de descolamento de retina), mas nem por isso desistiu de galgar novos horizontes, apesar de todas as limitações e o preconceito implacável da sociedade.

Filho de pais cegos, experimentou uma infância completamente normal no município de Poção de Pedras, apesar de sua baixa visão e das dificuldades para se virar em sala de aula (não tinha nenhum acompanhamento especializado).

Esforçado, curioso e inconformado com sua imanência, dava prioridade à oralidade, já que a leitura era artifício que se revelava um entrave fatal.

Quando perdeu definitivamente a visão, a família do garoto de tudo fez visando à reversão da doença, mas cada passo era em vão. É que o problema se acentuaria em razão de um acidente automobilístico que privaria Derocy de perceber a luz definitivamente. Foi aí que a vida do jovem começaria a mudar radicalmente.

Como ele precisaria de um auxílio profissional para dar continuidade aos estudos, mudou para São Luís, sozinho, e sem conhecer ninguém. “Veio uma pessoa do interior comigo, me guiando até a Escola de Cegos do Maranhão, que foi a nossa única opção. Aqui, reiniciei a 4ª série e consegui concluir o ensino fundamental e, em seguida, o médio, no Liceu Maranhense. Eu tinha a consciência de que precisava ser um sujeito ativo e tinha a certeza de que as coisas somente iriam melhorar a partir dos estudos”, conta.

No Liceu, Derocy era um dos 45 alunos da turma, mas o único que não enxergava um palmo à sua frente. Foi uma luta e tanto, mas desta vez, com o apoio irrestrito da Secretaria de Estado da Educação, que forneceu material especializado, acompanhamento pedagógico e orientação aos professores da instituição. Deu certo! O resultado de tanto esforço viria com o nome dele nas listas de aprovados para o cursos de Geografia, na Universidade Estadual do Maranhão, e de História, na Universidade Federal do Maranhão (ele não concluiu o segundo). Foi a glória para um menino que, por um momento, achava que tudo estava perdido.

Eu tinha a consciência de que precisava ser um sujeito ativo e a certeza de que as coisas somente iriam melhorar a partir dos estudos”

Aprovações
Daí para diante, foi uma sequência de conquistas, com aprovações em sete concursos públicos. Não obstante, Derocy escolheria seguir a carreira do magistério, como instrutor de braille, seu primeiro emprego. Ele passou, inclusive, para técnico legislativo no concurso da Assembleia Legislativa do Maranhão.

Completamente realizado, o professor cumpre dois turnos de trabalho no Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual do Maranhão (CAPS, vinculado à Secretaria de Estado de Educação), no bairro Maranhão Novo, onde, além de ministrar aulas, trabalha na elaboração de material didático, atendimento aos alunos e no programa de formação continuada voltado para docentes.

“Estou profissionalmente realizado e não penso em deixar essas atividades”, afirma.
Calmo, educado e antenado, Derocy demonstra inteligência já na primeira frase. Locomove-se sozinho na cidade e para o trabalho, geralmente de ônibus ou de condução via aplicativo. Mas critica as dificuldades de acessibilidade. “De ônibus é bastante complicado, por causa da infraestrutura de São Luís. Para podermos chegar até uma parada, por exemplo, são diversos os obstáculos, como buracos, calçadas e ausência de piso tátil. Isto sem falar na deficiência do transporte público", lamenta.

Prático e dedicado, ele consegue manusear o celular normalmente e tem acesso à Internet, pois muito bem utiliza os recursos tecnológicos que facilitam a vida do deficiente visual, como os programas de leitura de tela – com audiodescrição. E assim, vai seguindo em frente, tudo compreendendo, mostrando que não há limites para quem quer vencer. Derocy, sem dúvida, é um guerreiro e uma prova real de que estudar é o melhor caminho para uma vida melhor, pela luz do conhecimento.

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