Venezuela

Maduro chama de ''inútil'' oposição que não reconhecerá novo mandato

Venezuelano indica que não cederá ao ultimato dos opositores e dos países vizinhos; exportação de petróleo aos EUA é a menor em 30 anos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Presidente Nicolás Maduro desafia a Assembleia Nacional, de maioria oposicionista
Presidente Nicolás Maduro desafia a Assembleia Nacional, de maioria oposicionista (Reuters)

CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, indicou que não cederá à pressão dos opositores e do Grupo de Lima, formado por 14 países das Américas, que na sexta-feira e no sábado pediram que ele não assuma o seu novo mandato, sob o argumento de que as eleições que o confirmaram no poder careceram de legitimidade

De uniforme de beisebol, Maduro apareceu no domingo com os seu ministros e o alto comando militar — considerado a principal base de apoio do governo — no Parque Hugo Chávez, dentro do Forte Tiuna, o principal quartel de Caracas. Em declaração transmitida pela TV estatal, ele chamou de "completamente inútil" a Assembleia Nacional de maioria oposicionista, e acusou os deputados de pretenderem "usurpar a soberania popular" ao pedirem que ele não tome posse em 10 de janeiro, a próxima quinta-feira.

Eleita em 2015, a Assembleia Nacional teve seus poderes anulados por uma Assembleia Constituinte convocada por Maduro em 2017, que se sobrepôs ao Legislativo. No último sábado, no entanto, ao assumir a presidência da Assembleia no início do novo ano legislativo, o deputado Juan Guaido, do partido opositor Vontade Popular, declarou Maduro um "usurpador" e prometeu criar uma Comissão de Transição que organize eleições livres. Para isso, o deputado pediu o apoio das Forças Armadas, embora tenha considerado a cadeia de comando "rompida" por se aliar ao presidente. "O tal Guaidó é um fantoche, um agente dos gringos", rebateu Maduro no parque Hugo Chávez.

Maduro reforçou sua mensagem com um post no Twitter nesta segunda, na qual afirmou que a "Revolução Bolivariana não é um homem, é um povo que escolheu ser livre e está decidido a defender sua liberdade, custe o que custar, e nada nem ninguém vai impedi-lo. No próximo 10 de janeiro jurarei junto ao povo".

Poder à Assembleia Nacional

Na sexta-feira (4), com o apoio dos Estados Unidos, o Grupo de Lima pediu que Maduro entregue o poder à Assembleia Nacional até que sejam realizadas novas eleições livres e democráticas. O México foi o único integrante do grupo que se distanciou dessa declaração, assinada pelo Canadá e por 12 países latino-americanos e caribenhos, incluindo o Brasil.

Na declaração, o Grupo de Lima alertou que o novo mandato de Maduro não será reconhecido, e, numa medida inédita por parte do grupo, ameaçou com sanções contra funcionários venezuelanos e maiores restrições de crédito ao país, que já está sob sanções financeiras dos Estados Unidos.

Maduro foi reeleito em 20 de maio. As eleições foram boicotadas pelos principais partidos de oposição e não foram reconhecidas pelos Estados Unidos nem pela União Europeia (UE). A abstenção eleitoral chegou a 54%, a maior desde a eleição de Hugo Chávez, em 1998, e o governo foi acusado de usar o "cartão da pátria", usado por beneficiários de programas sociais, para coagir os eleitores.

As eleições foram realizadas depois do fracasso de negociações entre Maduro e a oposição, realizadas na República Dominicana. Nas negociações, os opositores pediam reformas no Conselho Nacional Eleitoral, dominado por governistas, e a autorização para a participação de dirigentes oposicionistas declarados inelegíveis em processos considerados políticos.

Hoje, segundo pesquisas do Instituto Datanálisis, a popularidade de Maduro está na casa de 20%. A oposição, dividida por disputas internas e com parte dos seus dirigentes presos ou exilados, está no mesmo patamar de apoio. A maioria dos venezuelanos se diz independente.

Exportações em queda

Ontem, a empresa de consultoria de risco Refinitiv, formada pela agência Reuters e a empresa de partipações Blackstone, informou que as exportações de petróleo venezuelano para os Estados Unidos caíram 15% em 2018 e atingiram a média anual mais baixa em quase três décadas.

De acordo com a consultoria, a queda se deveu ao colapso da produção do país sul-americano e às sanções financeiras impostas por Washington. O volume bruto enviados aos Estados Unidos pela estatal PDVSA e suas joint-ventures caíram para 500.013 barris por dia quantia que equivale a um terço de cinco anos atrás e é a menor quantidade desde 1989.

A falta de investimento, a má gestão e a fuga de trabalhadores levaram a produção de petróleo da Venezuela ao nível mais baixo em quase sete décadas. A produção caiu para uma média de 1,516 milhão de barris por dia de janeiro a novembro do ano passado, uma queda de 27% em relação a 2017, segundo números oficiais reportados à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

A Venezuela está lutando para cumprir contratos de fornecimento de petróleo bruto, incluindo aqueles contratados para pagar empréstimos russos e chineses. Os Estados Unidos continuam sendo o maior destino da exportação de petróleo da Venezuela, à frente de Índia e China, mas foram os mais afetados pela queda nos embarques, em boa parte por causa das sanções financeiras impostas ao país pelo governo americano em 2017.

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