Meio ambiente

No Maranhão, projetos buscam a preservação de espécies ameaçadas

Segundo a Prefeitura de São Luís, somente na faixa de areia das praias da capital são coletadas 20 toneladas de lixo por dia; quando ingerido por animais marinhos, materiais oferecem risco de morte; alternativas podem minimizar a degradação

Monalisa Benavenuto / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

[e-s001]A saúde de ecossistemas aquáticos reflete diretamente na qualidade da vida humana. Isso porque, conforme estimam pesquisadores e especialistas da área, as algas marinhas são responsáveis pela produção de mais da metade do oxigênio disponível no planeta. No entanto, nos últimos anos, fatores como a poluição de corpos hídricos causada, principalmente, por resíduos plásticos, têm representado uma grave ameaça à biota marinha. A partir desta preocupação, projetos como o Quelônios Aquáticos do Maranhão (Queamar) e o Instituto Amares atuam no cenário maranhense, a fim de garantir a preservação de espécies e educar a população para cuidados voltados para o meio ambiente.

Estudos liderados pela Organização das Nações Unidas demonstraram que, em média, 10 milhões de toneladas de resíduos de plásticos acabam alcançando os mares anualmente em todo o mundo. Apesar de não haver levantamentos precisos neste sentido referentes à capital maranhense, a quantidade de lixo que atinge a faixa de areia de praias da cidade é tão assustadora quanto.

No sábado (15), uma ação promovida pela Prefeitura de São Luís, por meio do Comitê Gestor de Limpeza Urbana, reuniu alunos da rede municipal de ensino e voluntários para promover a limpeza das praias da cidade. No total, foram retiradas 37 toneladas de resíduos descartados irregularmente apenas na faixa de areia da Avenida Litorânea, composta pelas praias de São Marcos, Calhau e Caolho. Segundo o órgão, diariamente são recolhidos cerca de 20 toneladas de lixo nessa área.

O cenário se repete também em outras áreas do estado. Na região dos Lençóis Maranhenses, uma das áreas de abrangência do Instituto Amares - dedicado a pesquisas e conservação de ecossistemas aquáticos -, constantemente são promovidas atividades que buscam, desde educação ambiental, à retirada de resíduos sólidos do litoral. Durante a última atividade realizada pelo instituto, 380 kg de lixo foram retirados de um quadrante de aproximadamente 150m² localizado na
Praia de Caburé, no município de Barreirinhas. Em ações como esta, uma característica chama atenção dos integrantes, grande parte do material recolhido não é produzido na localidade, como contou Nathali Ristau, presidente do instituto.



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“Na região dos Lençóis e Pequenos Lençóis, a maior descarga de lixo é proveniente de navios que passam pelo litoral maranhense ou atracam no Porto do Itaqui. Antes de atracar, o lixo, ou pelo menos parte dele, é lançado ao mar. A gente acredita que para evitar ou diminuir os custos do descarte”, destacou.

Despejados no mar, os resíduos oferecem sérios riscos aos animais marinhos que o ingerem ou, de alguma forma, ficam presos a esses materiais, como esclareceu Larissa Barreto, pós-doutora em ecologia e coordenadora do projeto Queamar - ligado ao departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que desenvolve pesquisas na zona costeira e continental do estado, contando com a participação de alunos de graduação, pós-graduação e docentes -.
“Quando um animal se alimenta de plástico e não consegue expelir o resíduo, acaba entrando em inanição porque o sistema digestivo não manda mensagem para o cérebro alertando que ele tem fome. Com isso, ele morre por desnutrição, porque não comem, já que há um plástico em seu intestino", explicou.

[e-s001]Neste sentido, o grupo promove, além de ações de conservação das tartarugas, atividades de educação ambiental para comunidades que vivem próximo aos pontos de alimentação e reprodução destes animais. "Nós nos preocupamos também com as comunidades que vivem próximo aos locais de desova das espécies e também com os pescadores, dando orientações sobre os cuidados que precisam ser tomados para garantir a existência desses animais", contou.

Para quem atua na causa, é essencial a participação de todas as esferas da sociedade neste processo, a começar pela própria população, que, conforme destacou Barreto, deve se dispor a começar a fazer a sua parte ainda em casa. "Ações como os mutirões de limpeza de praia, principalmente em áreas mais urbanizadas, como a que foi promovida pela Prefeitura, são importantes não só para evitar a morte de espécies marinhas, como também para a sensibilização da população humana quanto ao prejuízo causado pelo lixo que é despejado na orla das cidades costeiras, como São Luís", destacou .

Para além das ações de limpeza promovidas pelo poder público e grupos independentes voltadas para a educação ambiental, cidades mundo afora vêm tentando banir o consumo de descartáveis, a fim de que a problemática possa ser revertida ou, ao menos, estagnada. No Brasil, essas iniciativas podem ser observadas, mesmo que de forma sutil, em algumas capitais como Brasília, onde desde 2008 uma lei municipal proíbe o uso de embalagens plásticas, ou o Rio de Janeiro, que no mês de julho deste ano baniu o uso de canudos de plástico.

Medida semelhante entrará em vigor em abril de 2019 no arquipélago de Fernando de Noronha, localizado no estado de Pernambuco, quando a venda e o uso de itens de plástico descartável será proibida, com apoio de entidades, estabelecimentos e empresários do local. O objetivo, de acordo com Guilherme Rocha, administrador geral do distrito estadual do arquipélago, é transformar Noronha em um modelo de gestão sustentável que possa ser replicado por outros lugares.

Alternativas
No entanto, apenas proibir o uso de determinados utensílios pode não ser uma medida tão viável, visto que a substituto pode ser tão nocivo quanto. Desta forma, o mercado de produtos sustentáveis tem crescido em todo o país, oferecendo alternativas ecológicas a diversos segmentos e perfis de consumidores. Desde vestuário a produtos de higiene, o gênero preocupa-se, além do lucro, satisfazer às necessidades ambientais modernas que, se não forem atendidas, poderá resultar no colapso da natureza.

Em algumas situações, a oferta é pensada a partir de uma demanda pessoal, como foi o caso de uma iniciativa pioneira criada em São Luís há cerca de quatro meses, que tem estimulado o consumo consciente em práticas comuns do dia a dia a partir da inquietação da bióloga Leila Figueiredo. A loja, que funciona por meio de uma plataforma online, disponibiliza produtos sustentáveis capazes de substituir utensílios como canudos, talheres, sacos e sacolas de plástico que contribuem para a degradação de ecossistemas marinhos.

“A loja surgiu a partir do meu desconforto por não ter em São Luís nenhum produto que fosse capaz de possibilitar essa troca do descartável pelo sustentável, então comecei a produzir e vender eu mesma”, explicou a proprietária da loja.
Todos os produtos disponibilizados na loja são encomendados de pequenos produtores ou empresas que se preocupam com as questões ambientais e sociais. “Eu não vendo nada que eu não compraria. Então, tudo tem que ser com embalagens recicladas, de papel, feito com pessoas da comunidade e nada em grande escala”, destacou a bióloga, que já identifica um interesse maior do público local neste sentido.

“A aceitação da loja está sendo muito boa, principalmente em relação ao canudo, devido à divulgação de vídeos bem fortes, com animais marinhos, mas ainda temos a necessidade de melhor informar a comunidade sobre ações que podem ser feitas em casa, como o descarte correto de resíduos”, frisou.

Cenário nacional
Uma pesquisa realizada em 13 países, em 2017, pela produtora de embalagens Tetra Pak, divulgada pelo Globo, apontou que produtos recicláveis e com selos ambientais têm sido mais valorizados pelos consumidores brasileiros.

De acordo com a pesquisa, 95% dos entrevistados brasileiros acreditam que as questões ambientais devem ganhar ainda mais relevância nos próximos anos. Em território nacional, 47% dos consumidores procuram os selos quando compram bebidas e 26% reconhecem algum selo ambiental. No momento da compra, 81% dos brasileiros consideram muito relevante a presença desses logos na embalagem, que sinaliza que o produto comercializado utiliza uma matéria-prima de fonte renovável.

Mesmo com a consciência ambiental em expansão, o alto custo dos produtos ambientalmente responsáveis ainda é uma barreira para os consumidores – embora seja uma opinião em declínio (54% em 2015, 41% em 2017). Contudo, deve-se levar em consideração que, diferentemente dos descartáveis, os materiais ecológicos possuem vida útil mais prolongada e, quando não, podem ser facilmente devolvidos à natureza por meio da compostagem de seus resíduos.

Essa conscientização ocorre principalmente entre os mais jovens. Segundo Leila Figueiredo, mulheres de até 30 anos são as que mais demonstram interesse pelos produtos, mas, algumas histórias chamam ainda mais atenção, como a da pequena Marianna Melo, que, aos 12 anos, evita o uso de descartáveis e tem sempre o seu canudo reutilizável na bolsa, comprovando que não há idade para se preocupar com o meio ambiente e a saúde das espécies constantemente ameaçadas pela humanidade.

O interesse, que surgiu ao ser repreendida pela irmã, tornou-se um habito que é compartilhado com a família e amigos. "Desde pequena, eu tomava tudo com canudinho, até que um dia a minha irmã disse que eu estava matando o Planeta Terra fazendo isso, então comecei a pesquisar e falar sobre o assunto com as minhas amigas", esclareceu. Com o auxílio da internet, a estudante pôde aprofundar-se um pouco mais sobre o assunto e deixou de utilizar os canudos plásticos. "Eu não sabia o que as nossas ações geram à natureza e acabei descobrindo que trazem muito mal", destacou.

Não se espera que a degradação ambiental causada pelo plástico seja exterminada de um dia para o outro, mas é necessário que haja maior engajamento da sociedade para que as próximas gerações tenham a oportunidade de usufruir e conviver com a diversidade que a natureza ainda dispõe.

[e-s001]Por que é prejudicial à vida marinha?

Para aves marinhas e animais de maior porte - como tartarugas, golfinhos e focas -, o perigo pode estar nas sacolas de plástico, nas quais acabam ficando presos. Esses animais também costumam confundir o plástico com comida.
Tartarugas não conseguem diferenciar, por exemplo, uma sacola de uma água-viva. Uma vez ingeridas, as sacolas de plástico podem causar obstrução interna e levar o animal à morte. Pedaços maiores de plástico também causam danos ao sistema digestivo de aves e baleias - e são potencialmente fatais.
Com o tempo, os resíduos de plástico são degradados, dividindo-se em pequenos fragmentos. O processo, que é lento, também preocupa os cientistas. Uma pesquisa da Universidade de Plymouth, na Inglaterra, mostrou que resíduos de plástico foram encontrados em um terço dos peixes capturados no Reino Unido, entre eles o bacalhau. Além de resultar em desnutrição e fome para os peixes, os pesquisadores dizem que, ao consumir frutos do mar, os seres humanos podem estar se alimentando, por tabela, de fragmentos de plástico. E os efeitos disso ainda são desconhecidos. Em 2016, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar alertou para o crescente risco à saúde humana, dada a possibilidade de micropartículas de plástico estarem presentes nos tecidos dos peixes comercializados.

Ajude a reduzir o descarte

O papel e o vidro são seus amigos (o plástico, não!)
Ninguém precisa de sacolinhas plásticas. Elas podem ser substituídas por caixas de papelão ou pelas sacolas reutilizáveis. Troque os recipientes de plástico pelos de vidro.
Substitua as embalagens
Em vez de comprar molho de tomate em sachê, prefira molho em lata ou pote de vidro. Evite comprar frutas, verduras e legumes embalados em plástico, bandejinhas de isopor ou saquinhos plásticos. Coloque os produtos direto na sua ecobags.
Para que eu uso isso mesmo?
É sempre importante se perguntar se você precisa daquele material plástico, a exemplo de copos, talheres ou canudos - até porque, eles serão descartados logo após o uso. Já existem, por exemplo, canudos de metal, titânio e bambu. Aposte neles!
Higiene pessoal
Use o coletor menstrual (aquele copinho) ou calcinhas menstruais para substituir absorventes. Troque sua escova de dentes de plástico por uma de bambu. Em vez de comprar lâminas de barbear descartáveis, use um barbeador de metal.

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