Vala clandestina

Ossada de desaparecido na ditadura é identificada

Anúncio foi feito em Brasília durante Encontro Nacional de Familiares de Desaparecidos Políticos. Sindicalista Aluizio Palhano desapareceu em 1971, durante ditadura militar; DNA permite identificação de 2ª ossada encontrada na vala clandestina de Perus

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Ossadas encontradas na vala de Perus serão enviadas para análise de DNA na Bósnia
Ossadas encontradas na vala de Perus serão enviadas para análise de DNA na Bósnia (G1)

BRASÍLIA - Os restos mortais do sindicalista Aluizio Palhano, sequestrado e morto em 1971 durante a Ditadura Militar, foram identificados 47 anos depois do seu desaparecimento. A confirmação veio a partir de um cruzamento genético e foi anunciada ontem (3) durante o I Encontro Nacional de Familiares de Desaparecidos Políticos, em Brasília.

A ossada estava entre mais de mil restos mortais descobertos em 1990, na vala clandestina de Perus, no cemitério Dom Bosco, em São Paulo. Esta é a segunda confirmação obtida, desde 2014, pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (Cemdp), do governo federal.

A primeira ossada identificada foi a do paulista Dimas Antônio Casemiro, em fevereiro deste ano. A vala clandestina de Perus foi descoberta em 1990. As ossadas foram enviadas à Bósnia.

A equipe científica que chegou à identificação do restos mortais do sindicalista Aluísio Palhano foi coordenada pelo perito Samuel Ferreira. O pesquisador explicou que o perfil genético foi identificado por meio do cruzamento do DNA da filha do sindicalista com segmentos ósseos dele – um pedaço do fêmur e um dente.

“Examinando os restos mortais, pelas características físicas, soubemos dizer a estimativa da altura da pessoa, sexo, faixa etária e o tipo de lesão que ele teve”.

Com as informações coletadas com a família, as características foram comparadas com os restos mortais e, só então, veio a confirmação de que a ossada era de Palhano. “Todo o procedimento é extremamente cuidadoso e científico, sob princípios éticos, legais e humanitários”.

“A identificação prova, mais uma vez, o uso do cemitério de Perus para desaparecimento de corpos.”

Novas identificações

Durante a tarde desta segunda-feira, familiares de desaparecidos políticos vão coletar amostras de material genético, em Brasília. O material vai compor o banco de dados da comissão e, depois, será levado para um laboratório em Haia, na Holanda.

O laboratório na Holanda é o mesmo que analisou as amostras enviadas para a Bósnia em 2014. Ele agora tem sede em Haia. O resultado do procedimento vai servir para a identificação de mais de 40 desaparecidos políticos no Brasil. Ainda não há prazo para novos resultados. A análise antropológica, de montagem dos restos mortais é feita na UNIFESP, em SP.

Atestados de óbito

Além do anúncio da identificação do sindicalista morto, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos começou a entregar os relatórios de morte anexados aos atestados de óbito de alguns desaparecidos políticos.

O primeiro documento, com detalhes das circunstâncias, foi entregue nesta segunda. Os demais serão distribuídos ao longo do encontro, até hoje (4).

Os atestados de óbito foram entregues em 1995. No ano passado, uma resolução do Ministério dos Direitos Humanos abriu a possibilidade dos familiares reivindicarem uma retificação neste documento. Desde então, parentes de 60 vítimas da ditadura militar, em todo país, solicitaram a alteração.

Marcelo de Santa Cruz, é irmão de um dos mortos, o pernambucano Fernando Santa Cruz, desaparecido em 1974. Segundo ele, o irmão não era ligado à luta armada, mas era membro da Ação Popular Marxista-Lenista.

A família já tinha recebido o atestado de reconhecimento da morte do estudante, mas veio até Brasília para pedir mais detalhes da situação. “O atestado de reconhecimento de que ele foi morto pela repressão não é suficiente para nós”, afirma Marcelo. “O importante é saber as circunstâncias em que ele foi morto, onde estão os restos mortais e que sejam apontados os executores.”

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