Clodoaldo Despaigne, instrutor/professor de judô

Cubano faz do judô uma fonte de esperança em São Mateus

Após bem-sucedida carreira como atleta e técnico da seleção cubana de Judô, ele desenvolve atividades no projeto São Mateus do Amanhã, do ICE-MA

IRONARA PESTANA / Especial para O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Clodoaldo Despaigne conversa com os alunos, que ele considera filhos
Clodoaldo Despaigne conversa com os alunos, que ele considera filhos

SÃO MATEUS - Em muitos casos, a língua pode ser uma barreira para o sucesso de um projeto de vida. Mas não para o cubano Clodoaldo Despaigne, 57 anos, que há dois anos vive no município maranhense de São Mateus e se tornou instrutor de judô para crianças de escolas públicas que participam do projeto São Mateus do Amanhã, desenvolvido pelo Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICE-MA).

Há quatro anos morando no Brasil, Clodoaldo ainda tem o sotaque espanhol bem forte, o que ainda dificulta o entendimento de algumas palavras por quem o ouve. E, por incrível que pareça, ele utiliza uma língua de entendimento ainda mais difícil, o japonês, durante as aulas, pois esta é a língua-mãe do judô.

Assim que chega ao ginásio, onde acontecem as aulas, basta ele falar: Hayimi (começa o combate) que todos já sabem o que fazer. E é essa linguagem que eles aprendem e entendem bem, pelo menos para seguir os passos do judô. A prova de que “dominam” a língua estrangeira é que muitos já foram campeões em vários eventos da modalidade.

“São 70 filhos que ganhei no Brasil”, afirma, emocionado, o professor de judô, referindo-se aos alunos, para quem repassa todo o conhecimento que adquiriu ao longo da vida, em Cuba, onde sobrevivência não foi nada fácil, mas ele superou as adversidades, inclusive do sistema de governo, e foi campeão na vida pessoal e em várias competições, nas décadas de 1970 e 80, também como atleta da seleção cubana de judô, da qual também foi técnico.

A vinda
Mas o que fez esse judoca cubano bem-sucedido no esporte vir parar no Brasil? A princípio, nada relacionado à modalidade. Casado com a médica Tania Landa Pastrana, o professor Clodoaldo acompanhou a esposa, que veio para o país para atuar no programa Mais Médicos, criado pelo Governo Federal e que atraiu médicos estrangeiros, especialmente de Cuba, devido ao sistema de contratação diferenciado, graças a um pacote de prestação de serviços firmado pelo Ministério da Saúde brasileiro com o governo cubano.

Clodoaldo Despaigne com a mulher, médica Tania Landa Pastrana, e o filho, Manuel Alejandro
Clodoaldo Despaigne com a mulher, médica Tania Landa Pastrana, e o filho, Manuel Alejandro

A possibilidade de mudança de país para viver novos ares e tentar melhoria de vida, com mais liberdade, inclusive financeira, atraiu o casal cubano. A entrada no Brasil foi por Belo Horizonte, Minas Gerais, onde Tania atuou por dois anos no programa e fez várias amizades. Findo o período de contrato no Mais Médicos, ela foi convidada por uma amiga médica para morar em São Mateus.

O casal topou mais esse desafio e se mudou, com o filho Manuel Alejandro Despaigne Landa, 8 anos de idade, para o município maranhense, onde está até hoje. Tania aguarda a revalidação de seu diploma cubano de Medicina para continuar atuando na profissão em território brasileiro e enquanto isso a renda da família vem do trabalho de Clodoaldo com o judô. O filho deles também integra o grupo de judocas e até ajuda o pai na comunicação com os demais alunos. “Ele chegou aqui no Brasil com 4 anos e já domina melhor a língua portuguesa, então, quando tenho dificuldade, ele me ajuda a conversar com os meninos”, conta, sorrindo e olhando de forma orgulhosa para o filho.

E é com esse mesmo orgulho que o professor cubano olha para os seus alunos e se emociona ao falar do que significa esse trabalho para ele.

“O judô me ajudou a ter autonomia, interesse, disciplina e responsabilidade e tudo isso repasso para eles nas aulas. São meninos bons, só precisam desse apoio que o projeto está dando para eles. Para mim, é uma aula de vida todo dia, pois também aprendo com eles a superar os dissabores da vida. Na verdade, estamos aprendendo juntos a ver a vida de uma forma mais feliz”, diz Clodoaldo Despaigne.

Ele diz também que o judô acolhe, protege e cuida. Por isso, a principal exigência para participar do São Mateus do Amanhã é estar matriculado em escola pública. As aulas acontecem às segundas, quartas e sextas-feiras no ginásio de uma das escolas, com toda a estrutura de tatames. Os alunos usam quimonos e todas as ferramentas necessárias para as aulas.

“Se não estiver matriculado e frequentando a escola, não entra. Quem estuda de manhã vem para o judô à tarde e quem estuda à tarde vem pela manhã. É uma maneira de incentivarmos que tenham também a formação educacional e ficamos em contato direto com os pais para saber como eles estão na escola”, complementa o professor.

Esse incentivo à educação formal, segundo Clodoaldo Despaigne, é para mostrar que, quando se tem um objetivo, é preciso ter disciplina e foco. “O judô é a melhor inspiração. Quando eu era apenas um aluno, lá em Cuba, onde as pessoas não têm tantos direitos, liberdade e esperança de mudanças e crescimento, como aqui no Brasil, foi o judô que me fez ter outra perspectiva de vida. Aprendi a crescer como cidadão e profissional e tudo isso repasso para meus alunos”, conclui.

Para mim, é uma aula de vida todo dia, pois também aprendo com eles a superar os dissabores da vida. Na verdade, estamos aprendendo juntos a ver a vida de uma forma mais feliz”

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