Sem fim

Obra de reforma na Barragem do Bacanga segue inacabada

Trabalho deveria ter sido entregue, inicialmente, em fevereiro de 2017, mas até agora está parada e sem previsão de conclusão; Governo alega que obra foi concluída, mas pescadores dizem que as comportas ficam muito tempo fechadas

Monalisa Benavenuto / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

Após mandado judicial, o Governo do Estado iniciou, em 2016, obras para recuperar a Barragem do Bacanga, que continua inacabada. Segundo moradores, quatro empresas diferentes já foram ao local, mas há cerca de cinco meses os serviços estão parados.

Nesse mesmo ano, o Ministério Público do Maranhão propôs uma ação civil pública após constatar que o lago Bacanga vinha sendo ponto de despejo contínuo de esgoto in natura e de lixo, o que causava a morte de diversas espécies de animais aquáticos, por insuficiência de oxigênio e pelo acúmulo de matéria orgânica na superfície da estrutura, construída na década de 1960 pelo então governador José Sarney.

Em resposta, o juiz Douglas Martins, da Vara de Direitos Difusos e Coletivos, determinou que fossem feitas obras de recuperação no local, dando um prazo de 90 dias para a apresentação de um cronograma de obras e um ano para a despoluição das águas, com multa diária de R$ três mil, em caso de descumprimento.

As obras, orçadas em R$ 8,5 milhões, deveriam ter sido entregues inicialmente em fevereiro de 2017, mas o prazo foi esgotado, e a data de entrega adiada para agosto do mesmo ano (também foi descumprida). De acordo com a última previsão divulgada, o término das obras deveria ter sido em março deste ano, mas até o momento a barragem continua interditada.

Um morador da área, que preferiu não ser identificado, relatou que há mais de cinco meses funcionários deixaram as obras. “Eu só sei que o que ainda está funcionando é a comporta, porque ninguém pode entrar aí. Ninguém sabe de nada. Já vieram umas quatro firmas diferentes para trabalhar aí”, contou.

Segundo um operário, os serviços estão funcionando dentro da normalidade, e as comportas são abertas adequadamente. No entanto, pescadores e moradores do entorno da barragem informaram que as estruturas passam muito tempo fechadas.

Irregularidades
Ribamar Lopes pesca na região há cerca de 18 anos. Segundo ele, a irregularidade nas atividades da comporta tem prejudicado os pescadores. “Em setembro, isso aí já vai fazer três anos que está sendo feito, mas já até abandonaram, largaram tudo pela metade e nem está sendo aberta a comporta para jogar água. A água está toda doce. Daqui a pouco, nem vem peixe aí. Isso prejudica muito a gente”, relatou o pescador.

O pescador afirmou ainda que as comportas são abertas somente quando a comunidade cobra os funcionários. “Eles abriram agora para tirar uma água, mas isso é só quando os pescadores do Sá Viana, Itaqui Bacanga e Coroadinho se reúnem para dar uma prensa neles. Se não for, eles não abrem”, ressaltou.

No início do ano, a Secretaria de Estado da Infraestrutura (Sinfra) informou a O Estado que foi realizada a substituição de uma comporta-vagão (principal) e duas stop logs, que servem para manutenção, recuperação e reforço estrutural nas duas pontes que interligam o complexo. Além disso, a verba destinada para a obra viabilizou a revitalização do entorno da barragem. Informou ainda que as comportas instaladas estavam em pleno funcionamento e a recuperação e reforço estrutural das pontes, em fase de conclusão.

Nas redes sociais, o governador Flávio Dino enalteceu a importância das obras de reestruturação da barragem e substituição de comportas, assim que os serviços foram iniciados, mas até o momento não explicou a razão do atraso na entrega nem nova data estimada.

Sobre a situação da barragem, a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra) informou em nota, ontem, que a instalação da comporta vagão foi concluída, estando em pleno funcionamento desde o mês de setembro do ano passado. A recuperação e o reforço estrutural das duas pontes também foram concluídos em fevereiro deste ano. A Sinfra afirmou que resta tão somente a urbanização do entorno do complexo. Devido ao intenso volume de chuvas em São Luís, a conclusão dos serviços da urbanização ainda não pôde ser finalizada.

SAIBA MAIS

No fim da década de 1960, com o surgimento do Porto do Itaqui, houve a necessidade de diminuir a distância entre o porto e o centro da capital, de 50 para oito quilômetros. Entre 1966 e 1967, o projeto de criação da Barragem do Bacanga foi feito pelo governador José Sarney, iniciado em 1969 e finalizado em 1970 pela empresa Mendes Junior.

Vários objetivos foram levantados no decorrer do processo de construção, entre eles diminuir a distância entre o porto e a cidade, sanear as casas do alagado à beira do rio e dar um lago à cidade. Inicialmente, a barragem tinha dez comportas, seis pequenas, três médias e uma grande.

Posteriormente, algumas delas foram fechadas e em setembro de 2015, uma delas afundou no rio. As portas funcionam para fazer o manejo do rio para o mar e vice-versa. A falta de manutenção constante à barragem e suas comportas e o intenso fluxo de veículos sobre ela todos os dias contribuíram para prejudicar a estrutura.

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