Violência

Confrontos entre Gaza e Israel deixam 55 palestinos mortos

Palestinos se manifestam contra 70 anos de Israel e inauguração da embaixada americana em Jerusalém; a Autoridade Nacional Palestina acusou Israel de "cometer um massacre em Gaza", enquanto a União Europeia pediu moderação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Palestino carrega manifestante ferido em protesto na fronteira de Gaza com Israel
Palestino carrega manifestante ferido em protesto na fronteira de Gaza com Israel (Palestino carrega manifestante ferido em protesto na fronteira de Gaza com Israel)

FAIXA DE GAZA - Pelo menos 55 palestinos foram mortos e 1.800 feridos ontem por soldados israelenses em confrontos próximos à cerca fronteiriça que separa Israel da Faixa de Gaza, informou o Ministério da Saúde palestino ontem,14. A violência começou em meio a protestos em Gaza contra os 70 anos da fundação do Estado de Israel que, este ano, coincide com a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, cuja cerimônia de inauguração acontece nesta segunda-feira. A Autoridade Nacional Palestina acusou Israel de "cometer um massacre em Gaza", enquanto a União Europeia pediu moderação.

Milhares de palestinos se concentraram em pontos próximos à divisa com Israel. Os soldados isralenses dispararam tiros de fuzil contra os manifestantes quando eles se aproximaram da cerca fronteiriça. Entre os mortos, há oito adolescentes de menos de 16 anos.

O atual primeiro-ministro de Israel chefia o país desde 2009, sempre amparado em coalizões de centro-direita. Sob seu governo, o país endureceu em seus conflitos militares com os vizinhos, como a guerra de 2014 em Gaza, na qual morreram 2.200 palestinos e 71 israelenses. A ONU pede que ele negocie a paz.

O número de mortes já é o maior em um único dia desde o início dos protestos na chamada "Grande Marcha do Retorno", que começou na fronteira com Israel em 30 de março, e também desde a guerra de 2014 em Gaza. Em sete semanas, pelo menos 105 palestinos foram mortos ao tentar se aproximar da fronteira de Gaza com Israel.

" Hoje é o grande dia em que vamos cruzar a cerca e dizer a Israel e ao mundo que não aceitaremos ser ocupados para sempre", defendeu Ali, professor de ciências em Gaza, que se recusou a dar o sobrenome. "Muitos podem ser martirizados hoje, muitos. Mas o mundo escutará nossa mensagem. A ocupação (israelense) deve acabar".

A Marcha do Retorno pede o fim do bloqueio israelense a Gaza e o direito de retorno dos palestinos que foram expulsos ou deixaram a Israel quando da criação do Estado judeu. Apesar de ter retirado seus soldados e colonos de Gaza em 2005, Israel continua a controlar as fronteiras terrestres e marítimas, além do espaço aéreo do território onde vivem 1,9 milhão de pessoas, a maioria descendente de refugiados de 1948. O Egito tem controle sobre o outro ponto fronteiriço, em Rafah, e, apesar de em tese apoiar a luta dos palestinos por seu Estado, reforçou o controle da passagem sob o atual governo, do general Abdul al-Sisi.

O Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial pediu ontem,14, a Israel que "suspenda imediatamente o uso desproporcional da força contra manifestantes palestinos" e que garanta que os feridos tenham acesso a atendimento médico. Já Federica Mogherini, chefe da diplomacia da UE, pediu a "máxima moderação" após as mortes em Gaza.

Manifestação

Os atos de protesto são normalmente organizados às sextas-feiras, mas devem atingir seu ápice em 15 de maio, hoje - data conhecida pelos palestinos como Nakba ou "Catástrofe", que marca o deslocamento de centenas de milhares de árabes no conflito desencadeado com a criação de Israel em 14 de maio de 1948. O movimento islâmico Hamas, que controla a Faixa da Gaza, alertou que apoia qualquer tentativa dos manifestantes de romper as barreiras fronteiriças.

A Força Aérea de Israel disparou mísseis contra cinco pontos estratégicos do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, ao norte da região. De acordo com o Exército, a medida é uma reação às atividades terroristas recentes ao longo da fronteira, o que inclui o lançamento de coquetéis molotov contra os soldados israelenses. No sábado, os militares anunciaram que vão dobrar suas unidades de combate em torno da Faixa de Gaza e da Cisjordânia ocupada por Israel para reforçar a segurança diante possibilidade de protestos palestinos.

O presidente americano, Donald Trump, que anunciou a transferência da embaixada no ano passado, não estará presente na inauguração. Sua filha Ivanka e seu genro e assessor Jared Kushner já estão em Jerusalém para representá-lo. A decisão de Trump, que despertou fúria no mundo árabe, rompeu um antigo consenso internacional de que status de Jerusalém seria determinado por um acordo de paz entre Israel e os palestinos.

Posições contrárias

No Twitter, o presidente americano anunciou a transmissão ao vivo da inauguração, comemorando o ato: "Um grande dia para Israel!".

O premier israelense Benjamin Netanyahu se disse emocionado com as várias comemoraçoes no mesmo dia. "Que dia comovente para o povo de Israel e o Estado de Israel".

Jason Greenblatt, enviado de Trump ao Oriente Médio, disse no Twitter que "tomar o devido passo de mudar nossa embaixada não é uma saída de nosso forte compromisso em facilitar um acordo de paz duradouro. Ao contrário, é uma condição necessária para isso".

No entanto, o primeiro-ministro palestino Rami Hamdallah disse que o reconhecimento de Jerusalém como capital de Isarl por parte de Trump é uma "violação flagrande da lei internacional".

Jihad contra os EUA

O líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, convocou no domingo a jihad contra os Estados Unidos, ao afirmar que a instalação da embaixada do país em Jerusalém é a prova de que as negociações e o "apaziguamento" não ajudaram os palestinos.

Em um vídeo de cinco minutos com o título titulado "Tel Aviv também é um território dos muçulmanos", o médico egípcio que assumiu a liderança da Al-Qaeda após a morte de seu fundador, Osama bin Laden, em 2011, chama a Autoridade Palestina de "vendedores da Palestina" e convoca seus adeptos a pegar em armas.

"Donald Trump foi claro e explícito e revelou a verdadeira face da Cruzada moderna (...) O apaziguamento não funciona com ele, e sim a resistência (...) pela via da jihad", afirmou Al-Zawahiri de acordo com uma transcrição do grupo SITE, que monitora os sites de internet islamitas.

Para o líder da al-Qaeda, os países islâmicos fracassaram em atuar a favor dos muçulmanos ao integrar a ONU, instituição que reconhece Israel, e ao aceitarem as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ao invés da sharia (lei islâmica).

Os líderes da Autoridade Nacional Palestina se recusam em conversar com os representantes do governo americano desde o anúncio da transferência da embaixada, sequer com o genro do presidente, Jared Kushner, que havia sido designado para estimular o processo de paz.

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