Segunda Guerra Mundial

Lei protege Polônia de acusações de conivência com crimes nazistas

Polêmico projeto sancionado pelo presidente Andrzej Duda gerou reações descontentes de Israel dos Estados Unidos, que temem pela liberdade de expressão e responsabilização pelos crimes do Holocausto

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33

POLÔNIA - O presidente da Polônia sancionou um polêmico projeto de lei sobre o Holocausto, apesar de protestos de Israel e dos Estados Unidos. Andrzej Duda defendeu a legislação, que torna ilegal que cidadãos acusem a Polônia de conivência com os crimes cometidos pelos nazistas durante a ocupação do país na Segunda Guerra Mundial. A pena é de até três anos de prisão.

O governo polonês diz que a ideia é impedir que a nação e o Estado poloneses sejam culpados pelas atrocidades.

Em Israel, o governo está preocupado com a possibilidade de que isso impeça de vir à tona a verdade sobre o envolvimento de alguns poloneses, além de fomentar o antissemitismo.

Também há temores de que sobreviventes do massacre possam sofrer processos criminais ao dar testemunhos que incriminem poloneses.

Em um discurso nesta terça, Duda disse que a lei "protege os interesses poloneses e sua dignidade e a verdade histórica".

"Assim podemos ser julgados de modo justo no mundo, em vez de sermos difamados como Estado e nação', disse ele.

O presidente reconheceu que houve poloneses que cometeram crimes contra judeus durante a guerra, mas disse que o Estado não teve responsabilidade porque deixou de existir depois de ser invadido pela Alemanha nazista. Ele diz que não houve colaboração sistemática de instituições polonesas com o regime.

Em aceno à Israel, Duda disse que pediria para que o Tribunal Constitucional averiguasse se a nova regulação é condizente com as regras da Constituição polonesa – mas isso só vai acontecer depois que o projeto virar lei.

Mas a nova lei, que têm como um dos objetivos preservar a imagem da Polônia no exterior, criou um mal-estar diplomático sem precedentes.

O Departamento de Estado dos EUA advertiu, na semana passada, que haveria "repercussões" à medida nas relações bilaterais.

"Os EUA estão decepcionados com o fato de o presidente da Polônia ter sancionado a lei ", disse em comunicado o secretário de Estado americano, Rex Tillerson. "Colocar a lei em vigor afeta negativamente a liberdade de expressão e os questionamentos acadêmicos."

Israel, por sua vez, pediu que a lei fosse modificada, alegando que os dois países "têm uma responsabilidade conjunta" em preservar a memória do Holocausto.

Mais de 3,2 milhões de judeus que moravam na Polônia foram mortos pelos nazistas - o que equivale a cerca da metade de todos os judeus mortos no Holocausto.

O que diz a lei

A lei determina que "qualquer um que acuse, publicamente e contra os fatos, a nação Polonesa ou o Estado Polonês de serem reponsáveis ou coniventes com os crimes cometidos pelo Terceiro Reich Nazista estará sujeito a multa ou prisão de até três anos". A exceção é se o ato for parte de atividades científicas ou artísticas. O Senado polonês aprovou o projeto na semana passada.

O país protesta há anos contra o uso de frases como "campos de concentração poloneses", que sugerem que o Estado polonês de alguma forma teve responsabilidade por atrocidades cometidas em lugares como o campo Auschwitz.

Os campos de concentração foram construídos e gerenciados pela Alemanha nazista depois da invasão da Polônia, em 1939.

O que diz Israel

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, chamou a lei de uma tentativa de reescrever a história e negar o Holocausto.

A vice-ministra de Relações Exteriores Tzipi Hotovely disse no mês passado que a atitude da Polônia poderia gerar "um efeito de bola de neve" e acabar ajudando a "minimizar a responsabilidade de poloneses que participaram dos crimes de guerra cometidos pelos nazistas".

O ministro da Justiça interino Marcin Warchol disse que é errado supor que o projeto impedirá as pessoas de pesquisarem a história da Polônia.

O primeiro-ministro Mateusz Morawiecki disse que seu país está comprometido a combater mentiras sobre o Holocausto. "Os campos onde milhões de judeus foram assassinados não eram poloneses. A verdade precisa ser protegida", disse.

O país é governado por um partido nacionalista, o PiS (Lei e Justiça), que tenta mostrar ao mundo como a Polônia foi violetamente devastada pela Alemanha e pela União Soviética na guerra.

Poloneses

Mais cidadãos da Polônia do que de qualquer outro país foram homenageados por Israel por salvarem a vida de judeus durante a guerra.

No entanto, historiadores dizem que outros foram cúmplices – cometeram atos como informar sobre judeus escondidos em troca de vantagens ou participaram de massacres incitados pelos nazistas, como o massacre de Jedwabne, quando centenas de judeus foram assassinados pelos vizinhos.

O historiador Efraim Zuroff, conhecido como "caçador de nazistas", diz que o número de colaboradores está na casa dos milhares.

"O Estado polonês não foi conivente com o Holocausto, mas muitos poloneses foram", disse Zuroff ao jornal "Times of Israel".

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.