Paixão pela história

Braço direito na luta para fazer de São Luís um patrimônio

Mineiro teve papel marcante para obtenção do título concedido pela Unesco em 1997; passados 20 anos, ele conserva o mesmo amor pela cidade

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34

SÃO LUÍS - O título de Patrimônio Histórico da Humanidade, concedido a São Luís em 1997 pela Unesco, e que está completando 20 anos, é resultado de décadas de trabalho de centenas de profissionais dedicados e muitas vezes anônimos. Entre eles, o engenheiro mineiro radicado no Maranhão Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrès, atual diretor da Unidade Vocacional Estaleiro Escola no Sítio Tamancão. Na época, ele era o coordenador geral do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís, função que exercia desde 1982.
Natural de Juiz de Fora (MG), Luiz Phelipe Andrés é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre em Conservação Urbana pela Universidade Federal de Pernambuco. Desembarcou em São Luís no dia 13 de março de 1977 e daqui nunca mais sairia, e muito menos imaginaria que, dali em diante, construiria uma relação de alta afinidade com a única capital brasileira fundada pelos franceses, a qual, mais tarde, viria a se tornar patrimônio mundial.
Casado com Maria Eugênia Barros Murad e pai de Luiz Francisco Duboc Andrès (38) e Christiana Murad Andrès (23), o engenheiro é um homem bastante educado, inteligente e dedicado. Nos últimos dias, não tem medido esforços para atender à imprensa e rememorar os 20 anos do título.
“Gosto de enfatizar que fui apenas uma peça de toda uma equipe numerosa e multidisciplinar que trabalhou e contribuiu, cada qual a seu modo, para o resultado do título. Só que, como estava há mais tempo, eu ocupava a função de coordenador geral. Além do que, contamos com o aporte de importantes trabalhos de pesquisadores que nos antecederam e realizaram estudos basilares para a compreensão do acervo, assim como os arquitetos Viana de Lima, Dora Alcântara e Olavo Pereira da Silva Filho, e de historiadores como Rafael Moreira. É injusto iniciar uma lista como esta, pois certamente iremos cometer omissões”.

Visita
Phelipe Andrès guarda na memória e nos acervos que deixou nas instituições, todos os momentos do processo. Nunca se esquecera, por exemplo, do final do mês de outubro de 1996, quando da visita da missão de reconhecimento do Conselho Internacional de Sítios e Monumentos, uma Organização não Governamental que reúne os maiores especialistas do mundo e que, normalmente, é contratada pela Unesco para realizar as primeiras avaliações sobre a natureza e a qualidade dos acervos que estão sendo objeto de candidatura a título de Patrimônio Mundial. Os técnicos percorreram todo o perímetro da área urbana e avaliaram as preciosidades de São Luís. Ele e equipe passaram cinco dias mostrando todo o acervo, mesmo as quadras mais degradadas, como era o caso da região dos bairros do Desterro e Portinho.
O relatório conclusivo da missão foi amplamente favorável e dizia: “O Centro Histórico de São Luís é um exemplo excepcional de cidade colonial portuguesa adaptado às condições climáticas da América do Sul equatorial e que tem conservado dentro de notáveis proporções, o tecido urbano harmoniosamente integrado ao ambiente que o cerca”.
Luiz Phelipe Andrès recorda que foram duas rigorosas etapas de avaliação. Uma das reuniões aconteceu em Napoli, no sul da Itália. “Ambas foram carregadas de suspense, mas a primeira delas, em Paris, para nós foi a que acarretou as mais fortes emoções, pois aconteceu a seleção tecnicamente mais difícil e rigorosa e alguns dos países proponentes iriam fatalmente ser eliminados. Durou cinco dias e haviam pelo menos 43 proposições em avaliação. Nosso caso estava previsto para entrar na pauta da quinta-feira. Assim, foi que vimos várias propostas antes da nossa receberem o veredicto: ‘devolva-se este processo ao país proponente para complementar informações’. Assim, foi com muita emoção e grande alivio que, no fim da manhã daquele dia, ouvimos o veredicto de que São Luís fora aprovada”, recorda.

Currículo
Para o engenheiro, ter participado do processo de titulação enriqueceu seu currículo. “Especialmente se considerarmos que o mesmo foi concedido pela maior organização de cultura do mundo para esta magnífica cidade, uma joia que, a partir daquele momento, passava a ser reconhecida como uma das grandes obras de arquitetura e urbanismo na América Latina”, alegra-se.
A partir de então, Luiz Phelipe Andrès tornou-me um apaixonado pelo tema e nunca mais teve coragem de abandonar a pesquisa e os trabalhos em prol do Centro Histórico de São Luís. Mesmo trabalhando como diretor do Estaleiro Escola, ele exerce o magistério ministrando aulas em duas faculdades. Primeiro, para a disciplina de Patrimônio Cultural Maranhense, no curso de Turismo da antiga Faculdade São Luís, e também para duas turmas do curso de Arquitetura da UNDB.
Como não poderia deixar de ser, sempre lança mão do Centro Histórico como um laboratório vivo de arquitetura e urbanismo, e leva os alunos para viver a importância da área. “Como um privilégio de que dispomos e que nos diferencia das demais cidades brasileiras. Agora, por exemplo, estamos fazendo estudos acadêmicos em que planejamos ‘cases’ para a recuperação da importantíssima área do Mercado Central e adjacências, que permanece em avançado estado de degradação e pede intervenções urgentes por parte dos poderes públicos. Excelente motivo de aprendizado e estudo para as novas gerações”, afirma.

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