Mudança

Trump mudará embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, diz Abbas

Donald Trump ligou ontem para o colega palestino, Mahmoud Abbas, o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, e o rei Abdullah da Jordânia para comunicar sua intenção de transferir a embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34
Donald Trump deverá anunciar nesta quarta a mudança da embaixada dos EUA
Donald Trump deverá anunciar nesta quarta a mudança da embaixada dos EUA (Donald Trump deverá anunciar nesta quarta a mudança da embaixada dos EUA)

WASHINGTON - ​O presidente dos EUA, Donald Trump, informou o presidente palestino, Mahmoud Abbas, em um telefonema ontem que a embaixada americana será transferida de Tel Aviv para Jerusalém. A data da transferência não foi informada.

"O presidente Mahmoud Abbas recebeu um telefonema do presidente dos EUA, Donald Trump, em que ele notificou o presidente [Abbas] de sua intenção de mudar a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, afirmou o porta-voz Nabil Abu Rdainah em uma nota.

"O presidente Abbas alertou sobre as consequências perigosas que tal decisão teria sobre o processo de paz e para a paz, a segurança e a estabilidade da região e do mundo", acrescentou a nota.

Mais tarde, Abbas fez um apelo para que o papa Francisco e os líderes da Rússia, da França e da Jordânia tentem dissuadir Trump de mudar a embaixada.

O rei Abdullah, da Jordânia, disse também ter sido informado da transferência por um telefonema de Trump. Em nota, o rei Abdullah afirmou ter dito a Trump que tal decisão teria "repercussões perigosas na estabilidade e na segurança da região" e iria obstruir os esforços americanos para retomar as conversas de paz árabe-israelenses. Também iria inflamar sentimentos cristãos e islâmicos, acrescentou.

Além dos dois líderes, Trump também telefonou para o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu. O anúncio oficial é esperado para hoje.

Antes, a indefinição americana sobre a mudança de sua embaixada em Israelhavia levado diversos líderes muçulmanos a se manifestarem de forma contrária a mudança.

Os governos da Arábia Saudita e da Turquia, o Egito, a Liga Árabe e a Autoridade Nacional Palestina afirmaram que a medida poderia prejudicar a paz no Oriente Médio, dificultar um acordo entre israelenses e palestinos e aumentar a insegurança contra americanos na região.

A mudança da embaixada para Jerusalém foi uma promessa de Trump na campanha presidencial, mas não é unanimidade dentro do governo O secretário de Estado, Rex Tillerson, o de Defesa, Jim Mattis, e Jared Kushner, assessor e genro do presidente, manifestaram internamente temor que a medida aumente a instabilidade na região.

Por isso, a Casa Branca ainda estuda o que fazer. Uma alternativa é que Trump reconheça Jerusalém como a capital de Israel, mas adie a decisão sobre a transferência da embaixada. A expectativa é que ele faça um discurso hoje sobre o assunto.

Israel conquistou a porção Oriental de Jerusalém em 1967, anexando-a em seguida e declarando toda a cidade como sua capital. A medida não foi reconhecida nem pelos Estados Unidos nem pela comunidade internacional e a maior parte dos países mantém suas embaixadas em Tel Aviv.

Os palestinos reivindicam que Jerusalém Oriental seja a capital de seu futuro Estado. Com isso, uma mudança na política americana para a região, reconhecendo Jerusalém como capital ou transferindo a embaixada, foi alvo de uma enxurrada de críticas de líderes do Oriente Médio.

Principal aliado americano na região, o governo da Arábia Saudita disse esperar que Washington não declare a cidade como capital.

"O reconhecimento terá sérias implicações e será uma provocação contra todos os muçulmanos", disse uma fonte anônima a agência estatal SPA.

Na segunda,4, o embaixador saudita nos EUA, o príncipe Prince Khalid bin Salman, disse que uma declaração de Washington sobre Jerusalém antes de um acordo com os palestinos iria atrapalhar o processo de paz e aumentar a tensão na região.

Já o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o país vai romper relações com Israel caso os Estados Unidos mudem a embaixada.

"Senhor Trump, Jerusalém é uma linha vermelha para os muçulmanos", declarou o presidente turco, Recep Erdogan, em discurso ontem. "É uma violação das leis internacionais tomar a decisão se apoiar Israel enquanto as feridas da sociedade palestina estão sangrando", afirmou ele em um encontro com parlamentares.

A Liga Árabe convocou uma reunião sobre o assunto. O secretário-geral da organização, Ahmed Abul Gheit, considerou "perigosa" uma possível mudança da embaixada, que traria uma "ameaça à estabilidade regional".

"Esta decisão colocaria fim ao papel dos Estados Unidos como mediador de confiança entre palestinos e as forças [israelenses] de ocupação", acrescentou.

Negociações

Um representante da Autoridade Palestina também indicou que caso Trump autorize a transferência, os americanos poderão ser excluídos das negociações para um acordo de paz.

"Não aceitaremos a mediação dos Estados Unidos, não aceitaremos a mediação de Trump. Será o fim do papel desempenhado pelos americanos neste processo", disse Nabil Chaath, conselheiro do presidente palestino, Mahmud Abbas.

Ele afirmou ainda que a decisão pode gerar uma onda de protestos no mundo árabe contra os EUA."Não sei se isso provocará distúrbios, mas haverá, sem dúvida, manifestações populares em toda parte. Espero que não haja violência", disse.

"Não pedimos nada além da solução de dois Estados. Trump e seu governo estão violando [esse princípio]. Não respeitam as regras, e nós não vamos respeitar as suas", afirmou ele.

Sem citar Trump, Federica Mogherini, que comandar a diplomacia da União Europeia, pediu que seja evitada qualquer ação que dificulte a solução de dois Estados e disse que Jerusalém deve ser a capital de Israel e da Palestina.

Lei

Uma lei de 1995, do governo Bill Clinton, estabelece que a embaixada americana em Israel deveria ser transferida de Tel Aviv para Jerusalém. O presidente, porém, pode a cada seis meses emitir uma ordem adiando a mudança por questões de segurança.

Desde Clinton, todos os presidentes sempre emitiram a ordem impedindo a mudança, incluindo Donald Trump em junho, apesar de sua promessa de campanha de que autorizaria a transferência.

O prazo para ele dar a ordem adiando a transferência por mais seis meses acabou nesta segunda-feira,4.

"O presidente foi claro: não é uma questão de 'se', mas uma questão de 'quando'. Mas nenhuma decisão será adotada hoje [segunda-feira] e faremos um anúncio nos próximos dias", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Hogan Gidley, na noite de segunda.

O governo americano ainda decide qual medida vai tomar. Trump pode ainda emitir uma nova ordem com o adiamento ou autorizar o prosseguimento da mudança. A decisão é esperada para hoje.

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