Decisão

Parlamentares da Venezuela perdem imunidade por decisão do Supremo

Tribunal decidiu ontem que os parlamentares não têm imunidade por estarem em desacato, segundo decisão que anulou acordo legislativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Imagem de 6 de janeiro de 2016 mostra a primeira sessão da nova Assembleia Nacional da Venezuela.
Imagem de 6 de janeiro de 2016 mostra a primeira sessão da nova Assembleia Nacional da Venezuela. (Assembleia)

CARACAS - Os parlamentares venezuelanos - em sua maioria opositores - perderam a imunidade parlamentar por decisão do máximo tribunal, que também autorizou o presidente Nicolás Maduro a buscar seu indiciamento, incluindo por crimes militares e de terrorismo.

O tribunal decidiu ontem que os parlamentares não têm imunidade por estarem em desacato, segundo uma decisão que anulou um acordo legislativo que apoia a aplicação da Carta Democrática Interamericana no país.

"A imunidade parlamentar só ampara (...) os atos realizados pelos deputados em exercício de suas atribuições constitucionais (o que não é compatível com a situação atual de desacato na qual a Assembleia Nacional se encontra)", indica a sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).

No início de 2016, esta corte declarou o Parlamento - de maioria opositora - em desacato por considerar que não desvinculou formalmente três deputados acusados de fraude eleitoral.

Com esta declaração, o TSJ - acusado pela oposição de servir ao governo do presidente Nicolás Maduro - cancelou todas as decisões da Assembleia, que afirma que já cumpriu com a separação dos legisladores.

"O governo quer amedrontar os deputados dizendo que irá prendê-los. Irá prender os 30 milhões de venezuelanos que querem que o país mude, que querem votar", declarou Stalin González, chefe da oposição.

Anulação de acordo

O tribunal se pronunciou sobre o foro parlamentar ao anular um acordo aprovado em 21 de março pelo bloco opositor, que pediu à Organização dos Estados Americanos (OEA) que convocasse seu Conselho Permanente para avaliar a aplicação da Carta Democrática na Venezuela.

A sentença foi divulgada no mesmo dia em que o Conselho Permanente planeja analisar a situação do país petrolífero, afundado em um choque de poderes entre o governo e o Legislativo, e em uma crise econômica caracterizada por escassez de alimentos e medicamentos.

O TSJ foi mais longe ao ordenar que Maduro tome "as medidas cíveis, econômicas, militares, penais, administrativas, políticas, jurídicas e sociais que considere pertinentes e necessárias para evitar um estado de comoção" a respeito do acordo legislativo.

E, como parte do estado de exceção vigente desde 2016, e devido ao desacato, habilitou o presidente a "garantir a estabilidade democrática", apoiando-se nas leis sobre crime organizado, terrorismo, corrupção e o "código de justiça militar".

Venezuela na OEA

Em um relatório sobre a situação no país, o secretário da OEA, Luis Almagro, pediu a suspensão da Venezuela do organismo caso não sejam organizadas eleições gerais em breve, como pede a oposição.

De acordo com o diplomata, o governo venezuelano "viola impunemente os direitos dos seus cidadãos, mantém presos políticos apenas por uma questão de discordância, tortura, rouba, corrompe, trafica drogas e mantém sua população submetida à falta de alimentos, medicamentos e dinheiro para sobreviver".

"As estupidezes de Almagro não me tiram o sono (...) para mim é um palhaço, um lixo sideral", reagiu Maduro, que nesta terça-feira deve liderar uma "marcha anti-intervencionista" em Caracas, na qual espera centenas de partidários.

Acima da lei

Para Cecilia Sosa, ex-presidente da extinta Corte Suprema, o TSJ "tem se colocado acima da Constituição", porque a imunidade parlamentar só pode ser removida pelo próprio Legislativo, a pedido do tribunal.

Maduro descarta adiantar a eleição presidencial, prevista para dezembro de 2018, enquanto as legislativas seguem no limbo, pois deveriam ser realizadas no final do ano passado, mas a autoridade eleitoral adiou a votação para 2017, sem estabelecer data.

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