Morte

Adeus, Carlos Alberto Torres

Aos 72, morre Carlos Alberto Torres, o maior dos capitães do futebol brasileiro; em 1970 ele recebeu a Taça Jules Rimet, no tricampeonato

Por GloboEsporte.com/Rio de Janeiro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44

RIO DE JANEIRO

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A braçadeira de capitão sempre lhe caiu bem. Porte esguio, olhar penetrante, personalidade marcante. Não tinha jogador que não ouvisse com atenção suas observações, seus conselhos ou, na pior das hipóteses, suas broncas. Nem Pelé escapava, e foram muitas as vezes em que precisou até baixar a cabeça. E foi esse grande capitão que o futebol brasileiro e o mundo perderam ontem, aos 72 anos. Morreu no Rio de Janeiro, vítima de enfarte fulminante, Carlos Alberto Torres, atualmente comentarista do SporTV. Nome e sobrenome de craque. O homem do tricampeonato mundial em 1970, que beijou e levantou a Taça Jules Rimet.

Carlos Alberto foi um dos maiores brasileiros de todos os tempos/Rafael Ribeiro/CBF
Carlos Alberto foi um dos maiores brasileiros de todos os tempos/Rafael Ribeiro/CBF

Seja como lateral-direito, onde começou na base do Fluminense, seja como zagueiro, ele sempre desfilou pelos gramados uma classe com a bola nos pés em que não ficava para trás nem para um astro do nível de Franz Beckenbauer. Santos, Botafogo, Flamengo e New York Cosmos tiveram em campo a sua classe. Era reverenciado no mundo todo pelo seu passado. Depois, como treinador, o Capita, como era carinhosamente chamado, teve como pontos altos a conquista do Campeonato Brasileiro de 1983, pelo Flamengo, a Copa Conmebol, em 1993, pelo Botafogo, e o Campeonato Carioca pelo Fluminense, em 1984.

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Títulos

Como jogador, Carlos Alberto conquistou uma penca de títulos. No Fluminense, clube de coração. onde começou a carreira, ganhou o Carioca em 1964, quando estourou, e depois, no seu retorno, os de 1975 e 1976, com a famosa Máquina montada pelo presidente eterno Francisco Horta. No Santos de Pelé, onde chegou em 1965, ainda garoto, e viveu o auge, atuando ao lado de craques como o próprio Rei doi Futebol, Edu e Clodoaldo, companheiros de tricampeonato mundial, levou a Taça Brasil em 1965 e 1968, o Torneio Rio-São Paulo em 1966, a Recopa Sul-Americana em 1968 e muitos campeonatos paulistas - 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973.

Em sua breve passagem pelo Botafogo em 1971, emprestado pelo Santos, Carlos Alberto Torres não conquistou títulos mas teve também presença marcante, atuando ao lado de craques como Jairzinho, Paulo Cezar Caju e outros. Depois, voltou ao Peixe, ainda no mesmo ano, onde ficou até 1974. Retornou então ao Fluminense, onde viveu outro grande momento em sua carreira, com a Máquina de Rivellino, Paulo Cezar, Pintinho & Cia.

Na Gávea

Saiu da Máquina em 1977 para atuar no Flamengo de Zico, onde também passou em branco mas viu começar ali aquela que seria a maior equipe rubro-negra da história. Depois, reviu Zico, Júnior, Leandro e Adílio quando os comandou na conquista do Brasileiro de 1983.

O pouco tempo no Flamengo como jogador teve explicação. O New York Cosmos o queria. Já como zagueiro, Carlos Alberto foi para a equipe americana recém-montada para atuar com supercraques. O Cosmos ficou conhecido por reunir uma verdadeira seleção mundial, de Pelé a Franz Beckenbauer. E o Capita, por lá, foi campeão por quatro temporadas - 1977, 1978, 1980 e 1982. Levantar taça era com ele mesmo.

Gol histórico

E quando levantou a Jules Rimet, a maior que conquistou, no tricampeonato de 1970, Carlos Alberto eternizou não só o gesto, mas também uma geração fora de série. Zagallo sempre dizia que fora de campo era o comandante, mas, no gramado, era o seu capitão o porta-voz. O gol marcado pelo lateral-direito, o último na goleada por 4 a 1 sobre a Itália na grande final, sintetizou o que o então camisa 4 e toda aquela Seleção tinham de melhor. A jogada, que iniciou da intermediária com série de dribles de Clodoaldo, foi de pé em pé até Pelé dar um simples toque para o lateral, que vinha de trás. A bola ainda deu uma pequena subida antes de o jogador desferir o potente chute que estufou a rede.

Carlos Alberto era um jogador moderno no seu tempo. Tinha forte poder de marcação, a ponto de poder ter atuado, já como veterano, na zaga. Era também dono de uma rara habilidade e tinha fôlego e capacidade para subir ao ataque como elemento surpresa.

Liderança como jogador e técnico

Como jogador, Carlos Alberto Torres ainda teve uma breve passagem pelo California Surf, até retornar ao Cosmos e encerrar a carreira em 1982. Não demorou muito, no entanto, para o Capitão voltar a frequentar o mundo do futebol, mas como treinador. Numa decisão ousada na época, o Flamengo, em crise na tabela do Brasileirão, convidou Carlos Alberto para ser o técnico.

O time tinha sido campeão em 1982, mas passava por mau momento naquele período. O Capita assumiu a equipe e a levou a uma reação na tabela rumo ao tricampeonato brasileiro, na final sobre o Santos, vencida por 3 a 0, num Maracanã com mais de 150 mil pessoas.

Depoimento

"Fico triste com a morte do meu amigo irmão Carlos Alberto, nosso querido "Capita", lembrando dos tempos que estivemos juntos no Santos, na Seleção Brasileira e no Cosmos

Pelé (estrela da seleção em 1970)

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“Perdi, meu capitão. Eu soube agora. Momento triste, lamentável. Notícia que me pegou de surpresa. Uma pessoa incrível. Deus sabe o que faz. Eu nunca vou esquecer do meu eterno capitão.

Rivelino (ponta-esquerda titular em 1970)

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"Recebi a notícia, como todo mundo, uma coisa estranha porque eu chegava na rádio e recebo essa notícia. Eu vi o Carlos Alberto domingo, na televisão, porque eu o acompanha.

Gerson (meio-campista da seleção em 70)

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"Foi o melhor que eu vi na posição. Nos falávamos regularmente por telefone. Era um amigão. Ele sabia conduzir um time. Tinha personalidade nos momentos difíceis. Era completo"

Edu (ex-ponta esquerda e reserva em 1970)

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"Estou chocado. Ele era maravilhoso. O título em 1970 teve participação direta dele. Era um líder para todos. Enorme personalidade. Que Deus o tenha"

Zé Maria (reserva do Capita na Copa de 70

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"Eu pensei que o capitão em 1970 seria o Gérson, mas foi o Carlos Alberto. Naquele momento, a gente estava brigado e eu não queria que ele fosse capitão. Nós reatamos nossa amizade.

Dadá Maravilha (reserva na Copa de 1970

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"Foram muitos anos de convivência. Quando comecei, ele foi um dos responsáveis pela minha ida para o Santos. Tinha 16 anos, em 1966, quando o Santos foi jogar com o Cruzeiro na Libertadores.

Clodoaldo (companheiro de Capita no Santos e seleção brasileira)

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