Domingo passado recordei o rumoroso e célebre processo da Baronesa de Grajaú, esposa do Barão do mesmo nome, dr. Carlos Fernando Ribeiro, chefe do Partido Conservador, então no comando do governo imperial, tendo como presidente do Conselho de Ministros o Duque de Caxias.
Esse processo não teve somente o inusitado de uma Baronesa sentada no banco dos réus, mas a presença de dois grandes nomes da história e letras maranhenses. Como promotor, tendo a coragem e o talento que lhe dava um prestígio nacional, Celso Magalhães, brilhante orador, precursor dos estudos folclóricos brasileiros, combativo jornalista, publicando obras de teatro, poesia e todos os gêneros literários.
Podemos dizer, também, que no campo das ideias políticas era mais do que um liberal, para ter tintas de esquerda.
A morte do escravo Inocêncio foi sendo divulgada na cidade e a acusação recaiu sobre a Baronesa, mulher tida como violenta. Celso Magalhães, promotor público, rompendo todas as prudências e medos, resolveu levar avante a apuração dos fatos e a Baronesa a júri. Ela teve de comparecer ao tribunal, mas foi acompanhada das esposas, vestidas de preto, dos chefes do partido do Barão, seu marido.
Também a defesa da acusada foi ilustre: o doutor Paula Duarte, grande orador e advogado, tido com um dos grandes juristas não só do Maranhão, como do país. Paula Duarte era ligado a movimentos populares e, proclamada a República, foi membro da Junta Governativa Maranhense.
Outro ponto a destacar entre os personagens envolvidos e que deram grande realce ao processo foi o médico que deu o atestado de óbito do escravo Inocêncio, dr. Santos Jacynto, o maior médico do Maranhão daquele tempo, que afirmou ter a vítima morrido não de sevícias, mas de morte natural.
Esse episódio marca a figura de Celso Magalhães. Logo em seguida, o Barão de Grajaú torna-se presidente interino da Província e Celso Magalhães é demitido do cargo. Em breve, contrai tuberculose, vindo a morrer muito cedo, reconhecido e reverenciado como um grande intelectual e homem de ação, de coragem e bravura, que ajudou a causa da Abolição.
São episódios de nossa história e volto a eles sobretudo para realçar Celso Magalhães, que no meu artigo passado merecia um tratamento maior e claro sobre o que representou nesse episódio, que inspirou Josué a escrever o seu maior romance, o romance da escravidão.
Li outro dia que este processo, raridade histórica, está no Ministério Público. Meu medo é que se perca na sucessão dos que ali passam. Seu lugar certo é o Arquivo Público e faço um apelo aos responsáveis que enriqueçam essa instituição entregando-lhe a guarda dessa marca do grande desempenho do Ministério Público do Maranhão.
José Sarney
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