Negociações

Reunião termina sem acordo sobre a Síria; país vive novos combates

Potências mundiais tentam negociar paz e transição no país em guerra; reunião não conseguiu fixar data nem reforçar o instável cessar-fogo; nas últimas semanas, esses confrontos deixaram 500 combatentes e uma dezena de civis mortos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

Viena - O Grupo Internacional de Apoio à Síria (GISS), dirigido por Estados Unidos e Rússia, não conseguiu nenhum avanço ontem em Viena sobre a paz no país, onde combates entre facções rebeldes deixaram dezenas de mortos perto de Damasco.

As potências mundiais e países vizinhos da Síria, reunidos para tentar relançar as negociações para uma eventual transição política, não conseguiram fixar uma data nem reforçar o instável cessar-fogo entre o regime de Bashar al-Assad e grupos insurgentes.

Em terra, ao menos 50 combatentes e dois civis morreram nesta terça-feira em confrontos entre grupos rebeldes no leste de Damasco, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Os combates não param há três semanas na Ghuta Oriental, o reduto mais importante da rebelião na província de Damasco, entre o influente grupo de inspiração salafista Jaish al-Islam e as facções dirigidas pelo braço local da Al-Qaeda, a Frente al-Nosra.

Nas últimas semanas, esses confrontos deixaram 500 combatentes e uma dezena de civis mortos, segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. "É uma verdadeira luta pelo poder" entre as duas facções, indicou Rahman à AFP.

Cessar-fogo 'crível'
Em Viena, o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, afirmou que não voltará a convidar o regime de Assad nem a oposição para novas negociações enquanto não houver um cessar-fogo "crível".

Já o secretário de Estado americano, John Kerry, declarou que o GISS concordou em dizer que poderia haver consequências para as partes que violarem a trégua e prometeu manter a pressão sobre Assad.

Seu colega russo, Serguei Lavrov, reiterou a posição da Rússia de apoiar o exército do regime em sua luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que controla extensas áreas do país.

Os três objetivos fixados pela diplomacia americana para essa reunião eram "consolidar o fim das hostilidades (...), garantir um acesso humanitário a todo o país e acelerar a transição política".

O terceiro ponto é o que segue levantando maiores obstáculos. O mapa do caminho dos negociadores prevê colocar em andamento a partir de 1º de agosto um órgão sírio de transição política previsto também por uma resolução da ONU, mas muitos observadores acham difícil que este prazo seja cumprido.

Segundo um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado, a coalizão da oposição síria está mais aberta a diferentes modalidades de negociação, enquanto o regime de Damasco, que apoia oficialmente as negociações, ainda não se comprometeu.

Destino de Assad
O destino do presidente Bashar al-Assad é a questão-chave que opõe as potências mundiais e regionais do GISS, um grupo formado por 17 países (entre eles Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita e Irã) e três organizações internacionais, incluindo a União Europeia.

"Não há um futuro sustentável para a Síria com Assad", afirmou o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, ao chegar a Viena. "É por isso que devemos discutir, sob os auspícios da ONU, as modalidades de um governo de transição e colocar as coisas na direção certa".

Rússia e Irã são favoráveis ao esforço diplomático do GISS, mas ao mesmo tempo continuam sendo um apoio decisivo do regime sírio em terra.

Na Síria, a trégua entre o regime e os rebeldes instaurada no fim de fevereiro sob os auspícios de Washington e Moscou foi violada em diversas ocasiões em várias regiões do país.

Na noite de segunda-feira, ao menos três civis, incluindo uma mãe e sua filha, morreram em um novo bombardeio do regime sobre o bairro rebelde de Sukari, na cidade de Aleppo, onde o último cessar-fogo acordado expirou na última quinta-feira.

Na província de Idleb (noroeste), controlada em grande parte pela Frente Al-Nosra, oito civis morreram em bombardeios do regime.

Frase

"Não há um futuro sustentável para a Síria com Assad"

Frank-Walter Steinmeier

Ministro alemão das Relações Exteriores,

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