Argentina

Nos 40 anos do golpe na Argentina, Obama anuncia abertura de arquivos

Documentos militares e de agências de inteligência serão divulgados; presidente disse que EUA foram ''lentos para falar sobre direitos humanos''

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49

Buenos Aires - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem que o seu governo vai tornar públicos documentos militares e de agências de inteligência do país relacionados à ditadura militar da Argentina. Em visita ao país latinoamericano, ele fez uma homenagem às vítimas em visita ao Parque de la Memoria no dia em que o golpe militar faz 40 anos.

Em entrevista coletiva, ao lado do colega argentino, Mauricio Macri, ele admitiu que "há controvérsias sobre as políticas dos Estados Unidos no início destes tempos sombrios", segundo a Reuteurs. "Democracias precisam ter coragem para reconhecer quando não cumprem os ideais que representam, e fomos lentos em falar sobre direitos humanos, e foi o caso aqui". Ele ainda afirmou que os "Estados Unidos têm que analisar esse passado”, de acordo com o jornal El Clarín.

Grupos de direitos humanos pressionavam havia anos por essa liberação. Autoridades governamentais já tinham afirmado à Reuters que a liberação de documentos vai incluir registros de agências de segurança dos EUA, dos departamentos de Defesa e de Estado, e das bibliotecas presidenciais no Arquivo Nacional.

Durante a ditadura militar da Argentina, que vigorou entre 1976 e1983, os opositores de esquerda foram reprimidos.

Nas semanas que precederam à chegada do presidente dos EUA, a atenção da Argentina esteve para esse doloroso capítulo de seu passado – e questões sem resposta sobre a relação dosEstados Unidos com uma das mais repressivas ditaduras militares da história da América Latina, de acordo com a Associated Press.

“A ditadura ainda é um tema muito presente” na sociedade argentina, diz Roberto Bacman, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública, uma empresa sul americana de pesquisas. “A visita (de Obama) irá trazer alguns aspectos obscuros do passado”.

Grupos prometeram protestar em Buenos Aires e Bariloche, cidade turística na qual Obama deveria passar parte da quinta-feira. Eles afirmam que durante a Guerra Fria os EUA apoiaram ditaduras, incluindo a da Argentina, e que, portanto, a presença de um líder americano é desrespeitosa às famílias dos milhares que morreram ou desapareceram.

Mesmo sem a visita, lembranças do regime militar entre 1976 e 1983 assombram o país, influenciando ideologias políticas e alimentando debates sobre o país dever ou não continuar gastando milhões de dólares todos os anos processando antigos protagonistas da guerra suja e buscando restos mortais dos desaparecidos.

Grupos de direitos humanos estimam que cerca de 30 mil pessoas morreram ou desapareceram, embora as estimativas oficiais sejam de 13 mil.

Documentos secretos
Em 2002, os EUA divulgaram mais de 4 mil documentos do Departamento de Estado daquele período, mas eles proporcionaram mais dúvidas do que respostas. Por exemplo, anotações de um encontro em 1976 entre o secretário de estado Henry Kissinger e o ministro de relações exteriores argentino pareciam indicar que Kissinger aprovava a repressão a dissidentes. “Se há coisas que precisam ser feitas, vocês devem fazê-las rapidamente”, disse Kissinger, segundo uma transcrição.

[Manifestantes protestam contra a visita de Barack Obama em frente à embaixada dos EUA em Buenos Aires, na quarta (23) (Foto: Reuters/Martin Acosta)] Manifestantes protestam contra a visita de Barack Obama em frente à embaixada dos EUA em Buenos Aires, na quarta (23) (Foto: Reuters/Martin Acosta)

Carlos Osorio, diretor do projeto de documentação do Cone Sul do não-governamental Arquivo de Segurança Nacional, em Washington, diz que os documentos certamente terão muito mais informações sobre o que os EUA sabiam, quando ficaram sabendo e se colaboraram para a repressão.

“É importante para os argentinos, e os parentes das vítimas serão implacáveis” em tentar conseguir informações, disse. “É importante que os EUA estendam sua mão e reconheçam o que fizeram”.

Grupos de direitos humanos não chegaram ao ponto de dizer que Obama é agora bem-vindo, mas celebraram a decisão de liberar os documentos.

“Esse é um grande gesto às vésperas da visita ao nosso país”, disse o grupo Avós da Praça de Maio em um comunicado. “Os Estados Unidos demonstraram sua disposição em responder aos parentes e vítimas dos crimes cometidos pela ditadura”

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