Vida de Estudante

Para muitos estudantes, chegar à escola ainda é um desafio

Estudando em escolas que ficam longe das localidades em que moram, alunos da rede pública precisam cumprir rotinas cansativas para não perder aula

Jock Dean/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h53

Educação é direito garantido a todo cidadão. Mas, para ter acesso a este direito, muitos alunos precisam superar dificuldades, esperar por horas e até percorrer quilômetros em condições muitas vezes precárias na busca pelo conhecimento. E em São Luís, para muitos estudantes, ir à escola é um desafio diário, pois, além das dificuldades de deslocamento eles temem os perigos ao longo do percurso, como a violência urbana ou até mesmo as imprudências de condutores que não respeitam as leis de trânsito.

Na quinta-feira, dia 19, O Estado trafegava pela BR-135 quando encontrou as amigas Cileide da Luz de Sousa Costa, 14 anos; Jeysa Silva Marques, 14 anos, moradoras da Piçarreira, e Kellyane dos Santos Bispo, 16 anos, moradora do Inhaúma. As três são estudantes do 9º ano do Centro de Ensino Salim Braide, escola estadual do bairro Estiva, zona rural de São Luís.

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Pelo acostamento
As três caminhavam sob o sol escaldante do meio-dia pelo acostamento da rodovia, voltando para casa, depois da manhã de estudos na escola, que fica após o Km-20 da rodovia que, no trecho urbano de São Luís, tem 23 quilômetros de extensão. “Nós não temos transporte escolar para nossa escola. Então, a gente vai e volta andando todos os dias”, disse Kellyane dos Santos Bispo, que caminha uma hora todos os dias para ir à escola e mais uma hora no caminho de volta.

Outra opção das estudantes seria pegar o transporte urbano, mas elas esbarram em outro problema: a escassez de linhas. “Por aqui, só passa um ônibus, Estiva, mas ele só passa pela BR-135, não entra em nossos bairros, então, a gente teria de caminhar da nossa casa até a BR ou pegar a linha do nosso bairro para o terminal, mas não temos como pagar a passagem todos os dias”, afirmou Cileide da Luz de Sousa Costa. O valor da tarifa da linha é R$ 2,60.

Então, a única saída das estudantes é se arriscar pela rodovia. “Já teve vez de a gente ter de correr para não sermos atropeladas por um caminhão que saiu da pista e entrou de vez no acostamento. Além disso, a gente fica com medo de assalto. Mas o maior perigo mesmo são os carros, pois, como aqui é rodovia, eles passam em alta velocidade”, comentou Jeysa Silva Marques.

“Tudo o que eu mais queria era um ônibus para levar a gente para a escola. É o meu sonho”Jeysa Silva Marques, aluna do 9º ano da Centro de Ensino Salim Braide, escola estadual do bairro Estiva, zona rural

Já na sexta-feira, dia 20, eram as amigas Karla Mariana Feitosa, 16 anos, e Alice Pereira Mendes, 16 anos, que caminhavam pelo acostamento da BR-135, a caminho da escola. Só que o trajeto delas é bem mais longo do que o das alunas do Centro de Ensino Salim Braide. Moradoras do Maracanã, elas são estudantes do Centro Integrado do Rio Anil (Cintra), escola do ensino médio da rede estadual, localizada no Anil. “A gente caminha de casa até o ponto de ônibus, pegamos o transporte para o terminal e lá pegamos um ônibus para o Anil”, disse Karla Mariana Feitosa, cuja família precisa arcar mensalmente com R$ 104,00 para passagem de ônibus da estudante.

Basta transitar pela BR-135 nos horários de início e saída das aulas que é possível ver dezenas de estudantes das redes públicas municipal ou estadual caminhando sozinhos, em dupla ou em grupos, de bicicleta a caminho da escola ou voltando para casa.

Transporte digno
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou que o Governo do Estado instituiu, por intermédio da Lei 10.231, de 24 de abril deste ano, o Programa Estadual de Apoio ao Transporte Escolar no Estado do Maranhão (Peate/MA), que visa garantir transporte digno e com segurança aos estudantes maranhenses. O programa transfere recursos financeiros, em caráter complementar ao repasse do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (FNDE/MEC) aos municípios, para que realizem, nos seus respectivos territórios, o atendimento a estudantes do ensino médio, residentes no meio rural em todos os 217 municípios maranhenses, conforme dados Censo Escolar do Inep/MEC, relativos ao ano anterior.

Ainda segundo a Seduc, o Peate é regulamentado pelo Decreto N.º 30.796, de 26 de maio de 2015, que estabelece critérios e normas de transferência de recursos financeiros, bem como a oferta do transporte que precisa ser feita por veículo ou embarcação, certificados com Registro de Veículo ou Registro de Propriedade da Embarcação em nome do município e apresentar-se devidamente regularizado junto ao órgão competente.

NÚMEROS
626 escolas
estaduais têm transporte escolar

55.130 alunos não têm o direito atendido

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